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quarta-feira, 31 de março de 2010

Em uma palavra [9]

NENHURES
subst. Em lugar nenhum. Formado por comparação entre alhures [em outro lugar] e nenhum. Exemplos: “Ele perdera as chaves; não as encontrava nenhures.”; “Sem escolhas, partiu para nenhures.”; “Uma ponte que liga alhures a nenhures.”
Eu sempre procurei uma palavra que fosse o equivalente ao inglês “nowhere”. Se fosse seguir o exemplo gringo, deveria ser algo como “nem-onde”, mas isso seria muito estranho. Então eu “inventei” nenhures, exatamente por comparação com alhures. Qual não foi minha surpresa ao consultar o Aurélio e perceber que a minha ideia já existia há muito tempo.

O Paradoxo do Livro sobre a Mesa

Temos aqui um livro sobre a mesa. Abra-o. Observe a primeira página; meça sua espessura. É, aliás, bastante espessa para uma única folha de papel - meia polegada [pouco mais de 1 cm] de espessura. Agora, vá para a segunda página do livro. Quão espessa é essa segunda folha de papel? Um quarto de polegada. E a terceira página, quão espessa será essa terceira folha de papel? Um oitavo de polegada, etc., ad infinitum. Nós devemos supor não apenas que cada página do livro é seguida por um sucessor imediato com metade de sua espessura, mas também — e isso não é irrelevante — que cada página é separada da página 1 por um número finito de outras páginas. Essas duas condições são logicamente compatíveis; não há contradição verificável em sua afirmação conjunta. Mas ambas implicam, mutuamente, que o livro não tem a última página. Feche o livro. Vire-o de cabeça para baixo, apoiando a primeira capa na mesa. Agora, lentamente, levante a quarta capa do livro, e procure expor à vista a pilha de páginas que há sob a capa. Não há nada para ver. Pois não há nenhuma última página no livro para alcançar nossa vista.

— Patrick Hughes e George Brecht, Vicious Circles and Infinity [Ciclos Viciosos e Infinidade], 1978

Ei, se o livro não tem a última página, como pode ter a penúltima? E a antepenúltima? E também, assim por diante, ad infinitum, não sobraria nenhuma página. Será mesmo um livro ou só uma capa solta?

Talvez o erro deste paradoxo seja assumir que as condições iniciais sempre se repetem ad infinitum. Mesmo assim, é o paradoxo mais contraditório que encontrei até agora.

terça-feira, 30 de março de 2010

Lição de Casa

Shizuo_KakutaniUm dia, enquanto dava uma aula para uma classe na Universidade Yale, Shizuo  Kakutani (1911-2004) escreveu uma equação no quadro-negro e afirmou que a prova era óbvia. Timidamente, um estudante levantou a mão e disse que aquilo não era óbvio para ele. Kakutani olhou para a equação por um momento e percebeu que ele também não poderia prová-la sozinho. Ele pediu desculpas e prometeu trazer a resposta para a classe na próxima aula.

Após a aula ele foi direto para seu escritório e passou mais algum tempo trabalhando em busca da prova. Depois de não conseguir nenhum resultado, ele passou o horário de almoço na biblioteca, e achou o artigo onde a equação aparecia originalmente. A equação estava inteirinha lá, mas a prova era deixada como “um exercício para o leitor.”

O matemático que escreveu o artigo era o próprio Shizuo Kakutani.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Posição de missionário

Temendo ser responsabilizados por conivência, os líderes da Igreja Católica resolveram apresentar suas posições em relação aos crescentes casos de pedofilia na Europa e nos Estados Unidos. As posições do clero em relação aos abusos sexuais de menores são as seguintes:

posições

Realmente, as posições apresentadas não deixam dúvidas quanto às ações enérgicas e moralizadoras que o papa vai tomar — depois, é claro, que ele terminar sua catequese sobre “dar e receber” para os coroinhas.

domingo, 28 de março de 2010

"Dez dias que abalaram o mundo"

10 diasO livro do jornalista norte-americano John Reed é considerado um dos primeiros livros-reportagem da história. Embora o título fale em Dez dias que abalaram o mundo (edição fac-similar da Record, 1967), o livro é uma cobertura das primeiras semanas da Revolução de Outubro de 1917, que acabaria implantando o regime soviético na Rússia.

Pelas páginas do livro desfilam Vladimir Ilyitch Ulianov, o Lênin, Leon Trotsky e, de maneira bastante discreta, Ióssif Vissariónovich Djugashvíli, o futuro Stálin. Os líderes do Governo Provisório, Alexander Kerensky, o premiê derrubado, e Levr Kornilov, um militar que tentara fortalecer o governo provisório com um golpe, são demonizados com a pecha de “anti-revolucionários”.


sexta-feira, 26 de março de 2010

Em câmera lenta

Em 1876, o advogado londrino Charles Bravo levou três dias para morrer de envenenamento por antimônio. Mesmo assim, ele recusou-se a dizer quem tinha sido o responsável pelo crime ou qual poderia ser o motivo.

Um inquérito concluiu que era um crime premeditado. E só. Ninguém foi condenado, muito menos preso. Até hoje não se sabe que matou o Dr. Bravo.

"Mantenha à Direita!"


Exatamente às 4h50 da manhã de 3 de setembro de 1967, todo carro na Suécia parou. Depois de parar, moveu-se cuidadosamente da faixa esquerda para a direita da pista e prosseguiu a partir das 5 da manhã.

O país inteiro fez a conversão para o sistema continental de direção durante a noite. Até então, a Suécia seguia a Inglaterra e dirigia pela esquerda.

Para o imenso crédito dos responsáveis pelo trânsito sueco, nenhum acidente fatal foi causado pela grande mudança no modo de dirigir. Aliás, as taxas de acidente diminuíram no ano seguinte.

quinta-feira, 25 de março de 2010

A Lei dos Epônimos de Stigler

A estranha Lei dos Epônimos de Stigler afirma que "nenhuma descoberta científica é batizada com o nome de seu descobridor original." Vejamos alguns exemplos:
  • Numerais Arábicos foram inventados na Índia
  • A Gripe Espanhola começou nos Estados Unidos
  • Freeman Dyson credita a idéia da Esfera de Dyson a Olaf Stapledon
  • A Salmonella foi descoberta por Theobald Smith mas nomeada após Daniel Elmer Salmon
  • Copérnico propôs a Lei de Gresham
  • William Brounker resolveu a Equação de Pell
  • Os Números de Euller foram descobertos por Jacob Bernoulli e a Fórmula de Euller foi descoberta por Roger Cotes
  • A Regra de Ouro de Fermi foi descoberta por Paul Dirac
  • O Conjunto de Mendelbrot foi descoberto por Pierre Fatou e Gaston Julia
  • A Distribuição Gaussiana foi idéia de Abraham de Moivre
  • Charles Wheatstone inventou a cifra de Playfair, mas a Ponte de Wheatstone, um tipo de circuito elétrico, foi inventada por Samuel Hunter Christie
Stephen Stigler, professor de estatística da Universidade de Chicago, apresentou sua Lei dos Epônimos em 1980. Para não fugir da própria regra, ele a atribui ao sociólogo Robert Merton.

domingo, 21 de março de 2010

A morte de Glauco e a hipocrisia narcótico-religiosa

O assassinato do cartunista Glauco Vilas Boas e de seu filho, Raoni, no último dia 12 chocou o país. Mas pouca gente parece preocupada com o fato de que a morte de Glauco é mais uma de uma série histórica de assassinatos em nome de deus.  Carlos Eduardo Sundfeld Nunes (Cadu), o assassino, era um fanático toxicômano que se considerava Jesus Cristo e queria provar sua cristandade para a mãe. Ainda que o homicida possa ter cometido o crime sobre efeito de drogas — talvez até a ayahuasca do Santo Daime — isso não tira a religião da história. E a mistura de religião com drogas legais e ilegais é polêmica, mas a religião, mesmo quando usa drogas, é sempre protegida.

sábado, 20 de março de 2010

Verdade inconsistente

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[Bertrand] Russell disse certa vez, durante um jantar: “Ah, é inútil falar sobre coisas inconsistentes, pois a partir de uma proposição inconsistente você pode provar o que quiser.” Bem, é muito fácil demonstrar isso matematicamente. Mas, como de costume, Russell era muito mais simpático do que isso. Alguém que estava à mesa disse: “Ora, vamos!” Ele disse: “Bem, diga-me uma proposição inconsistente” e o homem: “Bem, digamos que seja 2=1.” “Certo,” disse Russell, “o que você quer que eu prove?” E o homem: “Quero que você me prove que é o papa.” “Por que”, respondeu Russell, “o papa e eu somos dois, mas dois é igual a um; portanto o papa e eu somos um.”
— Jacob Bronowski, The Origins of Knowledge and Imagination [As origens do conhecimento e da imaginação], 1979
Seja verdade ou não, esse tipo de lógica apresentada por Russell durante um jantar é bastante conhecido por políticos e líderes religiosos. Diante de mentiras — formalmente chamadas de proposições inconsistentes —, eles são sempre capazes de aparecer com coisas que parecem verdadeiras, mas não são.

imagem original do Bule Voador, que tem uma série em homenagem a Russell

sexta-feira, 19 de março de 2010

Nobres Canhões

Um cavalheiro sentou-se em uma das mesas em companhia do velho Lorde North, sem saber da nobreza deste. O cavalheiro entabulou uma conversa com ele e, ao ver duas senhoras sentando-se numa mesa do outro lado, comentou: “Senhor, vosmecê poderia me informar quem é aquela mulher feia que acabou de entrar?” “Oh,” — respodeu o lorde, com grande humor — “aquela é minha esposa.” “Senhor, peço-lhe dez mil perdões; eu me referia àquele monstro chocante que está com ela.” “Aquela” — respodeu o lorde — “é minha filha.”

— M. Lafayette Byrn, The Repository of Wit and Humor [O Repositório da Graça e do Humor], 1853.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Em uma palavra [8]

brefofagista
subst. alguém que come bebês.
Eis uma palavra que seria muito útil aos ultra-direitistas na hora de descrever os comunistas: "Cuidado com esses comunistas — eles são uns verdadeiros brefofagistas!"

terça-feira, 16 de março de 2010

De novo, de novo

Em dezembro de 1895, o engenheiro de minas norueguês Adolph Beck saiu de seu apartamento em Londres e foi abordado por uma mulher que acusava-o de roubar-lhe as jóias. Beck protestou, alegando inocência — ele estava em Buenos Aires quando o crime ocorreu —, mas a polícia acusou-o de uma série de furtos do mesmo tipo e ele foi condenado judicialmente a sete anos de trabalhos forçados.

Ele foi posto em liberdade condicional em Julho de 1901 e a mesma coisa aconteceu de novo: uma mulher acusou-o de roubo de jóias, ele foi preso e julgado por um júri que o considerou culpado. Beck só foi salvo por que outro homem foi preso pelo mesmo crime durante seu segundo julgamento. O verdadeiro ladrão de jóias era, como se descobriu, Wilhelm Meyer. O engenheiro tinha sido condenado duas vezes por crimes que ele nunca cometeu.

Adolph Beck ganhou a liberdade e 5.000 libras [cerca de 14.000 reais em valores de hoje] de indenização. Mas o estrago já estava feito. Desiludido e isolado da sociedade, Beck tornou-se um homem amargo, que morreu poucos anos mais tarde, em 1909.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Com certeza ou fala sério?

Falando em Einstein, é fácil se lembrar de sua maior contribuição, a Relatividade. E a Relatividade é mesmo uma coisa muito estranha. Ela pode ser aplicada a si mesma ou não.

Em caso positivo, então a própria Relatividade é apenas mais uma verdade relativa.

Em caso negativo, tem-se que a Relatividade é uma verdade absoluta. Só que verdades absolutas não existem.

domingo, 14 de março de 2010

[Pi Day] - Gênio doméstico

Albert Einstein (que faria aniversário hoje, no dia do pi) é famoso por sua genialidade na Física e na Matemática. Entretanto, pouca gente se lembra que ele foi casado — e duas vezes. Eis uma cena de seu segundo casamento:
Numa manhã nublada, Einstein estava de saída de sua casa em Princeton, quando a Sra. Einstein aconselhou-o a levar um chapéu.
Einstein, que raramente usava um chapéu, recusou-se.
“Mas pode chover!”, advertiu a Sra. Einstein.
“E daí?”, repondeu ele, “Meu cabelo vai secar mais rápido que meu chapéu.”
— Howard Whitley Eves, In Mathematical Circles: Quadrants III and IV [Dentro dos Círculos Matemáticos: Quadrantes III e IV], 1969
einstein-hatIsso faz Einstein parecer genial até mesmo na vida doméstica, apesar de seus dois casamentos terem sido tão mal-sucedidos quanto sua busca por uma Grande Teoria Unificada (Teoria de Tudo). Mas é provável que a maioria dos homens não tivesse esse pensamento tão rápido no meio de uma discussão com uma mulher. A pequena discórdia do casal Einstein é um dos poucos casos em que o homem termina com a razão. (Ou não, como pode mostrar esta foto de Albert Einstein com chapéu)

sábado, 13 de março de 2010

Bonitinha, mas inteligente

Ela foi considerada a mulher mais bela da Europa nos anos 30 e 40 e foi uma verdadeira diva do cinema. Mas as pessoas só enxegavam sua beleza exterior e poucos deram importância às suas contribuições tecnológicas. Mesmo nos dias de hoje ela é lembrada mais por sua beleza do que por sua inteligência. Nascida na Áustria, Hedwig Eva Maria Kieler ficou conhecida por seu nome artístico: Hedy Lemarr.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Conflitos Esquecidos [4] — Operação Flocos de Milho

Mesmo alguns aspectos do maior e mais lembrado de todos os conflitos acabam sendo esquecidos. Ainda mais se forem operações secretas. A Operação Flocos de Milho (Operation Cornflakes) foi uma ação de guerra psicológica realizada entre 1944 e 1945. O objetivo da ação era entregar cartas com propaganda anti-nazista através do próprio serviço postal alemão (Deutsche Reichspost).

A operação era simples: trens do serviço postal eram bombardeados. Em seguida, malas postais com cartas devidamente endereçadas e seladas — mas contendo propaganda anti-nazista — eram lançadas de aviões e espalhadas entre os destroços. Esperava-se que o serviço postal misturasse as cartas reais com as falsas e entregasse ambas corretamente.
Futsches-Reich-Briefmarke-UK 
As cartas traziam cópias de Das Neue Deutschland (A Nova Alemanha), panfleto  de proganda aliado escrito em alemão. Além disso, alguns dos selos usados também eram falsos. Eles eram muito parecidos com o selo-padrão, que trazia a efígie de Adolf Hitler. Um olhar mais atento, porém, revelava que a efígie do Führer era um crânio semi-exposto. E em lugar da inscrição "Deutsches Reich" [Império Alemão], lia-se "Futsches Reich" [Império em Colapso].

A primeira missão da Operação Flocos de Milho ocorreu em 5 de Fevereiro de 1945 e foi um sucesso. Um trem postal foi bombardeado a caminho de Linz, na Áutria. Malas postais com cerca de 3800 cartas falsas foram plantadas nos destroços. Todas foram recolhidas e entregues pelo Deutsche Reichspost.

domingo, 7 de março de 2010

Contradições Bíblicas — Matusalém e o dilúvio

 O Dilúvio, segundo o ilustrador francês Gustave Doré

Em De Civitate Dei [A Cidade de Deus], Santo Agostinho levanta uma importante questão bíblica: Como Matusalém sobreviveu ao dilúvio? De acordo com a Septuaginta, versão grega da Bíblia, o patriarca já era bem velho quando Noé nasceu; tinha 355 anos de idade. O dilúvio aconteceu 600 anos mais tarde. Portanto, Matusalém ainda estava vivo, com 955 anos, quando o céu desabou — e ele viveu mais 14 anos, falecendo aos 969 anos. Só que Matusalém não estava na arca de Noé e a hecatombe pluviométrica matou todos os demais seres vivos — entre os quais, segundo os criacionistas, encontravam-se também os dinossauros.

Então, como é que Matusalém sobreviveu? Nunca houve uma resposta oficial dessa "celebrada questão que tem sido publicamente divulgada por todas as igrejas", nas palavras de S. Jerônimo. Em vez disso, culparam (e talvez condenaram à danação eterna) os tradutores gregos pelo erro bíblico. Textos mais recentes, baseados diretamente dos manuscritos hebraicos massoréticos relatam que Matusalém morreu no ano do dilúvio.

sábado, 6 de março de 2010

O que veio "antes" do Big Bang? — Uma nova teoria

Neil Turok, da Universidade de Cambridge e Paul Steihardt, diretor do Centro de Ciência Teórica da Universidade de Princeton dizem que têm a resposta. Os dois são defensores da teoria das cordas, segundo a qual existem diversos universos paralelos e múltiplas dimensões.

Os dois professores acreditam que o cosmos em que vivemos foi na verdade criado por uma colisão cíclica de dois outros universos — que eles definem como branas tridimensionais dotadas de tempo. Uma brana é algo mais ou menos parecido com um lençol estendido. Os dois outros universos atraíram-se mutuamente por causa da gravidade que "vazou" de um deles. O ciclo de encontro entre esses universos paralelos seria de trilhões de anos, muito mais tempo que o decorrido desde o Big Bang (que seria apenas o mais recente dentre muitos que ocorreram anteriormente). 

sexta-feira, 5 de março de 2010

A Lista de Sindler

Irving Sindler (1897-1990) nunca foi um ator, mas encontrou um jeito de aparecer em filmes de Hollywood. Sindler era cenógrafo-chefe do estúdio de Sam Goldwyn (1879-1974) e resolveu que seu nome apareceria em todos os filmes em que ele trabalhasse.

Ele começou pintando o próprio nome num armazém cenográfico da comédia muda Little Annie Roony (1925). Com o passar do tempo, Sindler passou a ser um nome engenhosamente inserido em etiquetas de garrafas, papéis e fachadas de lojas e indústrias do mundo do cinema. Ele até convenceu um chinês a traduzir seu nome para colocá-lo em Marco Polo

sindler

Acima, à esquerda, Sindler e um caminhão da “Sindler & Son Transfer Co.”, transportadora inventada para o filme The Restless Age. À direita, o epitáfio que Sindler criou para si mesmo — trata-se, evidentemente, de um epitáfio para o filme Wuthering Heights [O morro dos ventos uivantes]. Realmente, “Ele era um homem muito bom”, de muito bom humor.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Deu branco no dead-line

Em jornalismo (e em outras áreas da comunicação), dead-line é o prazo final para entrega de uma matéria ou fechamento de uma edição. Eventualmente, pode haver um estouro no dead-line por alguma notícia urgente ou por excesso de matérias para editar.

Não foi este o caso de um jornal inglês da era vitoriana que se viu obrigado a cobrir um espaço em branco com algo que nem existia:

Uma farsa que não enganou os sábios, mas que quebrou-lhes a cabeça, foi a que ficou conhecida como falso Dutch Mail [Correio Holandês]. Há uns cinquenta anos, um artigo apareceu no Leicester Herald, um jornal de província inglês. Sob o título “The Dutch Mail” anunciava-se que o artigo chegara muito atrasado para ser traduzido e que havia sido montado e impresso no original. O artigo atraiu muita atenção e muitos estudiosos do Holandês correram para a imprensa dizer que aquilo não estava em nenhum dialeto que eles conhecessem. Finalmente, descobriu-se a farsa. Sir Richard Phillips, o editor do jornal, recentemente contou a história de como a peça foi concebida e executada: “Numa noite, antes da nossa publicação, meus homens e um garoto colocaram de cabeça para baixo os tipos de duas ou três colunas do jornal. Nós tinhamos que aprontar tudo de algum modo, pois os coches, às quatro da manhã, recolhiam quatro ou cinco centenas de exemplares [para entregar]. Após todos os esforços, nos faltava quase uma coluna, mas havia uma tentadora coluna de 'pi' [letras misturadas] na galeria. Subitamente, invadiu-me a ideia de que aquilo poderia passar por Holandês. Eu montei a coluna e passei por cima dos escrúpulos do chefe da oficina. Então, a edição saiu com seu quebra-cabeça filológico para aborrecer as mentes dos honestos leitores agrícolas. Não havia muito tempo para fazer uma coluna em Inglês pleno para a edição local”. Sir Richard encontrou um homem em Nottingham que, durante trinta anos, preservou uma cópia do Leicester Herald à espera de que um dia a carta fosse explicada.

Lippincott’s Monthly Magazine, Setembro de 1888

quarta-feira, 3 de março de 2010

Um aeroporto no meio de Londres

Londres vai construir um aeroporto no meio da cidade. Pode parecer uma loucura, mas essa ideia foi apresentada seriamente por um arquiteto — só que no começo dos anos 30. Ainda que a aviação comercial estivesse apenas engatinhando, já dava pra perceber que um terminal de transporte aéreo no centro da cidade e com ligações intermodais com linhas de ônibus e de trem (talvez até de metrô) seria uma ótima ideia. E a ideia só não decolou por que, afinal, era mesmo uma loucura.

London Central Airportjpg
O projeto do aeroporto urbano de Londes: quatro pistas e um anel de acesso construídos sobre diversos prédios (hangares) e ruas. Entre os prédios, uma estação de ônibus e uma de trem. [imagem: ilustração de matéria sobre o projeto publicada na revista Modern Mechanics de Setembro de 1931]

Seria razoável construir quatro pistas de pouso em cima de grandes prédios no centro de Londres, a maior metrópole da época? É óbvio que não. Não seria difícil imaginar uma manchete — "Avião sai da pista e cai sobre o trânsito engarrafado da York Road" — relatando o que geralmente não passaria de um acidente sem maiores consequências num aeroporto bem planejado.

Felizmente, o projeto londrino nunca saiu do papel. São Paulo, porém, foi mais ousada. Em vez de levar o aeroporto até a cidade, a cidade foi até o aeroporto num (mau) exemplo de planejamento urbano. Não é à toa que foi em Congonhas, e não em Londres, que um avião derrapou na pista e quase caiu numa das vias mais movimentadas da cidade.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Mercados de Futuro

Nos idos de 1986, o Journal of Portfolio Management, jornal americano especializado em economia, publicou um artigo que à primeira vista parecia estranho para um periódico financeiro. O título era "Viagem no tempo é impossível? Uma prova financeira".

No artigo, o economista californiano Marc Reinganum observa que se alguém tivesse uma máquina do tempo, poderia ter uma grande capacidade de manipulação sobre investimentos e mercados de futuro. Tal pessoa poderia usar seu conhecimento dos fatos futuros para acumular lucros imensos.

Reinganum argumenta que se tal coisa acontecesse em larga escala, as taxas de juro acabariam chegando a zero (e isso seria juro real, e não aquele "juro zero" dessas promoções de fim-de-semana). Portanto, o fato de que ainda temos taxas de juro maiores que zero é uma prova de que viajantes do tempo não existem.

Porém, não se pode confiar muito nas previsões de um economista. Mesmo que a economia seja uma ciência exata, isso não garante mais exatidão em previsões futuristas. São famosos os casos de economistas que previam crescimento estável ou mesmo ilimitado às vésperas de uma crise financeira. Foi assim tanto em 1929 quanto em 2008.

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