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sábado, 31 de julho de 2010

Perde-se a vida, mas não se perde a piada

Nos Estados Unidos, ainda persiste a pena de morte — pelo menos em alguns Estados. Os métodos mudaram ao longo do tempo — forca, fuzilamento, cadeira elétrica, injeção letal — sempre no sentido de "minimizar" o sofrimento do condenado. Ou não.

Mas os condenados, mesmo os piores deles, são seres humanos. E na hora final alguns apresentam um senso de humor incrível, revelado em suas últimas palavras:

  • George Appel (?-1928), condenado à cadeira elétrica por matar um policial em Nova York: "Bem, pessoal, logo vocês vão ver um Appel cozido". Appel aproveitou-se da semelhança fonética entre seu sobrenome e Apple [maçã] para fazer um trocadilho.
  • James W. Rodgers (?-1960) bancou o espertinho quando lhe perguntaram qual seu último desejo antes de ser fuzilado: "Por que? Sim... um colete à prova de balas.". Infelizmente, o último desejo de Rodgers não foi atendido.
  • Frederick Wood (?-1963) deu uma de Appel: "Senhores, vocês estão prestes a ver os efeitos de eletricidade sobre Wood [madeira]"
  • James French (1936?-1966) dirigiu-se aos jornalistas em seus últimos momentos: "Eu tenho uma manchete terrível para vocês nesta manhã: 'French Fries'". French¹ frito ou Batatas fritas? Aqui a gente faz do seu jeito!
  • Jimmy Glass² (1962?-1987) estava mais preocupado: "Eu podia estar pescando". Porra, Glass! Você poderia ter dito "Glass will blow up" [Glass/vidro vai estourar].

Ah, e em 1856, o assassino inglês William Palmer hesitou ao subir no patíbulo e saiu da vida com uma ironia involuntária: "Tem certeza que isso é seguro?"
________________________________
¹ French realmente queria aparecer. Ele já estava em prisão perpétua quando matou um companheiro de cela. Há quem diga que ele queria se matar, mas como não tinha coragem, matou para ser morto pelo Estado. Ou talvez para fazer o trocadilho infame mais caro da história. 

² Glass foi condenado por assassinar um casal após fugir de uma prisão da Louisiana em 1982. Depois de ser condenado à cadeira elétrica, ele ainda tentou recorrer, alegando que a eletrocussão seria inconstitucional por ser uma punição cruel. A Suprema Corte decidiu, por 5 votos a 4, que o método era constitucionalmente válido. Jimmy foi executado após o Governador da Louisiana negar a comutação de pena.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O tédio é o pai da invenção

giradedo

Em julho de 1979, talvez após umas boas horas de tédio, Horace A. Knowles pediu uma patente para um "novo brinquedo que auxilia o usuário no giro de seus polegares." Segundo Knowles, a ideia surgiu por que
Até o momento nenhum equipamento estava disponível ao girador de polegares para auxiliá-lo no procedimento do giro. Para os giradores desprovidos de coordenação suficiente, a incapacidade de girar com sucesso, com os polegares colidindo-se acidentalmente durante o movimento de giro, traz grande frustração adicional ao repouso e à paz de espírito.
Belas palavras, mas isso é uma brincadeira? Digo, é uma brincadeira brincadeira ou uma brincadeira séria, uma sátira para pegar (ou seria pregar?) o pessoal do Escritório de Patentes? Bem, se eles caíram na pegadinha, não perceberam — o Patent Office aprovou o pedido de Knowles. Talvez eles estivessem entediados demais.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Afasta de mim estes bêbedos

bêbedos
Por que o cálice (hic!) já era!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Porra, New York Times!!!!

Depois de uma errata histórica, mais correções memoráveis no New York Times: 
  • "Um artigo sobre cozinha decorativa descreveu incorretamente a apresentação do Pato Selvagem, de Michel Fitoussi, um chef de Nova York. Ao prepará-lo, Mr. Fitoussi usou um pato que já estava morto." (5 de abr., 1981) — Ah vahhh!
  • "Um artigo sobre a queda na colheita de ostras em Long Island informou mal a tradicional regra sobre consumo de ostras. Em qualquer mês sem um 'r' no nome, as ostras devem evitadas, não comidas." (20 de dez., 1998) — Tão relevante quanto evitar o consumo de manga com leite… ¬¬
  • "A legenda de uma foto sobre uma mostra da Star Trek Federation Science errou na identificação de uma figura em uma tela. Era um Klingon, não um Ferengi." (25 de jul., 1993) — Espero que o NYT tenha contratado consultores nerds depois dessa.
  • "Uma matéria sobre primatas e videogames descreveu incorretamente um aspecto da anatomia símia. Macacos não têm polegares opositores." (4 de ago., 1999) — Parece que alguns editores também não têm esse detalhe anatômico.

Por fim, a correção de uma notícia que mudou a vida da Big Apple: "uma legenda, mostrando um palhaço sentado em um vagão de metrô, errou a localidade. Ele estava em um trem E na Estação Lexington Avenue em Manhattan, e não em um trem G na Estação Bergen Street no Brooklin." (20 de fev., 2000).

terça-feira, 27 de julho de 2010

Em uma palavra [16]

Vespertilionizar
[de vespertilio, morcego em latim] v. transformar-se em um morcego; amorcegar-se. "Bruce Wayne vespertilioniza-se toda vez que o Batman é chamado." Vespertilionizado, adj.
Curiosamente, a palavra morcego também tem origem latina. Vem de mus caecus, literalmente rato cego (e não rato que voa, embora essa comparação seja mais adequada).

Nenhuma das línguas neolatinas formou derivados a partir de vespertilio. Em espanhol, é murciélago, com a mesma origem do português; em francês, é chauve-souris; em italiano, é pipistrello. Em occitano — antiga língua falada no sul da França, relacionada com o provençal — é uma pérola: ratapenada (embora não seja rato e nem tenha penas). Se vespertilio tivesse evoluído em português, talvez tivéssemos algo como *vespertílio, ou *vespertilho ou quem sabe até *vespertilhão.

Apenas as línguas artificiais criadas a partir do século XIX tomaram o vocábulo latino como modelo:  vesperto (esperanto), vespertilio (ido) e vespertilion (interlingua).

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Falando em oração...

Se RIR = INFERNO, então deus também vai abraçar o capeta?

domingo, 25 de julho de 2010

Alá é para lá

Decreto fez muçulmanos rezarem virados para lado errado na Indonésia
Ulemás mandaram fiéis rezarem virados para a África por engano. Clérigo afirmou que, apesar do erro geográfico, Alá ouviu orações.
A principal entidade islâmica da Indonésia, o Conselho dos Ulemás, anunciou nesta semana que cometeu um erro em março afirmando que a cidade sagrada de Meca estava a oeste do país.
Isso levou os fieis da maior nação islâmica do país [sic] a orar durante meses virados para o lado errado -olhando em direção à África, não a Meca.
O conselho pediu aos fiéis que mudem de direção em suas preces diárias.
Outro clérigo importante disse que os indonésios não precisam ficar preocupados, pois o erro de cálculo não afeta a habilidade de Alá de ouvir as orações.
Notem que nenhum ulemá reconheceu sua condição humana, admitiu o erro e pediu desculpas. Implicitamente, porém, eles deixaram claro uma heresia na qual todo “infiel” ocidental crê: não faz diferença para onde você ora. Não surpreende que um erro tão grande tenha acontecido. Afinal, líderes religiosos são sempre as pessoas mais desorientadas da sociedade.
Garoto issshperto!

Quando é importante voltar-se para certa direção geográfica, eles não sabem ao certo onde fica e, em vez de admitir isso humildemente, de estudar e encontrar respostas (ou de simplesmente usar o Google), eles apontam uma direção qualquer — e o rebanho vira-se para lá cegamente, certo  de que o líder é infalível (e de que suas cinco orações diárias serão ouvidas). Se eles mal sabem se orientar no sentido físico e concreto da palavra, como podem orientar a vida das pessoas? Que autoridade os ulemás têm, por exemplo, para declarar as mulheres como seres de segunda categoria ou a poligamia como algo aceitável (mas apenas para homens)?

Outras perguntas que todo muçulmano capaz de pensar deveria se fazer depois dessa lição de fé: Se é assim mesmo, se não fez muita diferença orar para o lado errado durante alguns meses, por que não se pode orar para qualquer lado sempre? Por que é que agora os clérigos muçulmanos pedem que seus fiéis mudem de direção na hora de rezar? Se Alá pode ouvir orações de qualquer lugar, por que raios os muçulmanos têm sempre que se voltar para Meca como se a cidade sagrada do mundo islâmico fosse apenas um microfone?

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Paredão do ‘The Times’ funciona

times on
Capa do Times On-Line: jeitão de jornal impresso com links. Vamos clicar para ver se funciona...

No começo deste mês o Times, jornal mais importante de Londres, decidiu que a internet já estava bastante grandinha e que já era hora de começar a cobrar por conteúdos on-line. Para isso, o principal diário londrino decidiu levantar um verdadeiro paredão virtual — o Times+. Poucas semanas se passaram e os resultados já apareceram. O paredão funcionou, mas teve efeito contrário ao que qualquer empresa esperaria.

Durante os primeiros dias, o Times+ foi oferecido em um sistema de free trial (experimente grátis) com 30 dias de duração. Para isso, bastava criar uma conta no Times+. Agora, quando a amostra grátis está acabando, apenas 1,2% dos assinantes on-line continua disposto a pagar para ler notícias na web. Ou, se você preferir, 98,8% dos web-leitores desistiram ou recusaram esse duvidoso privilégio — por que afinal se deram conta de que já pagam pelo acesso à internet ou que a versão on-line não tem muito mais a oferecer. Em muitos casos, tem até menos.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A fé não resiste ao bolso

Não sei se essa história é verdadeira, mas ela me parece bem verossímil e é muito reveladora sobre a solidez da fé:
raio-igreja

Em uma pequena cidade do interior dos Estados Unidos, um homem decidiu abrir um bar bem em frente a uma igreja. Incomodada, a igreja e sua congregação começou uma campanha para impedir a abertura do bar. A comunidade fez abaixo-assinados e orações diariamente contra o empreendimento etílico.

A construção foi adiante, mas a poucos dias da inauguração do bar, um fortíssimo raio caiu sobre ele, incendiando-o e destruindo-o completamente. O povo da igreja estava muito satisfeito com isso, até que o dono do bar decidiu agir. Ele entrou com um processo contra as autoridades da igreja, pedindo 2 milhões de dólares em indenizações. O argumento era de que as orações da comunidade, instigadas pelos líderes religiosos, foram a causa, direta ou indireta, da destruição do negócio.

Em resposta à corte judicial, a igreja negou veementemente toda a responsabilidade por qualquer ligação entre as orações e a destruição do bar. Em sua defesa, a igreja usou até mesmo o estudo que Benson fez em Harvard provando que orações intercessoras não têm nenhum efeito.

Durante o julgamento, o juiz deu uma olhada em toda a papelada reunida por cada parte e comentou: "Eu não sei o que vou decidir nesse caso, mas parece-me que temos um dono de bar que acredita no poder da oração e uma igreja e seus devotos que não acreditam."

Como se vê, tudo é muito genérico nessa história. Ela não cita locais, nem datas, nem nomes dos envolvidos e nem mesmo denominações religiosas. Parece até uma fábula (ou uma lenda urbana) inventada do nada por algum desocupado. Só que fábulas não dão o nome de um estudo científico que realmente existe: 

BENSON, Herbert et al. Study of the Therapeutic Effects of Intercessory Prayer (STEP) in cardiac bypass patients: A multicenter randomized trial of uncertainty and certainty of receiving intercessory prayer [Estudo dos Efeitos Terapêuticos da Prece Intercessora (EETPI) em pacientes com bypass cardíaco: um teste randomizado multicentral da incerteza e certeza do recebimento de orações intercessoras] in: American Heart Journal, vol. 151, número 4, pp. 934-941, abril de 2006. E está disponível on line aqui (em inglês).

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Plantas — Nem geniais, nem vegetais

folha nervura
Nervuras em plantas: estruturas podem ter funções similares às de um sistema nervoso

Novas pesquisas mostram que plantas podem transmitir informações "de folha a folha de uma forma muito similar ao nosso sistema nervoso". Um artigo na BBC News chegou a dizer que plantas "podem pensar e lembrar." Ainda segundo o artigo, as plantas podem usar "informação contida na luz para imunizar-se contra patógenos sazonais."

Plantas não podem pensar ou lembrar. É tentador usar essa descrição para explicar como as plantas funcionam. Elas não têm um sistema nervoso central, muito menos células nervosas. No entanto, como a maioria dos organismos, os vegetais podem sentir o mundo ao seu redor e reagir de forma adequada. De fato, plantas são capazes de reações muito sofisticadas aos olhos comuns, mas que os botânicos já conhecem há séculos.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Em uma palavra [15]

Lexifânico
adj. aquele que usa vocabulário pretensioso; tipo popularmente conhecido como “fala-bonito”. “’Em uma palavra’ é uma série muito lexifânica”

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Puxa-sacos Absolutos

lulu 14 Uma das características mais marcantes das monarquias absolutas clássicas é um puxa-saquismo real que beira o ridículo:

Quando Luís XIV perguntava as horas, sempre lhe respondiam: "A hora que desejares, Sua Majestade."

Quando Lulu o Rei-Sol confortou o duque de Saint-Aignan após o nobre perder um filho, Roger de Rabutin escreveu: "É apenas perto dele que um pai pode encontrar algum prazer em perder seus filhos."

Durante uma aula de Química, Louis Jacques Thénard disse a Charles X: "Estes gases terão a honra de combinar-se diante de Sua Majestade."

Os súbditos de James I expressaram o desejo de que ele reinasse sobre eles tanto quanto durassem o sol, a lua e as estrelas. "Eu suponho, então," murmurou o rei, "que eles querem que meu sucessor reine à luz de velas."

Felizmente, os reis absolutos não existem mais. Pena que não se pode dizer o mesmo do puxa-saquismo besta — que é agora oferecido indiscriminadamente a todos, de chefes de repartição e líderes tecno-religiosos a bandinhas coloridas e vampiros misóginos.

domingo, 18 de julho de 2010

O peso do poder

Charles de Gaulle costumava dizer que "política é uma coisa séria demais para ser deixada para os políticos."

Uma solução prática para o enriquecimento político foi encontrada pelos ingleses da cidade de High Wycombe, em Buckinghamshire. Lá o prefeito é pesado no começo e no fim do mandato (os secretários do prefeito são pesados anualmente). Se o peso não muda, o pregoeiro municipal (town crier) diz: "E nada mais!". Se o peso aumentou, ele declara: "E um pouco mais!".  Qualquer ganho de peso é considerado como um ganho às custas do contribuinte e o político glutão é moralmente punido com vaias e alguns tomates podres. 

Certamente, é um processo muito mais efetivo e independente do que uma demorada CPI que não resulta em nada por que todos os políticos se protegem. Politicamente, o resultado das vaias e dos tomates podres é muito mais devastador do que um processo de cassação, mesmo que bem-sucedido. Não há necessidade de envolver terceiros e o resultado é fruto de pura observação objetiva.

Ninguém sabe quando ou como a tradição começou; há quem diga que o costume de julgar o prefeito pelo peso começou na época de Eduardo I [regnabat 1272-1307] e era muito comum na Inglaterra. Mas o documento mais antigo a citar o ritual político data de 1678. Hoje apenas Wycombe mantém a tradição. O que é uma pena, já que essa tradição é muito mais avançada do que muitos sistemas políticos modernos.

sábado, 17 de julho de 2010

4G EPIC FAIL!

4G FAIL!


Em tempo: o tio Steve Jobs não vai fazer um recall (isso não seria cool). Agora, ele vai dar uma de camelô e vender "capinhas" para sanar o problema. Aliás, qual a diferença entre o Jobs e um camelô? Nenhuma: ambos usam só jeans e camiseta e ambos são a única garantia de seus produtos. 

Mesmo assim, ele não acha que seus clientes foram prejudicados. Eles compraram (e "ainda acham que é a melhor coisa do mundo") por que quiseram, não por causa do hype criado pelo Appleísmo, que vive endeusando o próprio São Jobs. Eu começo a achar que esse iPhone aí foi projetado com Windows Vista.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A Torre de Londres

torrelondres 
A Torre de Londres, que já foi a mais importante prisão e palco de torturas da Inglaterra, está sempre lotada. Mesmo quando está vazia. Há quem diga que ela é habitada pelos fantasmas das seguintes personalidades:
  • Thomas Becket
  • Rei Eduardo V
  • Ricardo, Duque de York
  • Ana Bolena (decapitada)
  • Lady Jane Grey
  • Sir Walter Raleigh
Também haveria uma tropa fantasmagórica que vive a reencenar a execução de Margaret Pole, oitava Condessa de Salisbury e ainda a alma penada de uma senhora de luto que não tem rosto. Parece um lugar bastante agitado.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Igreja move-se contra pedofilia e mulheres

Vaticano anuncia regras para acelerar punição de abuso de menores
Casos mais graves poderão ser encaminhados diretamente ao papa.

Esta foi a primeira revisão das regras da Igreja sobre este assunto em nove anos, e foi anunciada após a grande repercussão dos casos de pedofilia envolvendo sacerdotes católicos em vários países.
Entre as medidas adotadas está a possibilidade de encaminhar os casos mais graves ao papa e de punir os responsáveis por "decreto extrajudicial", sem depender de um processo normal dentro da igreja, que pode ser mais demorado.
stainglassParece ter sido um momento de especial revelação jurídico-divina para a Igreja Católica: de repente, Bento XVI Deus aparece e decreta que a partir de agora (e só agora) abusar de menores (ou de pessoas com deficiência mental) é um crime contra a Igreja — note-se que é um crime contra uma instituição bilionária e poderosa, não contra a vítima indefesa e inocente (e muito menos contra a moral). Também foram criminalizadas pela “revelação” a pornografia infantil e, dentro da lógica direta típica do cristianismo, até a tentativa de ordenação de mulheres para o sacerdócio.

Na prática, o Vaticano reconhece que o abuso infantil é um crime grave. Tão grave e  perigoso quanto a presença de  mulheres no clero.

Embora tenha sido criminalizada na esfera judicial terrestre, ainda não está claro se agora a pedofilia é algo punível com a danação eterna no inferno. Mas perseguir e discriminar mulheres continuam sendo atos toleráveis e até agradáveis aos olhos do "todo-poderoso". 

Para variar, a revelação sobre a pedofilia aconteceu a portas fechadas e Deus não quis fazer uma coletiva de imprensa para esclarecer dúvidas, muito menos falar sobre questões mais práticas, como o fim do celibato obrigatório e a inclusão de educação sexual nos seminários.

Bloqueio de um navio só

Boyle

Irritado com os constantes "bloqueios de papel" impostos pela Royal Navy britânica ao litoral americano, o privateiro (ou seria patriota?) Thomas Boyle atracou no Canal da Mancha em 1814 e declarou um bloqueio naval de um navio só — o Chasseur [Caçador] — contra o Reino Unido inteiro:

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Um ‘Contato’ menos Imediato

Como será o momento mais importante da História da Humanidade — O Contato? Muitos contos e romances de ficção científica já tentaram imaginar. Vez por outra, como agora, em Contatos Imediatos de 4º. Grau, Hollywood retoma o tema. Mas, geralmente, os filmes centram-se mais nos extraterrestres, nos efeitos especiais e em estereótipos: um disco voador, uma abdução, um “leve-me ao seu líder” ou uma invasão-e-destruição da raça humana ou até do planeta Terra.

contact_1Baseado no romance homônimo de Carl Sagan, Contato (Contact, EUA, 1997), apresenta um ponto de vista mais polêmico, mais científico e mais humano. Mesmo ofuscado pelo lançamento de MIB – Homens de Preto, Contato foi considerado um dos melhores filmes de FC de todos os tempos. O filme, dirigido por Robert Zemeckis (De Volta para o Futuro e Forrest Gump), inovou também no tratamento digital de imagens, na intertextualidade com a TV e com a “atuação” do presidente Bill Clinton. Ok, é claro que o presidente não atuou. Suas aparições são imagens digitalmente manipuladas.

No elenco pra valer, uma convincente Jodie Foster é Ellie Arroway, a cientista que faz o contato e Matthew McConaughey é Palmer Joss, um líder religioso descolado e um tanto irônico, que acaba virando conselheiro espiritual do presidente. A versão cinematográfica é bastante fiel ao livro, exceto talvez pelo final.

Ao longo do filme, que tem quase duas horas e meia de duração, algo pode frustrar os fãs de abduções e discos voadores: nada disso acontece, pelo menos a princípio. Contato começa com a infância de Arroway, volta para o presente, mostra o trabalho de uma radioastrônoma, ensaia um romance entre Ellie e Palmer Joss. O contato que dá título ao filme é feito e confirmado através de radiotelescópios e seguem-se todas as consequências e reações ao contato. Há intenso debate entre os descobridores, os céticos e os líderes religiosos, políticos e militares. Por fim, descobre-se que a mensagem recebida (com surpreendentes imagens de Hitler discursando) traz muitas informações ocultas, inclusive instruções para construir uma espécie de portal interplanetário.

saganNo final do filme, porém, uma suposta viagem interplanetária termina com elementos bastante comuns aos já tradicionais contatos ufológicos: uma experiência intensa, quase espiritual — e difícil de comprovar. Como um bom filme, Contato é menos imediato e mais instigante. O espectador  ganha o benefício da dúvida na escolha do final: houve ou não contato? Se sim, até que ponto o contato foi objetivo? Se não, o que aconteceu realmente? Uma fraude em escala planetária ou uma falha técnica causada por uma tecnologia alienígena e desconhecida?

O final é ambíguo e provocador graças ao autor. Carl Sagan, que ganhou fama mundial à frente dos Programas Viking e Voyager na NASA, era sobretudo um cientista cético, mas que não deixava de admitir possibilidades. Foi ele um dos primeiros a levar a sério o estudo dos fenômenos ufológicos. O filme não chega a ter bordões, mas uma frase recorrente sempre foi atribuída a Sagan: “Se não há vida lá fora, então o Universo é um tremendo desperdício de espaço.” 

Há também uma história por trás do filme, que custou a sair. Na verdade, como havia feito na série de documentários Cosmos (PBS TV, 1980), Sagan pretendia fazer um filme e depois um livro. A ideia de Contato surgiu no começo dos anos 80, mas após comprar o roteiro a Warner fez muitas exigências: incluir o Papa como personagem, dar um filho a Ellie Arroway, inserir mais cenas de efeitos especiais. Sagan, porém, bateu o pé. Ele não queria um blockbuster. Com o roteiro que tinha, lançou Contato, o livro, em 1985. Quatro anos mais tarde, ele começou a trabalhar novamente na versão cinematográfica. Mas a Warner, que só retomou o projeto em 1993, teve dificuldades em arranjar diretores e elenco e o filme só saiu em 1997, seis meses após a morte de Sagan.

Trailer (em inglês):

terça-feira, 13 de julho de 2010

Em uma palavra [14]

Calopsia
subst. [do grego calis, “belo, bonito” e opsia, “visão”]. A ilusão de que as coisas (ou as pessoas) são mais belas do que realmente são.
"O Ministério da Saúde adverte: beber na balada pode causar calopsia."

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Moedas na Pista

Mais uma da série: "Por que isso nunca acontece comigo?"

Na semana passada um acidente milionário parou o trânsito na rodovia A114, perto de Foggia, no sul da Itália. Um caminhão que transportava 2 milhões de euros [cerca de R$ 4,4 milhões] em moedas (de € 1 e € 2) capotou, espalhando parte da carga na pista. O veículo que transportava as moedas bateu em outro carro e capotou após um dos pneus estourar.

caminhao620italiaMotoristas que passaram pelo local não perderam a oportunidade e arriscaram a vida para ajudar a limpar a rodovia e liberar o trânsito. De acordo com a imprensa italiana, os motoristas mais habilidosos conseguiram acumular até € 10 000 em moedas antes que a polícia chegasse ao local. O prejuízo foi estimado em 50 000 euros, mas pode ser até cinco vezes maior. O motorista do caminhão e o passageiro do carro atingido sofreram apenas ferimentos leves.

domingo, 11 de julho de 2010

Como funciona o diferencial?

Ei, você já deu uma olhada debaixo do seu carro hoje? Já viu aquela "bola" que fica no meio do eixo traseiro de caminhões e de alguns carros mais antigos? Se você for curioso, já deve ter se perguntado para quê serve aquela coisa redonda no meio de um eixo.

Pois aquela "bola" é uma das peças, ou melhor, um dos sistemas mais importantes em um carro — o diferencial, que distribui de forma equilibrada a energia cinética do motor entre as rodas de um eixo (dianteiro ou traseiro). O diferencial tem esse nome por que movimenta as duas rodas em velocidades diferentes. Graças a isso (e ao sistema de direção), os automóveis podem fazer algo incrível: curvas! 

Embora pareça complexo, o conceito por trás do diferencial é muito simples.  É mais simples ainda se usarmos imagens em lugar de palavras. O vídeo a seguir — traduzido por este que vos escreve — é um verdadeiro tesouro. Foi feito nos anos 1930 pela Chevrolet norte-americana e explica o que é e como funciona um diferencial.


Hoje em dia, os engenheiros nem precisam mais se preocupar com aquele "eixo desajeitado por cima do piso". Exceto por alguns esportivos, todos os carros modernos são tracionados pelo eixo dianteiro, o que permite ainda mais espaço interno, menor altura e muito mais conforto. Mas é realmente uma pena que não se façam mais videos explicativos como esse. Isso deveria ser apresentação obrigatória nas aulas de auto-escolas.

sábado, 10 de julho de 2010

Preto no Branco

Tété-Michel Kpomassie colhia cocos no meio da floresta quando uma cobra o assustou, fazendo-o cair da árvore. Mal sabia ele que esse susto acabaria levando-o à Groenlândia. Kpomassie nasceu no Togo em 1941 e era um adolescente que só tinha seis anos de estudos básicos. Seu pai, um homem importante da aldeia onde vivia, tinha oito esposas e 26 filhos. 

O pai de Kpomassie acreditava que seu filho só seria curado das lesões que o susto causou se ele fosse consultar a sacerdotisa do culto à python. Então, ele levou o filho para encontrá-la. Os dois viajaram uma noite inteira através de floresta densa, até um lugar infestado de cobras: era o local onde se cultuava a python. A cura funcionou, mas a sacerdotisa alegava que agora ele precisava pagar pela cura. O preço: ser iniciado nos rituais e viver sete anos no meio da selva, num verdadeiro ninho de cobras.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Uma injeção de esperança

vacina1

Novamente, surge uma esperança. Na sua edição de hoje, a revista Science publica dois artigos sobre a identificação de anticorpos que combatem o HIV. Os artigos são assinados por cientistas do Centro de Pesquisas de Vacinas (VRC) do NIH (National Institute of Health; Instituto Nacional de Saúde do Governo americano). Essas proteínas são raríssimas e complexas, mas podem ser base para a criação de uma vacina terapêutica nos próximos anos.

Há dois tipos de sistemas imunológicos no corpo humano: o inato e o adaptativo. O inato é natural da pessoa e reage de forma genérica a antígenos muito comuns, como proteínas e açúcares estranhos ao corpo. O sistema adaptativo, como o próprio nome indica, pode se adaptar para reconhecer novos agentes estranhos. Geralmente, as vacinas trabalham no sistema adaptativo, que é "treinado" com elementos atenuados.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Fica a Dica (7) — Como dar Pausa no Atari?


Na longínqua era pré-Nintendo, as maratonas gamísticas eram praticamente intermináveis. Não havia uma maneira de "dar um tempo" no game para, digamos, responder às “necessidades fisiológicas” de seu corpo. Quando o Atari 5200 foi lançado como upgrade do 2600, uma das maiores novidades era o primeiro botão "pause" da história. Obviamente, a novidade manteve-se no 7800, no qual também dava pra jogar todos os clássicos do 2600 — mas os fãs dos jogos mais antigos não podiam usar a novidade.

Dentes perfeitos

terça-feira, 6 de julho de 2010

A fé remove vagas de hotel

room 308O quarto 308 do Samudra Beach Hotel em Java Ocidental está sempre  reservado. Para quem? Para a deusa indonésia Nyai Loro Kidul (e não, ela não é uma mulher deusa, mas uma deusa mulher).

O hotel fica próximo de um penedo no qual, segundo a tradição folclórica local, uma jovem menina teria se afogado, tornando-se a Rainha do Mar do Sul, uma espécie de Iemanjá local. Séculos depois, enquanto orava debaixo de um pé de ketapang no início dos anos 60, o então todo-poderoso Presidente Sukarno teria recebido a mensagem de que um hotel poderia ser construído no penedo sagrado, desde que um quarto fosse sempre reservado para a vaidosa deidade marinha. O hotel foi construído e quarto foi decorado em verde, a cor favorita de Nyai Loro.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O Paradoxo da Chuva de Amanhã


Mas como podemos perceber a mudança da "indefinição" para a "verdade"? Ela é súbita ou gradual? Em que momento a afirmação "vai chover amanhã" começa a ser verdade? Quando a primeira gota cai no solo? E supondo que não chova, quando a afirmação passará a ser falsa? Somente no fim do dia, à meia-noite em ponto? [...] Não sabemos como responder a essas questões. Isso não se deve a nenhuma ignorância em particular ou à estupidez de nossa parte, mas ao fato de que algo dá errado com o modo de uso das palavras "verdade" e "mentira" que são aplicadas aqui.
— F. Waissmann, "Como eu vejo a filosofia", in H.D. Lewis (editor), Contemporary British Philosophy [Filosofia Britânica Contemporânea], 1956.

domingo, 4 de julho de 2010

Contos Traduzidos — "O Dólar de John Jones"


Já faz um bom tempo que eu falei por aqui sobre um estranho escritor chamado Harry Stephen Keeler. Na ocasião, eu havia prometido traduzir e publicar um dos contos dele. Pois bem, como o conto já estava traduzido há um bom tempo, agora é hora de publicá-lo.

Um dos primeiros trabalhos de Keeler, O dólar de John Jones foi publicado originalmente na Amazing Stories em abril de 1927, o que também o torna um dos mais antigos contos de Ficção Científica moderna. O conto começa com um simples depósito de um dólar em uma conta poupança — mas as consequências desse modesto investimento acabam mudando completamente o rumo da história humana. A seguir, o texto completo do conto, enriquecido com notas de tradução.

sábado, 3 de julho de 2010

Fica a Dica (6) — Como abrir uma garrafa de vinho com um sapato

Un vidéo tutoriel en français. Pourquoi est tellement plus chic!



Tire-bouchon est pour les mauviettes!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

De volta para o passado

ny_times_olds

Cumprir o papel de "testemunha ocular da história" pode levar a um tipo meticulosamente estranho de responsabilidade. Em 10 de março de 1975, o New York Times saiu com a data errada após um pequeno erro tipográfico. No cabeçalho, lia-se: "10 de Março, 1075".

Qualquer leitor comum teria entendido que foi apenas um erro tipográfico — um typo —, mas os editores do jornal começaram a ficar preocupados. Eles temiam que historiadores do futuro ficassem confusos ao encontrar uma edição do Times aparentemente lançada em plena Idade Média. Portanto, no dia seguinte, o NYT saiu com uma errata histórica (em todos os sentidos):
Na edição de ontem, o New York Times não relatou as revoltas em Milão e o subsequente assassinato do reformista religioso Erlembaldo. Esses eventos ocorreram em 1075, o ano que aparece na linha de data da 1ª. Página. O Times pede desculpas por ambos os incidentes.
Os editores do maior jornal do mundo podem parecer espertos. Mas não foram. E se a edição que contém a errata desaparecer?

Não tem problema: os historiadores do futuro ainda poderiam usar testes de carbono-14 — ou até técnicas mais sofisticadas — para determinar a autenticidade do suposto Times medieval.

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