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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Apetite Paleontológico

“William Buckland segurando o crânio de uma hiena das cavernas” (1833)


Pioneiro da ciência paleontológica, William Buckland (1784-1856) era um cara no mínimo estranho. Entre outras esquisitices, Mr. Buckland fez a primeira descrição completa de um fóssil de dinossauro, cunhou o termo que designa as fezes fósseis [coprólito, lit. “cocô empedrado”], e não raro fazia seu trabalho de campo usando uma beca — aquela roupa ridícula que só se usa na formatura.

Além de paleontólogo, geologista e doido varrido professor universitário — de Oxford —, o Dr. Buckland também era um exímio caçador. Durante uma de suas caçadas, ele teve a brilhante ideia de comer todos os animais que que conhecia (ou que viesse a conhecer). Quando recebia visitas, o paleontólogo servia panteras, crocodilos, hienas (o que daria outro sentido ao retrato acima) ou até mesmo ratos em seu jantar. Ele dizia que os piores pratos que havia provado foram os feitos com toupeira e mosca-azul (Calliphoria vomitoria). Com esse nome científico, a mosca deve ter sido bem indigesta mesmo.

domingo, 30 de outubro de 2011

As Torres do Silêncio

A Torre do Silêncio de Yazd, no Irã (imagem: indigoprime)

Na tradição zoroastriana, assim que um corpo deixa de viver, ele pode ser imediatamente invadido por demônios e tornado impuro. Para prevenir essa possessão póstuma, os seguidores de Zoroastro purificavam os corpos de seus mortos expondo-os aos elementos no topo das dakhmas, torres construídas sobre os platôs do deserto.

Segundo a tradição — que remonta a mais de 3000 anos — os corpos dos falecidos, devidamente despidos, eram abandonados no topo das torres formando três círculos concêntricos. Os homens ficavam na circunferência mais externa; as mulheres no círculo intermediário e as crianças formavam o anel interno. Os cadáveres eram abandonados até serem desintegrados naturalmente ou despedaçados pelas aves de rapina do deserto.

Após esse processo de purificação, os ossos eram retirados e guardados em ossuários localizados no interior das torres ou dentro delas. Monumentos fúnebres dos zoroastrianos, essas torres-ossuários existiam em grande parte do sul da Ásia — foram descobertas dakhmas dos séculos IV e V antes da era comum nas proximidades de Mumbai, na Índia.

Mas as mais famosas dessas torres eram conhecidas como Torres do Silêncio. Situadas em Yazd,  no Irã, elas continuaram a ser usadas até o começo dos anos 1970. Mas a crescente urbanização deixou as dakhmas incomodamente próximas dos limites urbanos de muitas cidades, obrigando o governo iraniano a proibir o milenar ritual fúnebre. 

Aos poucos mazdeístas que ainda restam no mundo (cerca de 120 mil), sobrou apenas a opção de cremar seus mortos. Embora não sejam mais usadas cerimonialmente, as Torres do Silêncio continuam a ser uma grande atração do deserto iraniano.

sábado, 29 de outubro de 2011

Patentes patéticas (nº. 31)


O halloween está chegando e com ele, as abóboras esculpidas e iluminadas. Mas pra que desperdiçar comida para fazer um jack-o’-lantern quando pode haver uma alternativa mais limpa e tecnológica? Ou você nunca ouviu falar de abóboras de plástico? 

Talvez inspirado pelas árvores-de-natal artificiais, Jeffrey A. Chapman (de Phoenix, Arizona) criou e patenteou essa alternativa em 14 de março de 1995. A linguagem do resumo da patente é tão pateticamente artificial quanto a invenção que descreve:
A invenção está no campo dos itens de cavidade tridimensional e sua manufatura. Particularmente, itens como abóboras artificiais que o consumidor deseja esculpir ou alterar após a compra. Aqui se expõe uma novidade em termos de artigos moldáveis, como uma abóbora de Hallo-ween artificial, composta de uma casca de poliuretano cercando substancialmente (sic) um volume interior e com uma tênue cobertura elastomérica, como um acrílico, na superfície externa da casca. O artigo escavável pode ser formado por um processo inventivo no qual a espuma de material poliuretano, sendo uma matéria com uma densidade nominal de cerca de 2,5-3,0 libras por pés cúbicos, é borrifada de um bico rotativo a partir do interior de um molde. Após a separação do artigo de espuma poliuretana e o molde, o produto é coberto com uma cobertura elastomérica, como um material acrílico que é aplicado como líquido. Assim, os inventivos artigos, incluindo aqueles feitos de acordo com o processo inventivo, pode ser usado como um um item oco tridimensional inovador em várias formas. Adicionalmente, o artigo inventado, como as abóboras de Halloween (sic) são moldáveis, reutilizáveis e podem ser usadas com uma fonte de luz.

Entre as justificativas registradas na patente nº. 5.397.609, Mr. Chapman afirmou que, “embora sejam úteis para exposição” as lanternas de Halloween artificiais da concorrência são “tipicamente feitas de papel, cerâmica, plástico fino e macio”. Por isso mesmo, “não são adequadas à modelagem ou seguras para o uso com lâmpadas.” Um de seus objetivos é justamente esse de “honrar a festiva tradição de moldar abóboras”.

No entanto, o tradicionalismo do inventor do Arizona para por aí. Segundo ele, o problema com as abóboras que se compram na quitanda é que elas são “percíveis e, portanto, apodrecem após um tempo.” Mr. Chapman também considera o mau-cheiro e a bagunça criadas pelo uso da alternativa natural. Talvez ele simplesmente não goste de abóboras e, no fundo, nem do Halloween que tanto afirma defender.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Literatura Médica


Quando o médico escocês John Armstrong (1709-1779) disse aos amigos que tinha planos de escrever um livro sobre A Arte de Preservar a Saúde todos devem ter achado uma boa ideia. O que ninguém esperava é que ele o escrevesse em versos brancos (a divisão dos versos foi mantida tal qual o original):
O lânguido estômago amaldiçoa até mesmo
A deliciosa gordura e todas as raças de óleo
Pois quanto mais oleoso, o alimento relaxa
Seu débil tônus. E a voraz linfa
(Doida para se incorporar em tudo que encontra)
Recatadamente ele mistura. E evita com escorregadias artimanhas
O cortejado abraço. Esse insolúvel óleo
Tão gentil, lento e lisonjeiro, em fluxos
De bile rançosa se esparrama: Quanto tumulto causa,
Quantos horrores levanta são nauseante para relatar.
Escolhei mantimentos enxutos, ó vós de jovial feitio!

Publicado em 1744, o poema continua assim, nessa toada, por 128 páginas dividas em quatro livros. O resultado é floreado demais para ser útil e ao mesmo tempo nauseabundo demais para ser inspirador. O Dr. Armstrong ainda insistiu mais um pouco em sua poesia mediocremente médica, mas não teve sucesso. Mas para ganhar a vida, ele teve que voltar a escrever apenas receitas: em 1760 ele foi contratado como médico pelo exército britânico que estava na Alemanha.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Viva voz

Um [certo] Mr. Smith foi atacado à noite, há cerca de duas semanas, nas vizinhanças de Hexam, por três homens. Eles o arrancaram de seu cavalo e lançaram-no, com a face virada para baixo, contra o chão. Não foi feita qualquer tentativa de roubá-lo e nem se pronunciou uma sílaba. Mr. Smith também manteve-se calado até sentir os dentes de uma faca entrando na carne de sua nuca, ao que ele exclamou: “O que estão fazendo comigo?” Ao ouvir sua voz, um dos homens observou: “Esse não é ele!” Imediatamente, todos os três partiram. Esses bárbaros obviamente estavam à espera de alguém que seria objeto de vingança e que eles queriam destruir através do instrumento que citamos. — The Times, 19 de dezembro de 1821

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Haja Monograma!

Em 1960, o graduando de Cambridge Ron Hall anunciou uma descoberta que ele chamou — bastante  obvia e modestamente — de Lei de Hall: “Para qualquer grupo suficientemente grande de pessoas, o número médio de iniciais possuídas pelos membros de tal grupo é uma medida direta da classe social predominante do grupo.”

Com a ajuda daquela maravilha tecnológica chamada computador, Hall fez uma análise da aristocracia inglesa e percebeu que os duques têm, em média, quatro nomes; os marqueses, 3,96; condes, 3,92; barões, 3,53; baronetes, 3,49; viscondes 3,41 e cavalheiros geralmente têm apenas 3,06 iniciais.

Entre os exemplos contemporâneos Hall citava J.S.B.L., John Selwyn Brooke Lloyd (1904-1978), então Ministro do Exterior do Reino Unido e H.T.N.G., Hugh Todd Naylor Gaiskell (1906-1963), então líder da oposição britânica.

Casos mais notáveis são os do Honorável Almirante Reginald Aylmer Ranfurly Plunket-Ernle-Erle-Drax (R.A.R.P-E-E-D., 1880-1967), filho mais novo do Barão de Dunsany e comodoro durante a II Guerra Mundial e do Major Leone Sextus Denys Oswolf Fraudatifilius Tollemache-Tollemache de Orellana Plantagenet Tollemache-Tollemache (L. S. D. O. F. T-T. de O. P. T-T, 1884-1917), que tombou de gripe na I Guerra Mundial e possivelmente teve o mais longo sobrenome inglês.

Embora não haja nobreza nos Estados Unidos, a pesquisa repercutiu na imprensa americana. Um dos jornais foi particularmente irônico em relação a Mr. Tollemache-Tollemache de Orellana Plantagenet Tollemache-Tollemache: “Seria interessante saber como os pais do major o chamavam em seus anos de meninice.”

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Em uma palavra [75]

paramimia
s.f. uso de gestos desconexos em relação ao que se está falando; gesticulação excessiva e desnecessária. Paramímico, adj., aquele que apresenta paramimia. [derivado do grego mimós = imitação, mímica]

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Profundidade Superficial (ou Superficialidade Profunda)

Esfera de Ouro (e urna funerária) de Nikola Tesla

Quando você toca uma bola de ouro, toca a superfície de uma esfera e toca ouro. Parece razoável concluir que a superfície é feita de ouro. Mas o cientista da computação Antony Galton, da Universidade de Exeter, lembra que uma superfície é bidimensional e, não tendo espessura ou profundidade, não pode conter qualquer quantidade de ouro (ou qualquer outra coisa).

Então, o que acontece quando você põe o dedo em uma bola dourada? Não se pode dizer que você toca a camada mais exterior dos átomos de ouro, pois isso nos deixaria com duas superfícies (a da esfera e a da matéria que a forma). Por outro lado, não se pode afirmar que a superfície da esfera é uma coisa abstrata, sem existência física — muito menos quando se pode vê-la e pegá-la. Então, o que é uma superfície?

Como se esses questionamentos não fossem bastante superficialmente profundos (e idealmente esféricos), o filósofo e linguísta britânico J. L. Austin (1911-1960) ainda se perguntou: “Onde e o quê é exatamente a superfície de um gato?” Agora tente pensar na superfície de um gato arrepiado...

domingo, 23 de outubro de 2011

Capítulos Inééééééditos

Em 1950, um estudante de graduação de Stanford, Robert E. Young, percebeu que dois capítulos do romance Os Embaixadores, de Henry James (1843-1916), haviam sido invertidos em todas as edições americanas desde seu lançamento, em 1903.

“Várias discrepâncias nos fatos e no tempo”, escreveu o estudante universitário, “aparecem em uma leitura cuidadosa dos capítulos em sua presente ordem. Por outro lado, a reversão dos dois resultaria em uma completa eliminação de tais discrepâncias.”

A confusão se deve ao fato de que antes de ser publicado em livro, The Ambassadors já havia saído como folhetim na North American Review. No entanto, a revista não pôde publicar todos os capítulos por falta de espaço. Três capítulos permanceram [galvão] inééééééditos [/galvão] até a publicação em livro.

O problema aconteceu na inserção de um destes capítulos inéditos, que deveria entrar antes do capítulo 28 e não depois. Os dois capítulos foram publicados erroneamente em edições inglesas. Muitos editores americanos, pensando que a ordem fosse aquela mesma, simplesmente seguiram-na e mantiveram-na.

No entanto, quando o próprio James fez a revisão do texto americano em 1909 (que ficou conhecido como New York Edition), ele não encontrou nenhum erro. Sendo assim, não há versão definitiva para essa obra. Novas edições que usam como base a NYE passaram a trocar a ordem dos capítulos.

Henry James
O bibliógrafo Jerome McGann reabriu a questão em 1992. McGann duvida que James tenha errado em uma obra que ele revisou tão cuidadosamente. Ele explica as discrepâncias da seguinte forma: o começo do cap. 28 descreve um diálogo que vai ocorrer no futuro (relativo ao contexto da história) e que “aquela noite” citada no começo do cap. 29 refere-se não à noite recém-descrita no capítulo 28, mas a outra, mais anterior.

“O deslize é particularmente irônico”, escreveu Young após descobri-lo, “dado o fato que James considerava The Ambassadors como seu romance mais perfeitamente construído, como sua obra-prima.”

Intencional ou não, há um quê de interatividade nesse erro lítero-tipográfico: dependendo da edição, o leitor pode decidir a ordem em que quer ler um par de capítulos.

sábado, 22 de outubro de 2011

Patentes patéticas (nº. 30)

Não é raro que algumas das maiores criações da mente humana sejam feitas sob efeitos de substâncias (lícitas ou não). Mas inventar sob efeito do álcool, por exemplo, pode ter resultados patéticos em vez de geniais.

O “cubo de gelo iluminado a bateria” do chinês Cheng Feng Liu é um desses casos. À primeira vista, um cubo de gelo brilhante deve parecer uma ideia genial para uns bons drink. Antes de fazer um brinde a Liu, veja a descrição:
Um iluminável (sic) cubo de gelo eletrônico, contendo um invólucro externo, uma unidade interna, LED, placa de circuito, bateria, tampa superior e cobertura da bateria. O invólucro externo tem uma forma natural de cubo de gelo, com lados ondulados. A unidade interna está ajustada com o invólucro e contém uma base, um suporte elevado e um iluminável cilindro translúcido fixado no suporte elevado. Uma câmara na unidade interna atravessa a base, o suporte elevado e o cilindro translúcido. O LED é ajustado ao cilindro translúcido e a placa de circuito fica debaixo do LED e a bateria debaixo da placa.

Até aí, Liu parece bastante sóbrio. Mais adiante, na explicação do conceito, essa sobriedade cai por terra: “[o] propósito dessa invenção é prover um cubo de gelo eletrônico e luminoso que é um substituto do cubo de gelo natural com [a] bateria substituível.” Bem, até onde se sabe, o gelo comum não necessita de pilhas, muito menos de troca de pilhas. No entanto, indo além da ambiguidade da frase anterior, Mr. Liu continua demonstrando seu alto teor alcoólico no texto da patente nº 6.966.666 (atentem para a infelicidade do número), emitida em 22 de novembro de 2005:
Frequentemente, em uma festa ou festival, uma atmosfera festiva é desejável, como o acendimento de velas ou lâmpadas de cor iluminadas. Ou às vezes as pessoas põem cubos de gelo em copos de vinho (WTF???), com o que obtêm um efeito decorativo bem como mantêm o vinho gelado. Mas o uso do cubo de gelo natural não é de baixo custo e o efeito decorativo é limitado.

Apesar da falta de sobriedade, Mr. Liu tem razão em um ponto: o uso de gelo comum não custa pouco. Afinal, antes de fazer gelo, é preciso comprar uma geladeira inteira, o que é uma ideia absurda! Mas se a beleza do gelo cinzento — mesmo quando ondulado — parece limitada, sempre há a opção de usar corantes (Tang, por exemplo).

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Dr. Filmer, o advogado das bruxas

Tortura e execução de uma “bruxa”. Gravura de autoria desconhecida.
De um certo Filmer, advogado de defesa de bruxas na Inglaterra, diz-se que ele fez a engenhosa defesa que segue. Suas clientes foram acusadas, como de costume, de serem cúmplices [accessory] do demônio. Sob a commom law não pode haver cúmplice a não ser que haja um líder [principal] e nenhum cúmplice pode ser condenado a não ser que o líder seja condenado. Pois se o líder for absolvido, não há culpa principal [principal guilty] e assim não pode haver culpa por associação [accessory guilty]. Consequentemente, até que o líder seja condenado, os cúmplices não podem ser julgados.

Tomando vantagem dessa situação legal, Filmer arguiu que suas clientes não poderiam ir a julgamento até que seu suposto líder fosse julgado e condenado. E como isso poderia ser feito? Somente de acordo com a lei do país. Em primeiro lugar, como o demônio poderia ser intimado? O oficial de justiça encarregado seria obrigado ou ir até o diabo e intimá-lo pessoalmente ou, se isso não for possível, a deixar uma cópia da intimação por escrito no local de residência do demandado. Embora os amigos e admiradores do oficial de justiça possam aconselhá-lo a cumprir sua obrigação de ambas as formas de vez em quando, a aplicação prática de tal conselho seria uma impossibilidade [neste caso]. Ainda assim, supondo que o demandado fosse adequadamente intimado, ele teria direito a um julgamento por um júri formado pelos seus pares [por seus iguais; peers no original]. Mas Sua Majestade Satânica não tem pares ou, mesmo que tivesse, eles certamente o julgariam de forma conivente e certamente acabariam por absolvê-lo. Portanto, quaisquer que sejam as condições, como poderiam ser julgadas as suas cúmplices? — H. C. Shurtleff, “The Grotesque in Law” [“O Grotesco no Direito”], artigo publicado na American Law Review [Revista Americana de Direito], Janeiro-Fevereiro de 1920

[Nota: Tive algumas dificuldades na tradução do relato “grotesco” acima. Não tanto pelo absurdo da situação em si, mas pelas diferenças — principalmente de jargão — entre o sistema legal britânico e o nosso. Por isso, deixei o original de alguns termos que me causaram dúvidas entre colchetes. Se alguém puder confirmar que essa tradução é adequada ou puder apontar alguma melhoria ou correção, por favor manifeste-se através de comentário. Grato.]

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Em uma palavra [75]

eloísmo
s.m. adoração de deus sob o nome de Eloim (ou Elohim), em vez de Jeová (ou Javé). eloísta, adj. culto ou seguidor de culto caracterizado pelo eloísmo.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pé na tábua!


Não importa se seu veículo foi ou não foi feito para correr: há certas situações em que o melhor a fazer é pisar fundo. Foi isso que Albert Gunter deve ter percebido em janeiro de 1953. Motorista de um ônibus double-decker tipicamente londrino (sim, aqueles ônibus vermelhos de dois andares), Mr. Gunter estava atravessando a Ponte de Londres quando “parecia que a rodovia diante de mim estava caindo”.

“Tudo aconteceu terrivelmente depressa”, disse ele à revista Time. “Eu percebi que a parte em que estávamos estava se levantando. Foi horripilante. Eu senti que nós devíamos seguir em frente ou poderíamos cair no rio. Então, eu acelerei.”


Mr. Gunter correu o máximo que pôde com o duplo busão até o topo da pista em ascensão e saltou até o outro braço da ponte, que ainda estava subindo um pouco mais lentamente, formando um desnível de 6 pés (1,82m). “Eu pensei que aquela [parte] já tinha começado a subir também”, explicou o audaz motorista.

Depois de um pouso que certamente não foi dos melhores, o ônibus quebrou a suspensão. Mr. Gunter quebrou uma das pernas e 12 dos 20 passageiros ficaram feridos. Mas Gunter não foi despedido pelo acidente. Pelo contrário: o motorista-voador ganhou um bônus de ₤10 no fim do mês.

domingo, 16 de outubro de 2011

Ser pobre é coisa do Demo!


Russell Herman Conwell (1843-1925) foi um pastor e escritor norte-americano. Mais ou menos um Edir Macedo ou Waldemar Costa Neto, como se verá. Ele tornou-se conhecido por ser o fundador da Temple University. No entanto, seu livro-pregação mais famoso, Acres of Diamonds, publicado em 1916, revela muito sobre a mentalidade evangélico-americana e sobre o ofício de ser pastor:

  • Eu digo que você deve ficar rico e que é seu dever ficar rico. [Como você vai ficar rico? Te vira! Mas antes me pague o dízimo pelo amor de Deus!]
  • Fazer dinheiro honestamente é pregar o evangelho. [Mas pregar o evangelho é a maneira mais desonesta de fazer dinheiro!]
  • O homem que faz dinheiro honestamente pode ser o mais honesto que se encontra na comunidade. [Pode ser, mas nem sempre é]
  • Um homem não é um homem de verdade até que tenha sua própria casa e aqueles que têm suas casas são mais honoráveis e honestos e puros, mais verdadeiros e econômicos e cuidadosos, por possuir a casa. [Um sem-teto, então, não deve passar de um animal selvagem]
  • Não há uma pessoa pobre nos Estados Unidos que não tenha se tornado pobre por suas próprias limitações ou pelas limitações de outros. De qualquer modo, é completamente errado ser pobre. [E ela deve continuar pobre! Enquanto isso, Wall Street dá graças a Deus e vai dormir tranquila.]
  • Amor é a maior coisa de Deus na Terra, mas mais bem-aventurado é o amado que tem montes de dinheiro. [Afinal, você pode precisar subornar algum pastor para conseguir sua vaga no céu]

Ao ser questionado se não simpatiza com os pobres do mundo, Russell Conwell responde dizendo que claro que sim, que ele simpatiza com alguns, mas  que “simpatizar com um homem a quem Deus puniu por seus pecados, ajudando-o quando Deus está apenas fazendo uma justa punição é cair no erro”. Ou seja, ajudar um pobre é ir contra a vontade divina, pois o pobre-coitado é um pecador, uma vítima do carma da justiça divina. O destino do pé-rapado é ser infernizado na Terra. Essa é praticamente a essência do cristianismo... #NOT!

Além de ser um pastor bem pouco cristão, Mr. Conwell foi um dos pioneiros dessa praga literária chamada literatura de auto-ajuda (e cristã, é claro). Eis alguns títulos: Health, Healing and Faith [Saúde, Cura e Fé], Increasing Personal Efficiency [Aumentando a Eficiência Pessoal], Praying For Money [Orando por Dinheiro] e What You Can Do with Your Will Power [O que você pode fazer com sua força de vontade].

sábado, 15 de outubro de 2011

Patentes patéticas (nº 29)

Não existe coisa mais fofa e amável do que pais que leem para as crianças. É uma demonstração de carinho que pode ser inesquecível e cria um vínculo muito forte entre pais e filhos. Diria mesmo que isso é o equivalente cultural da amamentação.

Mas há pais por aí tão preocupados com a psicologia infantil que acham que devem manter contato visual com seus pimpolhos o tempo todo. Afinal, vai que os pequenos fiquem traumatizados e resolvem te matar pela herança um dia? Patrick T. Marshall, de Tipp City, Ohio, deve ser um desses pais superprotetores. Ele é o inventor de um “Método e aparelho para observação em via dupla durante a leitura” descrito da seguinte forma:
Um dispositivo especular anexável a um livro que permite ao leitor de um documento textual ver a expressões faciais do jovem adulto, criança, infante ou bebê que está ouvindo em íntima proximidade com o leitor. O ouvinte também pode ver os movimentos mecânicos (sic) dos lábios do leitor, acelerando o processo de aprendizado da leitura.

Além de um pequeno “material reflexivo” (a.k.a. espelho) que pode ser preso nas capas de “livros ou qualquer outro documento adequado”, o invento de Mr. Marshall pode contar opcionalmente com “uma luz ajustável que pode ser pivotalmente instalada no espelho do livro”. Mr. Marshall entrou com o pedido da patente em 3 de fevereiro de 2003. Praticamente dois anos mais tarde, em 8 de fevereiro de 2005, o Escritório de Patentes dos Estados Unidos, reconheceu seu invento e emitiu a patente de nº. 6.851.825. Ainda segundo a patente:
Muitos pais que leem para seus filhos antes de dormir não percebem todas as incríveis e maravilhosas expressões que suas crianças criam enquanto se lê para elas. Esse problema é resolvido quando a criança senta-se no colo do pai e com um livro e a invenção do espelho para livros presa à capa do livro. Então o pai ou o filho pode ajustar a posição do invento e do livro até que ambos possam ver a reflexão um do outro enquanto usam o espelho. O leitor agora está pronto a ler as páginas do livro enquanto olha periodicamente para o ouvinte. Similarmente, enquanto o leitor articula as palavras das páginas do livro ou revista, o ouvinte pode usar o espelho para correlacionar os movimentos labiais do leitor com o áudio das palavras que estão sendo faladas.

Note-se onde essa patente — aparentemente bem-intencionada — se torna patética: tanto a criança quanto o adulto só vão usar o espelho para se olhar “periodicamente”. Ora, quando se lê para alguém, qualquer um faz isso diretamente, sem precisar de espelhos. Só isso já torna inútil a criação de Mr. Marshall. E embora o aprendizado através da leitura labial possa ser importante em muitos casos, isso não se faz (pelo menos até onde eu sei) com o uso de espelhos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Imposto Nasal

Já falamos sobre alguns dos impostos mais absurdos já inventados em umas 10 Dimensões. Infelizmente (ou não), só agora eu encontrei a seguinte tributação:
No século IX, quando os Dinamarqueses estavam cuidando das coisas na Irlanda, eles impuseram — para desgosto dos nativos — uma taxa anual de uma onça de ouro sobre cada chefe de família irlandês. O não-pagamento seria punido com a amputação do nariz. Os Irlandeses nunca foram notáveis por suas riquezas e o ouro era quase tão escasso quanto as cobras na Ilha Esmeraldina. Consequentemente, a taxa era um grande peso, e a maioria dos pais de família era incapaz de pagá-la. A lista de inadimplentes logo tornou-se algo formidável e parecia quase certo que a Irlanda se tornaria um país de sem-narizes. Após se sujeitar por treze anos, o povo levantou-se e, irado, massacrou muitos de seus opressores. Estes entenderam o recado e a odiosa lei foi banida. — Albert W. Macy, Curious Bits of History [Bocados Curiosos da História], 1912

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Desafio Aceito


Num meio-dia de primavera em Paris, há alguns anos, um velho caminhão quebrou no meio da Place de lÓpera. O motorista teve que se esgueirar por baixo dele por meia hora para fazer os reparos. Após pedir desculpas ao guarda de trânsito pelo transtorno causado, o caminhoneiro partiu — e foi receber alguns milhares de dólares de amigos que haviam apostado com ele que ele não conseguiria passar 30 minutos deitado no meio da rua de maior trânsito de Paris em pleno horário de pico. Seu nome era Horace De Vere Cole [1881-1936], o mais famoso brincalhão da Inglaterra. — Collier’s, 1948

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Um empurrãozinho gravitacional

Modelo de variação gravitacional na superfície da Terra. Quanto maior (e mais vermelha)
a deformação, maior a gravidade.

“Gravidade — é a Lei!” Isso é o que Beakman sempre nos lembrava com os tombos que aconteciam em seu programa. Aparentemente, porém, os cientistas que descobriram supostos neutrinos superlumínicos (mais rápidos que a luz) não se lembraram dessa força fundamental. Segundo Alex Knapp conta em seu blog na Forbes (!?), um novo artigo escrito por Carlo Contaldi, do Imperial College de Londres, contesta os cálculos que a equipe do OPERA apresentou como evidência para a descoberta de neutrinos que quebraram a barreira da luz.

Em qualquer experimento bem conduzido, relógios sincronizados são essenciais para uma marcação precisa do tempo. Se esses relógios não estiverem bem ajustados, mas forem usados para cálculos de velocidade, o resultado pode ser errado. O problema básico com os dados do OPERA, argumenta Contaldi, é que os relógios usados para medir a velocidade dos neutrinos não estavam adequadamente sincronizados.

Os relógios usados no experimento eram sincronizados via GPS. No entanto, segundo o crítico italiano, isso não é suficientemente preciso. Pode haver discrepancias porque a gravidade em diferentes lugares da superfície da Terra não é constante. A gravidade no local onde fica o CERN — na fronteira franco-suíça e não muito longe dos Alpes — e de onde os neutrinos saíram é ligeiramente maior do que a gravidade de onde fica o detector OPERA — no centro da Itália. Consequentemente, o tempo poderia parecer passar mais lentamente no CERN para quem estivesse no OPERA. Desconsiderar essa diferença, segundo Contaldi, significa que “a medição resultante da velocidade do neutrino diferente de c não é apenas pouco surpreendente, mas deveria ser esperada nesse contexto.”

Evidentemente, os cientistas do OPERA ainda não se deram por vencidos e dizem que Contaldi não descreve exatamente os meios pelos quais o grupo sincronizou seus instrumentos. Mas o OPERA aceitou o desafio e pretende revisar seu artigo para esclarecer este ponto. É uma briga das boas. Como toda boa ciência.

(via discoverynews via tumblr)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Em uma palavra [74]

quirossofista
s.m. e f. 1. praticante de quirossofia. 2. aquele que faz uso dos gestos, especialmente com as mãos, para enganar ou iludir. 3. ilusionista; prestidigitador; quirônomo. “Todo o dinheiro do crédulo foi para nas mãos do quirossofista [do grego cheiros = mão + sophistés = sofista, impostor]

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Igreja Fatiada


Dizem que a fé move montanhas. Mas a engenharia move igrejas:
Um dos mais incomuns feitos da engenharia em tempos recentes foi a moção da torre de 1814 toneladas de uma igreja em Detroit para abrir espaço para o alargamento de uma rua. A torre de pedra de 55 metros foi movida por sete homens sob os olhares de centenas de espectadores que seguravam o fôlego. Trabalhando sob a direção de Carl F. Henrichsen e Carl A. Johnson, veteranos motores de edifícios, os homens primeiro removeram uma secção de 8,2296m da igreja para que a fronte pudesse ser movida para trás o mesmo tanto. A porção frontal foi então levantada e colocada sobre calços. Polegada por polegada a estrutura foi empurrada através de força manual até encostar na parte posterior da igreja, quando os calços foram retirados e a fundação foi rapidamente cimentada. Devido ao risco de desequilíbrio e tombamento da torre, foi necessário eliminar todo o equipamento mecânico. — Modern Mechanix, Dezembro de 1936

Antes que me perguntem: sim, a Central Methodist Church de Detroit está de pé até hoje. Quase 8,3 metros mais curta, mas está.

domingo, 9 de outubro de 2011

Contos Traduzidos: “As duas faces de Hargraves”

Todo mundo sabe que um ator pode ser alguém que tem duas caras ou até mesmo dois escrúpulos. A princípio, essa é a situação do desconhecido ator Henry Hopkings Hargraves diante de seus colegas de pensão em Washington. Quem mais desconfia dele, porém, é o Major Pendleton Talbot, a figura mais exótica da pensão de Ms. Vardeman. No entanto, Mr. Hargraves adora aquele velho senhor do Alabama, cheio de Anedotas e Reminiscências. Tanto que, no momento em que Talbot mais precisa de ajuda — embora seu orgulho sulista não o admita — é Hargraves quem lhe estende a mão. Nem que, para isso, ele tenha que mostrar sua outra face.

As duas faces de Hargraves é o retrato do confronto ente duas éticas conflitantes: a do jovem artista urbano e a do velho escravocrata rural. Este conto de O. Henry é o protótipo do estilo do autor. Trata-se de uma observação aguda da sociedade americana de sua época, com muita ironia, muito wit e, acima de tudo, cheia de reviravoltas. 

Esta tradução, enriquecida com notas e perfis biográficos do autor e deste tradutor, está disponível para leitura e download no Google Docs.

sábado, 8 de outubro de 2011

Patentes patéticas (nº. 28)

Para um gentleman, não há nada mais deselegante que naufragar durante uma viagem transatlântica e acabar com o chapéu e o bigode molhados e ainda ter seu charuto apagado pelo mar. Foi pensando nisso que um tal de Camille Krejci, de Scranton, Pensilvânia, inventou um colar-salva-vidas por volta de 1870.

Trata-se simplesmente de uma bóia — talvez feita com a recém-inventada borracha — e que é inflada em caso de naufrágio de modo a manter a cabeça do usuário acima da água até que o resgate chegue. A ideia não parece tão patética à primeira vista, já que as viagens transatlânticas (e os acidentes decorrentes) tornar-se-iam cada vez mais comuns no último quarto do século XIX. 

No entanto, essa patente pode ser bastante patética quando se lembra que o resgate podia levar uns quatro ou cinco dias para chegar ao distinto cavalheiro. O lado bom é que ele ainda vai poder fumar os charutos que conseguir salvar (como acendê-los em tal condição fica como um exercício para o leitor). Evidentemente, tudo isso só é possível se o local do desatre marítimo não for habitado por tubarões ou outras feras marinhas.

A patente, de nº. 100.906, emitida em 15 de março de 1870 é tão antiga que não tem muito mais do que um par de desenhos e uma brevíssima descrição do invento.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Uma pequena (e bem pequena) bolha imobiliária

Em 1955, o programa de rádio canadense Sergeant Preston of the Yukon anunciou que cada criança que comprasse uma caixa do cereal Quaker Oats receberia de graça uma escritura de uma polegada quadrada de terra no território de Yukon. A empresa comprou 19 acres [a medida agrária, não o Estado] perto do Rio Yukon, dividiu-a em lotes polegarinos e incluiu as escrituras — talvez igualmente pequenas — nas caixas de cereal como brinde.

No total, 21 milhões de lotes foram distribuidos dessa forma. Como nem todos os consumidores eram crianças, logo começaram a surgir pessoas dispostas a explorar as possibilidades de propriedades tão pequenas. 

De acordo com Charles C. Geisler, em Property and Values [Propriedade e Valores, 2000], um dos proprietários declarou independência de seu minúsculo domínio — o que talvez a tenha tornado a menor micronação do mundo — ao passo que outro procurou doar seu título em troca da criação do menor parque nacional do planeta. 

Um garoto tentou mandar quatro dentes-de-leite para cercar sua propriedade, mas isso não foi possível porque as escrituras estipulavam que cada proprietário deveria reconhecer o direito dos demais de cruzar sua polegada livremente. Além disso, é provável que cada dente ocupasse inteiramente as quatro polegadas adjacentes, que já tinham dono.

Já em Canadian Literary Landmarks [Divisas Literárias Canadenses, 1984], John Robert Colombo conta a história de um colecionador visionário (e talvez um megalômano em pequena escala) que reuniu 10.000 escrituras e pediu para fundir suas propriedades em um grande território: “seu pedido foi negado, uma vez que em lugar nenhum da Escritura de Terreno afirmava-se que as polegadas quadradas [reunidas pelo peticionário] fossem adjacentes.”

Mas quem mais trollou nessa pequena bolha imobiliária foi a própria Quacker Oats. A empresa nunca registrou oficialmente o imenso loteamento e nem pagou impostos sobre a área que comprou. Alguns anos mais tarde, aqueles 19 milhões de acres foram devolvidos para o governo canadense.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Justiça sensorial

Outro julgamento francês relatado é o de um mendigo que, estando faminto, foi até a porta de uma casa de repasto e inalou o aroma do jantar até se restaurar. Ele foi processado pelo proprietário para pagar o preço de um jantar. O mendigo declarou que não havia tomado nada, mas a acusação declarou que ele havia se recuperado às suas expensas. O juiz deu a esse caso uma sentença que bem deveria ser imitada por nossos juízes superiores e finalmente decidiu que, assim como o réu havia sido recuperado pelo aroma do jantar, o proprietário deveria ser compensado pelo ouvir do tilitar de moedas. — H.C. Shurtleff, “The Grotesque in Law” [“O Direito Grotesco”]American Law Review [Revista Americana de Direito], Janeiro-Fevereiro de 1920

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Biblioteca na Linha




Construída em 1901, a Haskell Free Library and Opera House pode ser considerada a primeira — e única — biblioteca transnacional do mundo. A biblioteca fica situada na fronteira entre Derby Line, Vermont, Estados Unidos e Stanstead, Quebec, Canadá. 

A porta de entrada fica em território americano, mas a seção de circulação e todos os livros da biblioteca estão em território canadense. É preciso cruzar uma linha pintada no piso, que representa a fronteira, para ter acesso aos livros. Quando há apresentações teatrais ou de ópera, as peças são encenadas sobre um palco canadense para uma platéia que fica em solo estadunidense.
Projeção da fronteira sobre um velho cartão-postal

Isso faz da Haskell Free Library uma biblioteca realmente livre, em certo sentido. É a única biblioteca dos EUA sem livros e a única casa de ópera americana sem palco — ou, se preferir, livre de livros e livre de palco, respectivamente. Simetricamente, a Haskell é a única biblioteca do Canadá sem entrada e um palco canadense sem público — ou livre de entrada e livre de público.

Haskell Line: a linha preta divide a sala de leitura entre EUA e Canadá

Graças a essa situação, pode haver implicações bastante interessantes do ponto de vista do direito internacional. A peculiaridade geográfica da Haskell Free Library and Opera House permitiria que um público americano pudesse assistir a uma peça teatral que fosse censurada em seu território sem infringir a lei e sem ter que sair do país. Afinal, todos os atores poderiam ser canadenses atuando sobre um palco situado no Canadá. Por outro lado, os leitores dos Estados Unidos que frequentam a biblioteca não poderiam ler um livro que tivesse sido censurado pelos canadenses.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Em uma palavra [73]

paragonar / parangonar
1. v. Comparar coisas ou pessoas buscando observar semelhanças ou diferenças entre elas; assemelhar; cotejar; fazer paralelo entre. 2. Artes Gráficas. Alinhar o texto a ser impresso de um ou de ambos os lados. 
|| paragão, s.m. comparação, semelhança, paralelo; por extensão, modelo. var. parangona e parágono [do italiano paragonare; cf. com o inglês paragon = modelo exemplar; padrão superior, de mesma etimologia]

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Será que era só um cafezinho?

Sexauer [que, como você vai perceber, pronuncia-se da mesma forma que “Sex Hour”] é um nome alemão comum, referente aos naturais de Sexau, no sul da Alemanha. Procurando por um Mr. Sexauer, um homem de Washington ligou para o Comitê de Comércio Interestadual e Internacional do Senado. Tentando ajudá-lo, uma funcionária ligou para o Comitê de Finanças e Bancos através de ligação interna e perguntou, educadamente: “Você tem algum Sexauer por aí?”
“Ouça”, disse a telefonista da outra repartição, com um suspiro. “Nós não temos mais nem uma pausa de dez minutos para o café.”
— Elsdon C. Smith, Treasury of Name Lore [Tesouro da Tradição Oral dos Nomes], 1967

domingo, 2 de outubro de 2011

A Rede Social (1982)

Em maio de 1982, a CompuServe publicou o seguinte anúncio de seu “sistema de videotexto” na revista Inteface Age. Mensagens eletrônicas, murais e jogos em rede com amigos virtuais — muito do que hoje se considera características de redes sociais — já existiam naquela época.


A seguir, uma versão traduzida do anúncio acima e um pouco da história da CompuServe:

sábado, 1 de outubro de 2011

Patentes patéticas (nº. 27)


Não é de hoje que os fumantes sofrem (e são incompreendidos), sendo levados a restrições de ordem social, como acender seu cigarrinho e relaxar apenas em áreas privadas ou em zonas para fumantes. Preocupado com essa “segregação” dos fumantes, o californiano Walter C. Netschert resolveu fazer algo para resolver o problema.

Já que largar o vício (que vício?) nem sempre é uma ideia agradável, Mr. Netschert criou um meio para acabar com o isolamento de quem fuma. Assim, em 25 de maio de 1988, ele entrou com pedido de patente para um “Chapéu para Fumantes”, descrito como
 

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