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segunda-feira, 25 de julho de 2011

De Dase a Lemaire

Quais os maiores números que você já multiplicou de cabeça? Certa vez o jovem alemão Johann Martin Zacharias Dase (1824-1861) teria multiplicado dois números de 100 dígitos. De cabeça. Ele levou 8 horas e 45 minutos para terminar a operação. Entretanto, outro prodígio matemático, Gauss (1777-1855), estimou que um matemático hábil, usando apenas papel e lápis, levaria só metade daquele tempo para cumprir a mesma tarefa de Dase. Mas Zacharias não era um matemático e mal aprendeu o básico de teoria matemática quando tentaram lhe ensinar. 

Zacharias Dase: “Eu não preciso de lápis e papel. Beijos.”
Ele simplesmente contava, com uma rapidez incrível. Aliás, ele talvez nem contasse. Segundo Douglas Hofstadter em Gödel, Escher, Bach, “[...] ele tinha um senso de quantidade sisnistro. Isso é, ele podia apenas ‘dizer’, sem contar, quantas ovelhas ovelhas havia num campo ou quantas palavras em uma sentença e assim por diante [...]”


Em 1844, o prodígio de Hamburgo chegou a calcular de cabeça π com 200 casas decimais, um recorde para a época. Apesar de ganhar fama em toda a Europa como calculador mental, a habilidade de Dase não lhe trouxe dinheiro algum. Portador de epilepsia desde a infância, ele fez apresentações de suas habilidades em Berlim, Mannheim e Viena, onde chegou a trabalhar temporariamente no Departamento Ferroviário para se manter. 

Depois de muitos anos e pouco dinheiro, Zacharias Dase voltou para Hamburgo. Ele finalmente havia sido reconhecido e convidado para atuar como matemático de tempo integral na Academia de Ciências de Hamburgo. Infelizmente, ele morreu aos 37 anos, pouco antes de começar a trabalhar profissionalmente.

Pois bem, o tempo passou e mostrou que até Gauss pode ter se enganado em sua defesa do lápis e papel. E, até onde se sabe, não estamos falando de computadores eletrônicos ou inteligências artificiais, mas de alguém que trabalha com eles. Em 17 de dezembro de 2004, o cientista da computação e pesquisador de inteligência atrificial francês Alexis Lemaire, então com 24 anos, computou mentalmente a raiz décima-terceira de um número que também tinha 100 dígitos. 

Abram alas, por favor:  
3.893.458.979.352.680.277.349.663.255.651.930.553.265.700.608.215.449.817.188.566.054.427.172.046.103.952.232.604.799.107.453.543.533.

Alexis Lemaire: “Por favor, só mais um segundinho.”

Embora fosse uma operação completamente diferente da efetuada por Dase no século XIX, Lemaire deu a resposta correta — 45.792.573 — em apenas 3,625 segundos. Mas o recorde parece tão incrível que ainda não foi reconhecido oficialmente. O recorde anterior oficialmente aceito era de 88 segundos, ou pouco mais de um minuto. Os matemáticos argumentam que como não há uma forma padrão de estabelecer ou medir um tempo-padrão para a extração de raízes de grandes números aleatórios, não há como fazer novas medições. Assim, Lemaire pode ser o último recordista, numa linhagem que remonta ao próprio Zach Dase e suas quase nove horas. Sem papel, é claro.

Um comentário:

  1. Fiquei impressionado, conheci seu blog agora e amei.. alem de me identificar com sua dimensão pessoal

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