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quarta-feira, 27 de julho de 2011

O futuro, segundo uma cabeça falante (1987)


A matéria de capa da OMNI Magazine — então uma importante revista americana de ciência e ficção científica — no distante mês de janeiro de 1987 era um tanto clichê: “14 great minds predict the future” [14 grandes mentes preveem o futuro]. A OMNI perguntou a pessoas que então eram importantes, nos mais diferentes campos, o que a humanidade podia aguardar para 2007. Houve, previsivelmente, previsões sobre um pouco de tudo: da paz no Oriente Médio à TV em 3D.

Hoje, uma das mais interessantes, por seu tom pessimista e por seu tremendo equívoco tecnológico é a que foi feita por David Byrne. Ao olhar para sua bola de cristal e escrever sobre o futuro da arte, da televisão e do pop, o vocalista e compositor do Talking Heads viu um futuro um tanto conservador, no qual os computadores nunca seriam capazes de auxiliar artistas em seu processo criativo. Um excerto da sua previsão para a OMNI é o que segue:

David Byrne, vocalista, Talking Heads
Eu não acho que os computadores terão qualquer efeito importante nas artes em 2007. Quando se trata de artes, eles são apenas grandes ou pequenas calculadoras. E se eles não podem “pensar”, isto é tudo que sempre serão. Eles podem ajudar pessoas criativas com a organização de seus livros, mas eles não vão ajudar no processo criativo.
A revolução do vídeo, porém, terá algum verdadeiro impacto nas artes dos próximos 20 anos. Aliás, já teve. Por que o tempo de atenção das pessoas está se tornando cada vez menor e mais ficção e drama serão feitos pela televisão, que é um meio perfeito para isso. Mas eu não acho que qualquer coisa será extinta; os livros continuarão lá; tudo encontrará seu lugar.
Canais para a arte, no mercado e na televisão, vão se espalhar e se multiplicar. Até mesmo as três grandes redes de TV [aberta dos EUA: ABC, CBS e NBC] vão apresentar uma programação mais especializada para atrair grupos de interesse específicos. As redes serão libertadas da necessidade de tentar agradar todo mundo, o que elas fazem agora e inevitavelmente acabam com uma atração tão estúpida que não agrada a ninguém. Obviamente, essa multiplicação de canais irá beneficiar as artes.
Eu não acho que veremos a arte participativa que tantas pessoas preveem. Alguns usarão novos equipamentos para fazer arte, mas serão as mesmas pessoas que estariam fazendo arte de alguma forma. E eu ainda penso definitivamente que o público em geral estará interessado na arte que um dia foi considerada avant-garde.

Evidentemente, nem tudo o que Byrne disse sobre 2007 saiu errado. Seu parágrafo sobre a revolução do vídeo e da acomodação entre novas e velhas mídias mostrou-se bastante correto nos vinte anos que o seguiram. A fragmentação das audiências na TV também está basicamente correta, embora isso tenha acontecido mais na TV por assinatura (ou por causa dela) do que nas redes abertas, sejam elas grandes ou pequenas. Seu maior erro, porém, foi sua desconfiança em relação aos computadores enquanto ferramentas criativas — mas talvez ele não pudesse prever o impacto da então nascente rede mundial de computadores e da emergência de uma cultura globalizada e virtual que veio de brinde, com seus memes, seus videos no YouTube e suas redes sociais.

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