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sábado, 5 de março de 2011

Hamlet: Uma comédia de erros?

ham

Em 1889, Fredericka Raymond Beardsley Gilchrist propôs a teoria de que todo o sentido de Hamlet havia sido confundido por causa de um mero erro tipográfico. Na Cena V do Ato I, a sombra revela a Hamlet o adultério de sua mãe e o assassinato de seu pai. Então, Hamlet responde:
O all you host of heaven! O earth! what else?
And shall I couple hell? O fie!
[Ó legiões do céu! Ó terra! Que mais, ainda?
Invocarei o inferno?]
Mas Mrs. Gilchrist afirmava que o segundo verso deveria ser lido assim:

hamleto
O gatinho Hamlet — leva um tempão pra morrer.

Mrs. Gilchrist obviamente não queria um Hamlet encenado em forma de LOLcat. Desculpem a nossa falha. A redação proposta por ela é a seguinte:
And shall I couple? Hell! O fie!
[lit. E deverei eu formar um par? Para o Inferno!]
Ou, em bom português, “E eu ainda casar-me-ei? Não!” A autora de The True Story of Hamlet and Ophelia [A verdadeira história de Hamlet e Ofélia] argumenta que, no estado em que estava, após saber dos crimes em sua família, Hamlet não teria condições de parar e procurar algo para acrescentar a ‘céus!’ e ‘terra!’ em suas exclamações. 

Para ela, portanto, Hamlet se dá conta do risco de seu casamento com Ofélia. O príncipe da Dinamarca, então, desistiria de seu amor e o resto da peça é a história de um “amante infeliz”. Fredericka compara e apresenta diversas edições (como as de 1603, 1604 e 1623), mas reconhece que “Nenhures encontrei a leitura que eu procuro. Mas estou convencida de que a presente leitura não é a verdadeira.”
hamlet1
“A Trágica História de Hamlet, príncipe da Dinamarca” (edição de 1605).

No entanto, ela insiste:  “A pontuação do Folio não foi feita por Shakespeare. Essa pontuação diferia da dos Quartos, elas divergiam entre si e todas são distintas da pontuação moderna: Acredito que todas são incorretas.” Ela segue argumetando sobre as confusões da pontuação do inglês da época de Shakespeare.

Entretanto, ela parece se esquecer de que Hamlet surgiu numa época em que tanto a língua inglesa quanto a imprensa já estavam bem estabelecidas. Embora um erro de pontuação na transcrição ou na tipografia seja perfeitamente possível, ela não apresenta nenhuma edição que comprove sua tese. Mas defende sua interpretação de forma tão peremptória e apaixonada que ela tenta contrabalançar com uma dose de humildade (bastante falsa, diga-se de passagem):
Por quase três séculos tem sido possível mal-entender, não apenas passagens específicas, mas a intenção fundamental da peça. Durante esse tempo nenhuma explicação satisfatória de todas as suas obscuridades foi apresentada. Eu acredito que essa teoria as explica. Contrariando a aparente vaidade e presunção da afirmação anterior, tal crença baseia-se em cuidadosos estudos e comparações. — Fredericka R. B. Gilchrist, The True Story of Hamlet and Ophelia [A verdadeira história de Hamlet e Ofélia], 1889

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