Pesquisar este blog

domingo, 20 de março de 2011

“Uma Noite em Atlanta”

Em pleno século XXI, há gente que ainda não leva a Ficção Científica a sério. Em 2004, a pequena editora PublishAmerica desdenhou abertamente da FC, afirmando que jamais publicaria uma obra do gênero por ser uma “editora tradicional” e de alto padrão (o site informava que eram recebidos mais 70 originais por dia, a maioria dos quais era rejeitada). 

Irritada e imbuída do mais puro espírito de trollagem, a “família sci-fi” decidiu dar uma lição na PublishAmerica. Dezenas de autores do gênero colaboraram para criar o pior romance possível apenas para testar o suposto alto padrão editorial da empresa. O resultado foi Atlanta Nights:




Ela foi até a porta, seus quadris balançavam feito palmeiras em meio a um furacão no Havaí.
Bruce estava deitado na cama, tentando recuperar sua memória. Tudo o que ele podia se lembrar era o guinchar dos pneus, como um motor a vapor descontrolado, e depois havia apenas dor. Inferno sobre rodas, isso é que era, yeses [sic].
Inferno.
Sobre rodas.

E este é apenas o fim do primeiro capítulo.

Além de trechos desse nível, Atlanta Nights tinha vários outros defeitos especiais: faltava um capítulo (o 21), dois capítulos eram literalmente idênticos (4 e 17), havia dois capítulos com a mesma numeração (12 e 12). Também havia falhas plantadas na trama: os personagens mudavam de gênero e cor — e até morriam e reapareciam — sem explicação. O capítulo 34 era totalmente aleatório, pois foi gerado por um computador com base nas frases mais frequentes dos capítulos anteriores (inclusive os repetidos). O final explicava que tudo era um sonho, mas não estava no último capítulo. Para completar, a ortografia e a gramática eram totalmente inconsistentes.

Apesar de tudo isso, a PublishAmerica mordeu a isca: o original foi aceito em Dezembro de 2004. Um mês mais tarde, os autores revelaram a farsa ao público. Somente em 24 de janeiro de 2005, um dia após a revelação, a PublishAmerica rejeitou Atlanta Nights dizendo que após uma “revisão extra” a obra não passara por seus padrões. 

Mais tarde, sob o pseudônimo “Trevis Tea”, Atlanta Nights foi publicada por uma editora digital, a Lulu. Os direitos de autor foram doados para instituições de caridade. E a história por trás do livro é tão sensacional que pode até virar filme. Vários fãs estão tentando levantar uma grana para rodar um filme dedicado ao pior livro já escrito. Eles precisam de US$ 25.000, mas só juntaram 1.000 até agora. Se você se interessar em financiar um filme...

“O mundo está cheio de livros ruins escritos por amadores”, escreveu a revisora Teresa Nielsen Hayden em uma resenha sobre o livro. “Atlanta Nights é um livro ruim escrito por profissionais.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Este espaço destina-se à ampliação das dimensões apresentadas no texto através uma discussão civilizada - o que exclui comentários que contenham ofensas pessoais ou qualquer tipo de preconceito (por cor, crença religiosa ou falta crença, gênero ou orientação sexual).

Postagens anônimas são permitidas, desde que não cometam qualquer abuso citado acima.

LinkWithin

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...