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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Albert Herpin, o homem que nunca dormiu

Albert Herpin, nascido na França em 1862 e há quinze anos cocheiro nesta cidade, declara que ele não pregou os olhos nos últimos dez anos. Apesar disso, ele está em perfeita saúde e não parace sofrer qualquer desconforto por sua notável condição. Ele vai para a cama regularmente, mas diz que nunca fecha seus olhos ou nem por um instante perde consciência sobre tudo o que acontece à sua volta. Ao amanhecer, ele levanta-se renovado e pronto para outro dia de trabalho entre os cavalos. Ele diz que a mudança de posição e a escuridão do quarto parecem dar-lhe todo o descanso que ele quer.
— “Hasn't Slept in Ten Years” [“Não Durmo há Dez Anos”], New York Times, 29 de fevereiro de 1904
A matéria dizia que Herpin sofria de insônia desde o nascimento de seu primeiro filho, vinte anos antes. Pouco tempo depois, Mrs. Herpin morreu e o cocheiro passou a dormir cada vez menos, até ser incapaz de “pregar os olhos” durante a noite. Ele, diz-se, não tinha sequer uma cama. O cocheiro descansava em uma cadeira de balanço onde, não raro, ele varava a noite lendo jornais.

Na época, aparentemente, a condição de Mr. Herpin não parece ter chamado muita atenção — nem mesmo dos primeiros neurologistas que começavam a explorar o cérebro humano. É possível que pouca gente tenha acreditado numa reportagem que não tinha nenhuma fonte a não ser um homem humilde, porém excêntrico.

Quase quarenta anos mais tarde, porém, o efeito Herpin (se é que houve algum) atraiu um batalhão de médicos. A cada dia dezenas deles visitavam o ex-cocheiro, agora aposentado. Diversas teorias surgiram e, embora nenhuma tenha sido comprovada, costuma-se explicar o caso como efeito de um ferimento sofrido pela mãe de Al Herpin dias antes de ele vir ao mundo. No entanto, tal teoria também é falha: ela não diz que ferimento seria capaz de tal efeito nem explica por que o cocheiro só deixou de dormir de vez quando tinha pouco mais de trinta anos.

Quando Herpin morreu, em janeiro de 1947, o New York Times ressuscitou a história. Dessa vez, porém, o jornalismo já era coisa mais profissional e o NYT foi (um pouco) mais cético:
A morte chegou hoje para Alfred E. Herpin, um recluso que vivia nos subúrbios da cidade e insistia em dizer jamais ter dormido. Ele estava com 94 anos e, quando questionado sobre sua “insoniedade”, afirmava que ele nunca cochilou realmente, mas apenas “descansava”. Nenhuma outra pessoa com insônia total viveu por um período tão longo. Aparentemente, ele morreu por outras causas e não pela falta de sono, já que sua insônia não parecia afetar suam saúde.
— “Man Who Said He Never Slept Dies at 94; New Jersey Doctors Are Skeptical of Claim” [“Homem que dizia nunca ter dormido morre aos 94; médicos de Nova Jersey duvidam”], New York Times, 4 de janeiro de 1947.
Notem a divergência sobre a data de nascimento de Mr. Herpin entre uma reportagem e outra: a primeira matéria diz que ele nasceu em 1862; a segunda afirma, implicitamente, que ele nasceu nove anos antes, em 1853.

Não há nada além da palavra de um homem, nem sequer uma fotografia foi tirada (eu, pelo menos, não encontrei). Nenhum jornalista ou cientista sequer tentou passar a noite com ele para comprovar a suposta insônia. E mesmo que ele não dormisse por uma noite inteira, poderia muito bem ser algo ocasional, quando não intencional. A história inteira portanto, tem pouca credibilidade e talvez não passe de um hoax inventado pelo próprio Herpin. Ou talvez até por um jornalista entediado, coisa que não é incomum.

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