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quinta-feira, 30 de junho de 2011

Filosofia Unicórnia


Quando eu penso em um unicórnio, o que eu estou pensando não é certamente [em] nada. Se nada fosse, então quando eu penso em um grifo, eu também estaria pensando em nada e não haveria diferença entre pensar em um grifo e em um unicórnio. Mas certamente há uma diferença. E qual pode ser essa diferença exceto que em um caso o que eu estou pensando é em um unicórnio e em outro, um grifo? E se estou pensando em um unicórnio, então certamente deve haver um unicórnio, apesar do fato de que os unicórnios são irreais. Em outras palavras, embora em um sentido certamente não existam unicórnios — isto é, quando se afirma que haveria equivalente para afirmar que unicórnios são reais —, em outro pode ser que tais coisas existam. Pois, se não existissem, não poderíamos pensar neles. — G.E. Moore, Philosophical Studies [Estudos Filosóficos], 1922.
O mesmo vale para duendes, fadas, elfos, hobbits, sacis e mulas-sem-cabeça, discos voadores, santos e deuses — todos existem, mas apenas dentro da cabeça de seus criadores. “O Homo sapiens”, declarou  a autora e editora americana Joyce Carol Oates, “é a única espécie que inventa símbolos que passa a revestir de paixão e autoridade. E depois esquece que símbolos são invenções.”

terça-feira, 28 de junho de 2011

Em uma palavra [59]

exparadisação
s.f., mitolog., relig. 1. a expulsação de Adão e Eva do Paraíso, na mitologia judaico-cristã. 2. por extensão, expulsão de qualquer ambiente considerado paradisíaco por seus habitantes. “A ação do homem sobre o meio-ambiente tem causado a exparadisação de animais silvestres e de povos nativos.”  [neologismo formado por comparação com expatriação, a partir de ex- = prefixo com sentido de exterioridade + paradiso = paraíso + -ação] Exparadisar, v. expulsar do paraíso.
Ufa! Pelo que eu me lembre, esse é — até agora — o verbete mais longo da série Em uma palavra

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Manual de Redação de Hemingway

O jovem Hemingway em 1916, pouco antes de entrar
pra essa vida perdida de jornalista-escritor-lobo-do-mar.

Excertos do Star Copy Style, o manual de redação do Kansas City Star, onde Ernest Hemingway começou sua breve carreira jornalística em 1917 (evidentemente, algumas dicas fazem mais sentido em inglês):


  • Use frases curtas. Use parágrafos de abertura curtos. Use Inglês vigoroso. Seja positivo, não negativo.
  • Elimine toda palavra supérflua: escreva “Velório será Terça, às 2 horas” e não “O velório será realizado às 2 horas na Terça”. “Ele disse” é melhor que “No curso da conversação, ele disse”.
  • Evite o uso de adjetivos, especialmente os extravagantes, como “esplêndido”, “deslumbrante”, “grandioso”, “magnífico”, etc.
  • Tenha cuidado com a palavra “also” [também; além disso]. Ela geralmente modifica a palavra mais próxima. “He, also, went” significa “He, too, went” [Ele, também, foi.] “He went also” significa que ele foi, além de tomar alguma outra atitude.
  • Tenha cuidado com a palavra “only” [só; apenas; somente]. “He only had $10” [Só ele tinha $10] significa que ele era o único dono de tal quantia; “He had only $10” significa que dez era todo o dinheiro que ele possuía.
  • Uma citação longa antes de introduzir o autor pode ser confusa e é ruim em qualquer situação. Interrompa a citação tão cedo quanto puder: “‘Eu gostaria’, disse o orador, ‘de informar o leitor que serei tão breve quanto possível.’”


“Aquelas”, lembrou Hemingway a um repórter em 1940, “foram as melhores regras que eu aprendi para o negócio de escrever. Eu nunca as esqueci. Nenhum homem com qualquer talento, que sente e escreve verdadeiramente sobre o que está tentando dizer, pode deixar de escrever bem se sergui-las.”

sábado, 25 de junho de 2011

Patentes Patéticas (nº 13)

Essa é para você, que é um sujeito multi-tarefas: tomar banho é um saco, não é mesmo? Ou pra você que tem um saco de dormir mas nunca o usou por que ninguém te convida pra acampar...

Enfim, se você realmente não quer perder tempo debaixo do chuveiro ou na banheira, é melhor usar esse “simples, econômico e portátil aparato de banho sanitário”, patenteado em 1913. Basta encher seu saco de banho (ou de dormir, se ele for impermeável) com água e sabão, entrar e puxar a cordinha para fechá-lo. Durante seu banho, você pode tomar um ônibus, fazer as compras, compor uma elegia, dormir — ou simplesmente navegar na internet.

Dica: “Alternando agachar e levantar dentro do saco ou rolando com o mesmo sobre uma cama ou o chão [...] o líquido na referida bolsa [...] pode simular as ondas do mar e assim prover gratificação ao banhista.” #senteamaresia

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Beer House, a Casa de Cerveja

John Milkovisch adorava cerveja. Mais que um simples bebedor, porém, ele era um amante fiel do líquido dourado (ou não...) produzido pelo Saccharomyces cerevisiae. Ele bebia um fardo de meia-dúzia de latinhas todos os dias — e depois guardava cada uma delas.

A barriga já diz tudo sobre Mr. Milkovisch

Apesar disso, ele também não era um colecionador fanático, daqueles que buscam as cervejas (e latas) mais raras ou estranhas do mundo. Ele simplesmente bebia e guardava aquilo que podia comprar. Aposentado no fim dos anos 1960, Milkovisch não queria se livrar de nenhuma latinha, mas sabia muito bem que não tinha espaço ilimitado para guardá-las.

Detalhe da cerca
No começo, Milkovisch revestiu as paredes externas e o topo da chaminé com suas latinhas. Obviamente ele continuava a beber e por isso teve buscar bons usos para as milhares de latas de cerveja que juntou. Com elas, ele fez móbiles, cercas, esculturas e cata-ventos. Os anéis foram usados para fazer cortinas.

Ao morrer, em 1988, John Milkovisch passou cerca de dezoito anos “encervejando” sua casa, sua cerca e até seu jardim com quase 39.000 latinhas.

“Algumas pessoas chamam isso de escultura”, disse Milkovich. “mas eu nunca tive que ir para uma escola caríssima para aprender essa loucura.”
 
Estudar Arte Moderna é para os fracos.
 
OBS: se você quiser visitar a Beer House (nem que seja pelo Google Maps), aqui está o endereço: 222 Malone, Houston, Texas, United States.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

O Otimismo de Dickens

Em certa ocasião, Charles Dickens discutia sua teoria de que quaisquer que fossem as provas e as dificuldades da estrada da vida, sempre haveria algo pelo qual um homem deveria ser grato. “Permita-me prová-lo com uma história”, pediu Dickens, acrescentando que “Dois homens estavam para ser enforcados em Newgate após serem condenados por assassinato. A manhã chegara; a hora final se aproximava: o sino [da Igreja] do Santo Sepulcro começou a dobrar, os condenados foram enfileirados, a procissão se formou e avançava para o momento fatal. As cordas foram enlaçadas nos pescoços dos pobres homens. Havia milhares de assistentes de ambos os sexos, de todas as idades; homens, mulheres e crianças diante do patíbulo. Então, de súbito, um touro que estava sendo conduzido a Smithfield partiu sua corda, e, balançando seus chifres para lá e para cá, jogava as pessoas por todos os lados. Diante disso, um dos condendados, voltando-se para seu companheiro igualmente desafortunado, observou: ‘Viu, Jack, que bom que não estamos na multidão!’” — J. B. Mc Clure, Entertaining Anecdotes from Every Source Avaiable [Anedotas Divertidas, de todas as fontes disponíveis], 1880

quarta-feira, 22 de junho de 2011

O Admirável Carteiro das Neves

John Albert Thompson levava uma vida tranquila cuidando de um rancho no Vale do Sacramento. Foi assim até 1856, quando ele soube que perto dali, os colonos de Placerville estavam tendo grande dificuldade para enviar e receber cartas para Nevada durante os meses de inverno. Se durante o resto do ano a viagem já era difícil pelo relevo acidentado, no inverno a Sierra Nevada ficava tão coberta de neve que parecia impossível manter o contato postal.

Mas não para Albert Thompson. Antes de emigrar para os Estados Unidos, ele aprendeu a particar esqui cross-coutry em sua Noruega natal. Quando soube do problema, disse que poderia fazer a jornada e atuar como carteiro durante o inverno. Carregando um malote postal de 40 kg nas costas e equilibrando-se com um grande bastão, Thompson normalmente fazia a viagem de 180 km em apenas três dias na ida e voltava em dois — no caminho ele comia apenas biscoitos, carne seca e bebia neve derretida. Ele se mostrou tão hábil que continuou no serviço durante vinte anos e se tornou conhecido como “Snowshoe Thompson” [algo como “Thompson Pé-de-Neve”]


“Se eu estou com meu mackinaw,” — disse Pé-de-Neve — “eu nunca congelo. O exercício me mantém aquecido. Na verdade, meu problema durante as nevascas, não é evitar o frio mas é que eu suo muito facilmente. Eu nunca passei frio nas montanhas”. O senso de orientação de Thompsom era infalível e ele salvou a vida de algumas pessoas que se perderam nas áreas montanhosas por onde ele passava. 

John Albert Thompson morreu em 1876, após prestar um serviço duro e arriscado por duas décadas — e pelo qual nunca recebeu.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Em uma palavra [58]

clinomania
subst. fem. o desejo, às vezes excessivo, de ficar na cama, especialmente durante dias frios e/ou chuvosos. Clinômano, adj. que ou aquele que “sofre” desse “mal”.
Eu admito: sou um clinômano incurável. Quem tem clinomania aí levanta a mão o/

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Fontana dei Matti

Em todo o mundo, muitos foram os que buscaram a Fonte da Juventude. Mas em Gubbio, uma pequena cidade medieval da Itália, não é difícil encontrar a Fonte da Loucura. Construída no século XVI, a Fontana de Bargello logo passou a ser chamada pelo povo de Fontana dei Matti [Fonte dos Malucos].


Até a fotografia enlouquece perto da Fontana dei Matti! (crédito: lucamoglia.it)

Situada na região da Úmbria, Gubbio sempre teve fama de ser um lugar de gente excêntrica. A Fonte dos Loucos fica no centro velho da cidade e ainda é um ponto de encontro para moradores além de ter se tornado uma atração turística.

De acordo com a tradição local, é possível conseguir uma licença de “matto di Gubbio” [louco de Gubbio] após dar três voltas em redor da fonte e ser batizado com suas águas — mas o batismo só vale se for feito por um cidadão nativo. Com uma grana dá até para conseguir um título de cidadão honorário e, como bônus, um certificado de maluquice legítima.

O folclore por trás (ou em em torno) da fonte pode não ser tão maluco (ou turístico) quanto parece à primeira vista. Estudos geológicos da área de Gubbio mostraram que o solo da cidadezinha italiana é rico em irídio, metal altamente tóxico — o que poderia explicar a secular fama de loucura de seus habitantes.

domingo, 19 de junho de 2011

Patentes Patéticas (nº 12)

Como muita gente, William Lamb não tinha sorte na pescaria. Mas diferente da maioria, ele buscou resolver seu problema com um pequeno aperfeiçoamento tecnológico. Após observar como gatos, cães e outros animais domésticos reagem diante de um espelho, Mr. Lamb supôs que o mesmo seria válido para os peixes. Assim, ele patenteou esse sistema de pesca especular em 1894. 


A patente explica: um peixe que se encontre diante do espelho fixado junto à isca “será atiçado contra seu suposto companheiro e será mais ágil ao morder a isca, para alcançá-la antes de seu competidor.”

O peixe, continua Lamb, com uma lábia digna de pesacador e que convenceu até o Escritório de Patentes dos Estados Unidos, “irá perder seus cuidados, e atacará a isca com tamanha agressividade que aumentará grandemente as chances de acabar preso ao anzol.”

O registro da patente, porém, não deixa muito claro se o espelho, assim como a isca, deve ser substituído depois de cada fisgada.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

A Mosca Supersônica de Townsend

O Cheetah (ou Guepardo) pode alcançar velocidades de mais de 70 milhas por hora [112 km/h]. Em um mergulho, o Falcão-Peregrino pode chegar a 200 mph [322 km/h]. Mas, em 1927, o entomologista Charles Townsend (1859-1944) estimou que uma espécie de mosca-varejeira que ele observou no Novo México voaria a 400 jardas [365 metros] por segundo — o que equivale a 818 mph [1316 km/h]. Seria o suficiente não apenas para ultrapassar os dois animais mais velozes mas a própria barreira do som: 1226 km/h.

Por mais incrível que pareça, o suposto recorde de velocidade animal resitiu por longos 11 anos. Só caiu em 1938, quando o químico Irving Langmuir (1881-1957) detonou a estimativa de Townsend em um minucioso artigo publicado na Science. Entre outras coisas mais óbvias, Mr. Langmuir — laureado com o Nobel de Química em 1932 — apontava os seguintes contras para o recorde da varejeira:

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Fim da Linha

Em 12 de junho de 1940, um homem correu até a plataforma da estação ferroviária de Dingle, na Irlanda, e perguntou a alguns operários quando o partiria o próximo trem para Tralee. Os trabalhadores olharam para o desconhecido por um tempo até que um deles disse: “O último trem que partiu para Tralee saiu há 14 anos. Acho que pode levar uns 14 até que o próximo trem saia.”

Duas horas mais tarde, o homem apressado e perdido encontrava-se numa cadeia não muito longe dali. Após identificá-lo como Walter Simon, a polícia irlandesa descobriu que ele era um espião alemão que desembarcara de um U-Boat em Dingle Bay algumas horas antes. A carreira de Simon foi a mais curta da história da espionagem. É o fim da linha!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Em uma palavra [57]

quilíade
s.f. 1. um grupo de 1000, um milhar; 2. um período de mil anos, um milênio. Quiliástico, adj. “Uma quilíade de manifestantes”; “Um inverno quiliástico” [do grego kilos, mil; cf. miríade, grupo de dez mil]

sábado, 11 de junho de 2011

Patentes Patéticas (nº 11)


Durante o período mais brega da borda mais brega da galáxia, Aaron Powell teve uma ideia digna de John Travolta: sapatos de dança — com luzes! Isso mesmo, antes de fazer a infância da garotada dos anos 80, as luzinhas em sapatos apareceram nas pistas de dança durante a febre disco, logo após o lançamento d'Os Embalos de Sábado à Noite. Note que a ideia é tão sofisticada que usa apenas uma lâmpada na meia-sola — a frente é iluminada por feixes de fibra ótica!

Mas se você quiser causar naquela Festa Brega, vai ter que pagar pau royalties  para Aaron Powell. Em dezembro de 1978 o pessoal do escritório de pantentes viu genialidade onde havia apenas breguice (ou seria preguiça?) e Powell conseguiu a patente de seu dançante invento.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

“A mais beijada de todos os tempos”

No fim da década de 1880, o corpo de uma garota de 16 anos foi encontrado no Rio Sena, em Paris. Sem sinais de violência, o cadáver seria de uma jovem suicida. Mas ela era tão bela e tinha um sorriso tão enigmático que depois da autópsia, um legista fez uma máscara mortuária do rosto dela.

Na romântica atmosfera da Europa da belle époque, a face da anônima moça suicida — que passou a ser chamada de L'Inconnue de la Seine, a Desconhecida do Sena — se tornou um ideal de beleza feminina. Em Die Aufzeichnungen des Malte Laurids Brigge [Os Cadernos de Malte Laurids Brigge], o protagonista do único romance de Rainier Maria Rilke (1875-1926) escreve: “O mouleur [modelador], em cuja loja passo todo dia, tem um busto de gesso em cada lado de sua porta. [Um é] a face da jovem mulher afogada, da qual tiraram um molde no necrotério, pois era bela e sorria, sorria tão misteriosamente...”

Ironicamente, as feições da garota desconhecida foram usadas em 1958 para modelar a boneca usada no treinamento de primeiros-socorros, conhecida como Rescue Anne. Embora a identidade da moça e os motivos que a levaram ao suicídio ainda sejam um mistério, diz-se que ela se tornou “a mais beijada de todos os tempos” pois milhares de estudantes já treinaram a respiração boca-a-boca em seus lábios.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Prova de Amor


Ah, o amor — um sentimento do qual quase todo sogro duvida. 

Recém-formado em Cambridge em 1898, Ewart Scott Grogan apaixonou-se por Gertrude Watt, uma menina rica. Como o sogro não aceitava a relação, o moço de 23 anos resolveu provar que seu amor era verdadeiro e se propôs a ser o primeiro a atravessar a África do sul para o norte.

O jovem apaixonado partiu para a Cidade do Cabo, onde começou sua jornada rumo ao Cairo. Passando por uma África Oriental largamente desconhecida e inexplorada, Grogan enfrentou leões e canibais; passou por vulcões; sofreu com a guerra e lutou contra a doença; foi à exaustão e atravessou centenas de quilômetros de pântanos — não necessariamente nessa ordem.

Em 1900, dois anos após partir, ele chegou à capital do Egito. A primeira coisa que fez foi tuitar telegrafar para a amada: “Alcancei Cairo. Meus sentimentos são os mesmos. Ansiosamente aguardo resposta. Diga sim. Amor, Ewart.”

E a resposta veio: “Meus sentimentos também inalterados. Estou à sua espera. Gertrude.” Sete meses depois, eles estavam grávidos casados. Grogan presenteou o sogro com um exemplar de seu best-seller instantâneo, From the Cape to Cairo; the first traverse of Africa from south to north [Do Cabo ao Cairo: a primeira travessia da África do sul para o norte].

Três décadas mais tarde, Ewart Grogan repetiu o feito. Em 1932 a Imperial Airways convidou o ex-explorador para uma expedição transafricana por via aérea. O percurso era praticamente o mesmo seguido pelo jovem apaixonado. A viagem que havia custado dois anos de provações agora completava-se em apenas oito dias. “Parece algo além do acreditável que um homem possa repetir essa experiência no tempo de uma geração.”, disse Grogan em entrevista ao Daily Express após a segunda viagem. “Isso mostra o quão rápido o mundo está se movendo.”

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Os infortúnios dos irmãos Fortunato

Em 1929, um homem bem-vestido procurou os irmãos Tony e Nick Fortunato, proprietários da New York's Fortunato Fruit Company, uma pequena quitanda da Big Apple. O homem se apresentou como T. Remington Grenfell e disse ser vice-presidente da Grand Station Holding Corporation, a empresa que administrava a Grand  Central Station.


Falando estritamente de negócios, Grenfell disse aos irmãos quitandeiros que a Grand Station havia decidido fechar seu posto de informações. Se eles estivessem interessados, só precisariam pagar um ano de aluguel adiantado, no valor de 100.000 dólares para converter o espaço em uma quitanda situada no meio da maior estação ferroviária de NY.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Em uma palavra [56]

pulcrícamo
adj. aquele(a) que tem belos cabelos [do latim pulchrum = belo, formoso + coma = cabelo, cabeleira, cabeludo, cabelada...]. “Sua PULCRÍCAMA!”

SUA LINDA! é para os fracos.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Toma lá, dá cá

A rochosa ilhota de Märket fica no Mar Báltico, bem entre a Finlândia e a Suécia. Quando os finlandeses construíram um farol na ilha em 1885, não perceberam que o fizeram em território sueco. Isso criou um problema sério: sem ter como alterar a costa ou mover o farol, os dois países tinham que encontrar uma nova forma de dividir Märket igualmente.


O que em outros lugares teria sido motivo de guerra foi resolvido com um acordo simples e justo: a Suécia cedeu a área do farol para a Finlândia e, em troca, os finlandeses entregaram aos suecos uma porção equivalente do seu lado da pequena ilha. Embora a fronteira seja um enorme S invertido nos mapas, Märket é igualmente dividida. É a menor ilha do mundo dividida por uma fronteira internacional.

domingo, 5 de junho de 2011

O Capitão de Köpenick

Em 16 de outubro de 1906, um pequeno ladrão alemão tornou-se um grande criminoso — por um dia.

Estátua de Wilhelm Voight ainda guarda
 a entrada da prefeitura de Köpenick
Vestido com um uniforme de capitão de segunda mão, Wilhelm Voight entrou em um quartel e exonerou o comandante. Depois, pediu a escolta de 10 granadeiros e um tenente e tomou um trem até Köpenick, nos arredores de Berlim. Ao chegar lá, ele simplesmente invadiu a prefeitura, pediu que as ligações com Berlim fossem suspensas e confiscou exatos 4.000 marcos e 37 pfennigs

Depois de mandar os secretários e o prefeito presos para Berlim sob a acusação de superfaturamento, o “capitão” pediu que os soldados vigiassem o prédio da prefeitura por mais meia hora. Em seguida, ele saiu, voltou à estação ferroviária e trocou-se. Em trajes civis ele tomou um trem e sumiu.

O crime causou sensação não apenas na Alemanha, mas na Europa inteira. Todos os jornais especulavam sobre seu paradeiro. Voigt tornou-se um personagem picaresco: era visto como um Robin Hood moderno e todo mundo torcia por ele. Mas, graças à eficiência alemã, o falso capitão foi preso apenas dez dias após o sensacional assalto. 

Em 1º. de dezembro ele foi condenado a quatro anos de prisão por falsidade ideológica e falsificação de documentos. Entretanto, a simpatia por ele era tamanha que o Kaiser Guilherme II lhe perdoou em 16 de agosto de 1908. Dizem que o imperador alemão ficara maravilhado com o causo e via nele um exemplo de como a população em geral reverenciava (e temia) os militares. 

Mas não foi por isso que Voigt acabou tornando-se uma figura folclórica na Alemanha. Até hoje sua história é contada em escolas como exemplo de resistência corajosa a um governo injusto. 

Mugshot do Capitão após a prisão: o que um
uniforme não faz, hein?
Friedrich Wilhelm Voight (1849-1922) era filho de um sapateiro e aos 14 anos já havia sido preso por 14 dias após um furto. Mais tarde, ele passou um total de 25 anos na prisão por diversos furtos e falsificações. Quando foi libertado, Voigt tentou enfim endireitar-se e arrumar um emprego como sapateiro. Vítima de preconceito, ele caiu em um processo kafkiano: não conseguia emprego por não ter residência fixa e não conseguia residência fixa por não ter emprego. Então ele decidiu subir na vida e tornou-se capitão.

Após ser libertado, ele tornou-se uma figurinha fácil no mundo do entretenimento. Passou por diversos restaurantes e cafés de Dresden, Viena e Budapest, onde contava suas histórias. Ele apareceu até no Museu de Cera da Madame Tassaud, em Londres. Em 1909, mudou-se para Leipzig e escreveu um livro, Como me tornei o Capitão de Köpenick, que fez um razoável sucesso. 

Um ano depois, Voigt se estabeleceu em Luxemburgo, onde trabalhou como sapateiro e garçom. Quando se aposentou, recebeu uma pensão vitalícia de um milionário de Berlim e comprou uma casa. Sua pequena fortuna foi arruinada pela hiperinflação do pós-guerra e — com o perdão do trocadilho — ele faleceu falido.

sábado, 4 de junho de 2011

Patentes Patéticas (nº 10)

Cansado de ser perseguido por ladrões de bicicleta, Adolph Neubauer deciciu reagir. Mas como um bom gentleman da Era Vitoriana, ele decidiu agir de forma sutil. Uma trava levanta uma agulha no meio do selim quando a bicicleta não está em uso “e assim evita que qualquer um monte na bicicleta a não ser com um ferimento sério” — no derrière, evidentemente.
Cacete de agulha!

Eis por que essa patente é tão patética: é muito provável que o ladrão simplesmente se acomodasse no cano ou pedalasse em pé, ou — pior — apenas destravasse a agulha. Apesar disso a patente do selim anti-furto de Neubauer foi aprovada em 1900. 

quinta-feira, 2 de junho de 2011

À Imagem e Semelhança

Você já deve ter visto (ou mesmo feito) muitos auto-retratos. Mas Hananuma Misakichi levou esse negócio de retratar a si mesmo a um outro nível — não por narcisismo, mas por amor. Acreditando que estava tuberculoso e morreria em breve, o artista japonês resolveu fazer uma estátua de si mesmo em tamanho natural. Seria sua última lembrança para a mulher que amava.

Qual destes é Hananuma Masakichi e qual é a sua auto-estátua em madeira e em escala real? Surpresa! A estátua está na foto da direita! 

Masakischi passou três anos posando para si mesmo diante de dois espelhos ajustáveis para observar e esculpir cada detalhe de sua pele, incluindo suas veias. O cabelo da estátua — tão desgrenhado quanto o do criador — é um minucioso implante feito com fios de cabelo do próprio Masakichi.

Terminada a obra, o dedicado escultor colocou-a em exposição privada. A estátua era apresentada junto de seu criador, que fazia a mesma pose. O trabalho era tão convincente que o público tinha dificuldade de distiguir.

Apesar de tão dedicado esforço, o diagnóstico estava errado. Hananuma só morreu em 1895, dez anos depois de completar sua obra-prima. A estátua sobreviveu, é claro, e também teve uma história incrível.

Em 1934, o empresário americano Robert Ripley — criador da série Acredite se puder — comprou a estátua e levou-a para Los Angeles, onde o auto-retrato de Hananuma-san tornou-se uma atração imperdível. Mas não por muito tempo: com a morte de Mr. Ripley, em 1949, a obra acabou relegada a um porão.

Ela só seria redescoberta após o terremoto de Northridge em 1994. Mais uma vez, Hananuma Misakichi sobreviveu — felizmente, os danos foram pequenos. Restaurada, a imagem que deveria servir de lembrança a uma viúva japonesa está atualmente em um museu no Picadilly Circus, em Londres.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Bebês-objeto

Na Nova Caledônia, as crianças recebem seus nomes de objetos naturais. Mas se a criança morre, os parentes não podem mais chamar aquele objeto por seu antigo nome. Uma nova denominação deve ser inventada para uso daquela família. O costume resulta em notável variedade do dialeto neocaledôneo e é um desafio para os pais que perdem seus filhos. — J. B. Mc Clure, Entertaining Anecdotes from Every Source Avaiable [Anedotas Divertidas, de todas as fontes disponíveis], 1880

Em uma palavra [55]

Palinóia
subst. fem. a repetição compulsiva de um ato como forma de melhorar sua execução; treinamento árduo. “Dia após dia, ele era tomado por uma palinóia musical que infernizava os vizinhos.” Não confundir com paranóia. [do grego, palin, de novo e noia, pensamento]

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