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domingo, 5 de junho de 2011

O Capitão de Köpenick

Em 16 de outubro de 1906, um pequeno ladrão alemão tornou-se um grande criminoso — por um dia.

Estátua de Wilhelm Voight ainda guarda
 a entrada da prefeitura de Köpenick
Vestido com um uniforme de capitão de segunda mão, Wilhelm Voight entrou em um quartel e exonerou o comandante. Depois, pediu a escolta de 10 granadeiros e um tenente e tomou um trem até Köpenick, nos arredores de Berlim. Ao chegar lá, ele simplesmente invadiu a prefeitura, pediu que as ligações com Berlim fossem suspensas e confiscou exatos 4.000 marcos e 37 pfennigs

Depois de mandar os secretários e o prefeito presos para Berlim sob a acusação de superfaturamento, o “capitão” pediu que os soldados vigiassem o prédio da prefeitura por mais meia hora. Em seguida, ele saiu, voltou à estação ferroviária e trocou-se. Em trajes civis ele tomou um trem e sumiu.

O crime causou sensação não apenas na Alemanha, mas na Europa inteira. Todos os jornais especulavam sobre seu paradeiro. Voigt tornou-se um personagem picaresco: era visto como um Robin Hood moderno e todo mundo torcia por ele. Mas, graças à eficiência alemã, o falso capitão foi preso apenas dez dias após o sensacional assalto. 

Em 1º. de dezembro ele foi condenado a quatro anos de prisão por falsidade ideológica e falsificação de documentos. Entretanto, a simpatia por ele era tamanha que o Kaiser Guilherme II lhe perdoou em 16 de agosto de 1908. Dizem que o imperador alemão ficara maravilhado com o causo e via nele um exemplo de como a população em geral reverenciava (e temia) os militares. 

Mas não foi por isso que Voigt acabou tornando-se uma figura folclórica na Alemanha. Até hoje sua história é contada em escolas como exemplo de resistência corajosa a um governo injusto. 

Mugshot do Capitão após a prisão: o que um
uniforme não faz, hein?
Friedrich Wilhelm Voight (1849-1922) era filho de um sapateiro e aos 14 anos já havia sido preso por 14 dias após um furto. Mais tarde, ele passou um total de 25 anos na prisão por diversos furtos e falsificações. Quando foi libertado, Voigt tentou enfim endireitar-se e arrumar um emprego como sapateiro. Vítima de preconceito, ele caiu em um processo kafkiano: não conseguia emprego por não ter residência fixa e não conseguia residência fixa por não ter emprego. Então ele decidiu subir na vida e tornou-se capitão.

Após ser libertado, ele tornou-se uma figurinha fácil no mundo do entretenimento. Passou por diversos restaurantes e cafés de Dresden, Viena e Budapest, onde contava suas histórias. Ele apareceu até no Museu de Cera da Madame Tassaud, em Londres. Em 1909, mudou-se para Leipzig e escreveu um livro, Como me tornei o Capitão de Köpenick, que fez um razoável sucesso. 

Um ano depois, Voigt se estabeleceu em Luxemburgo, onde trabalhou como sapateiro e garçom. Quando se aposentou, recebeu uma pensão vitalícia de um milionário de Berlim e comprou uma casa. Sua pequena fortuna foi arruinada pela hiperinflação do pós-guerra e — com o perdão do trocadilho — ele faleceu falido.

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