Você já precisou usar um GPS ou o Google Maps? Se sim, é bem provável que apesar — ou até por causa — disso, tenha se perdido. Uma falha nas coordenadas do GPS pode parecer um grande problema e pode até causar grandes acidentes. Agora imagine o erro de localização num sistema de teletransporte interestelar... E esse é só o primeiro dos problemas enfrentados pelos personagens em um Mundo sem Estrelas, de Poul Anderson.
Num futuro muito distante, devidamente não especificado pelo autor, a humanidade já se tornou imortal através de uma "vacina antitanática" e estabeleceu contatos com todas as inteligências da Via Láctea. A Terra não tem mais nações; no máximo há uniões continentais. Nosso planeta acaba por se tornar apenas a "Pátria do Homem".
Grandes Navegações e um Trovador Interestelar
O comércio interestelar é um ótimo negócio, mas como todos os planetas com vida inteligente já são conhecidos, é hora de expandir as fronteiras — não em nome da ciência, mas das perspectivas de lucro. Tudo começa com o Capitão Felipe Argens à procura de uma boa tripulação para a primeira viagem intergaláctica. Argens vive em Landomar, um mundo que mais se parece com uma versão planetária da Londres do século XVIII: um porto importante, uma cidade cheia de viajantes e aventureiros. E é por acaso que ele descobre Hugh Valland.
Valland mais parece uma figura anacrônica. Embora esteja sempre com um omnisonar — um instrumento musical que parece algo entre um violão e um sintetizador — debaixo do braço, ele vive cantando velhas canções da era pré-estelar. De origem nórdica, tal como Poul Anderson, Valland é um trovador e um aventureiro, um homem ao mesmo tempo gentil e vigoroso — apesar de seus três mil anos. Ele está à procura de uma vaga como artilheiro em uma nave de comércio. É exatamente disso que o Capitão Argens precisa.
A “nau” capitaneada por Argens é a Meteor, que tem como destino não outra galáxia, mas um pequeno sistema perdido no espaço intergaláctico. Os habitantes desse sistema são muito curiosos: respiram hidrogênio, bebem amônia, são telepatas mas têm pouca resistência à radiação. Parecem, portanto, habitantes de um grande planeta gasoso, tal como Júpiter. Em busca de contato, eles mandam as coordenadas para chegar ao seu sistema planetário. Só que essas coordenadas, ao contrário do que a tripulação imagina, são para um planeta mais "terrestre". Sem saber para onde rumava através do teletransporte, a Meteor espatifa-se ao chegar a esse pequeno mundo sem estrelas que dá título à obra.
Mundo Liso S/A
Com a nave destruída e sem comunicações, os nove tripulantes da Meteor — entre os quais há um novato de trinta anos e um sujeito bastante suspeito — se vêem em um mundo praticamente liso: há poucas montanhas e muitos pântanos. O céu — roxo — é dominado por um grande sol vermelho. Na verdade, uma anã vermelha menor que o sol, mas mais próxima do planeta. Isolado fora da galáxia, esse mundo tem uma noite dominada pela visão distante e difusa da Via Láctea. Chuvas são torrencialmente constantes e o planeta desconhecido parece ser muito antigo. Por isso, pensam que não há sinal de vida. Mas há grama, algumas árvores — amarelas! —, atmosfera respirável e vultos misteriosos.
Ou nem tanto. Esses vultos têm a aparência de cangurus e são descritos como parte d’A Matilha. Mas eles não são os únicos, nem são a espécie dominante. Quem manda no pedaço são os Ai Chum, anfíbios (!!) telepatas, com uma cultura antiquíssima e, por isso mesmo, extremamente indolentes e conservadores. Os Ai Chum, também chamados de A Manada, escravizam a maioria da Matilha.
Ao saber de onde vêm os humanos, a Manada tenta exterminá-los. A presença de seres de outro mundo é uma séria ameaça ao que é mais caro aos membros da Manada: sua crença de que são criadores de tudo que existe no Universo (e sua conseqüente posição dominante).
Ao saber de onde vêm os humanos, a Manada tenta exterminá-los. A presença de seres de outro mundo é uma séria ameaça ao que é mais caro aos membros da Manada: sua crença de que são criadores de tudo que existe no Universo (e sua conseqüente posição dominante).
Apesar de todo esse cenário exótico, o tema central de Mundo sem Estrelas é, sem dúvida, a variedade psicológica dos seres humanos e como isso pode ser uma fraqueza ou uma força em situações extremas. A obra é narrada em retrospectiva, como uma narrativa autobiográfica do Capitão Argens. Apesar disso, o personagem que mais se destaca é o velho Hugh Valland e seu amor transcendental por Mary O'Meara.
Ficha Técnica
Título | Mundo sem Estrelas (World without Stars) |
Autor/Tradutor | Poul Anderson/Agatha Maria Auesperberg |
Editora | Nova Época Editorial |
Publicação | 1974 |
Páginas | 181 |
Comentários | A edição que li — após encontrar na Biblioteca da faculdade — é interessante, apesar da capa não ser muito bonita. O papel um pouco grosso, a tipografia em negrito e os pequenos erros tipográficos aqui e acolá lembram as obras pulp fiction dos anos 30. Mesmo se existisse, uma edição novinha em folha não teria tanta graça... |
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