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segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Peso do Nome: Einstein (parte 2)


Separado da mãe de seus filhos não apenas por um segundo casamento, mas pelo clima cada vez mais sinistro da Alemanha entre-guerras, Albert Einstein partiu definitivamente para os Estados Unidos em 1933. Antes, porém, ele teve que resolver sua vida na Alemanha — e, atendendo a pedidos de Mileva —, na Suíça. Após recolher tudo o que precisava para partir e proferir algumas palestras nas principais universidades européias, Einstein visitou o filho e a ex-mulher em Zurique. Mesmo que não tenha sido um bom pai, deve ter sido um momento difícil na vida do maior gênio do século XX.


Albert encontrou um Eduard muito diferente daquele garotinho que tivera nos braços um dia. “Tede” era cada vez mais isolado e indiferente — não chegou a reconhecer o próprio pai. Einstein lembrou-se que, como ele, seu caçula gostava de tocar violino. Ao visitá-lo em Burghölzi, o ganhador do Prêmio Nobel de Física de 1921 tocou violino para Eduard. O jovem não demonstrou qualquer reação. Albert Einstein foi embora — teve que ir — para nunca mais voltar. Ele jamais voltou a ver Eduard ou Mileva.
Em sua última visita, Einstein tentou tocar violino para
 animar o filho. Foi recebido com indiferença.

O filho mais velho de Albert e Mileva, Hans Albert, também acabaria migrando. Em 1938, Hans Albert Einstein, já casado e com filhos, fugiu da Alemanha nazista. Tornou-se professor de Engenharia Hidráulica em Los Angeles. Infelizmente, ir para os Estados Unidos não era uma opção para Eduard e sua mãe. As rígidas políticas de imigração impostas pela Grande Depressão tornavam difícil a entrada de alguém incapacitado. A própria entrada de Albert Einstein foi uma surpresa para muitos americanos — para os padrões da época, o grande físico alemão era um socialista e, portanto, suspeito.

Isolados em Zurique, a vida de Mileva e Eduard só piorou com o estouro da II Guerra Mundial. Apesar da situação cada vez mais difícil, os dois tiveram sorte em ser cidadãos de um país neutro (e cuja neutralidade foi respeitada por Hitler). Mesmo que Eduard sobrevivesse aos milhares de doentes mentais mortos pelo Reich em toda a Europa, ele e a mãe teriam poucas chances caso acabassem em um campo de concentração. Como muitos parentes do pai famoso, Eduard teria sido morto durante o Holocausto.

Eduard Einstein, já adulto. No início do tratamento, ele
ainda podia passar  alguns momentos com a mãe fora
 do hospital psiquiátrico
O fim da guerra em 1945 trouxe algum alívio, mas não muito. Mileva estava completamente falida e emocionalmente exausta. A moça que um dia sonhara em ser a nova Marie Currie terminaria seus dias dando aulas particulares de piano e matemática. Do pouco que ganhava, praticamente tudo ia para o tratamento do filho que também parecera tão promissor. Quando Mileva Maric morreu, em 1948, não tinha um centavo no bolso. Ela acabou enterrada como indigente no Cemitério Nordheim, em Zurique.

Embora não tenha voltado a visitar o filho e nem tenha ido ao enterro da ex-mulher, Albert Einstein continuou a sustentar “Tede”. Em diversas ocasiões, Einstein teria dito que tudo teria sido melhor se Eduard jamais tivesse nascido. Mas quando se casou com Mileva, Albert sabia muito bem dos riscos que corria. Uma das irmãs de Mileva, Zorka, também sofria de esquizofrenia. Durante a separação, foi Zorka quem teve que cuidar dos meninos da famíla Einstein em diversas ocasiões. Embora não o demonstrassem publicamente, o casal sempre se preocupara com a saúde mental dos filhos.

Apesar de jamais poder sair novamente e ter cada vez menos contato com o mundo exterior, o nome de Eduard Einstein lhe garantiu uma vida relativamente tranquila e um tratamento digno. Eduard morreu em consequência de um derrame em 1965, apenas dez anos depois da morte do pai. Foi enterrado em Zurique, no Hoggerberg, um cemitério diferente de onde repousava sua devotada mãe.
Um raro momento: nos anos 1920, Albert ainda se esforçava
para visitar os filhos (Hans à esq. e Eduard à dir.)

A vida — e a morte — de Eduard Einstein chamou muita atenção, dentro e fora da ciência, para a questão da esquizofrenia e de seus efeitos sobre uma família. Ainda assim, a história de Eduard continua misteriosa, já que não se sabe ao certo quando exatamente começaram a surgir os primeiros sintomas nem se, por diversos motivos, eles não foram negligenciados.

Hans Albert Einstein: desde dos anos 80 um
 prêmio de engenharia hidráulica leva seu nome.
Hans Albert, o filho mais velho e teimoso, estava casado com Frieda Knecht desde 1927 e teve três filhos: Bernard Caesar, Klaus Martin e Evelyn, que ele adotou nos Estados Unidos. Klaus Martin morreu em 1938, aos seis anos, pouco depois de chegar à América. Após ficar viúvo e casar-se novamente em 1958, Hans Albert viveu uma vida relativamente tranquila até 1973. Talvez tenha surpreendido o pai quando tornou-se um nome importante dentro da Engenharia Hidráulica.

Os dois netos de Albert Einstein também já faleceram. Bernhard Caesar, nascido em 1930, seguiu os passos do avô e tornou-se físico, embora bem mais discreto. Foi o único neto de Einstein a se casar e teve cinco filhos: Thomas, Paul, Teddy, Myra e Charles. Bernhard morreu aos 78 anos, em 2008.

Evelyn Einstein: mesmo adotada,
a neta sentiu o peso do nome.
Embora tenha sido adotada, Evelyn Einstein também teve uma vida agitada e morreu recentemente, aos 70 anos. A neta adotiva de Albert Einstein formou-se especialista em Literatura Medieval, mas teve um casamento infeliz com um professor de Antropologia da Universidade da Califórnia. Após o divórcio, a jovem perdeu o pai, ficou desempregada e chegou a passar alguns meses dormindo no próprio carro. Sua vida só melhorou nos anos 1980, quando encontrou um verdadeiro tesouro: 500 cartas pessoais de Albert Einstein nos arquivos da família. Muitas eram sobre a difícil relação entre Albert e Mileva. Evelyn sofria de doença cardíaca e diabetes e não teve filhos.

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