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domingo, 24 de outubro de 2010

Uma história natural dos 10 mandamentos

Thompson Seton queria provar que os 10 mandamentos "não são um conjunto de regras arbitrárias",
mas a "base do comportamento de todos os animais superiores." Ele não conseguiu.

Pioneiro do escotismo, o naturalista escocês naturalizado americano Ernest Thompson Seton (1860-1946) amava tanto a Deus quanto aos animais. Por isso, em 1907, ele escreveu um livro para provar que, como também são filhos de Deus, os animais também seguem os 10 mandamentos:

  •  Tu não furtarás:
“Uma vareta encontrada no bosque é a propriedade do corvo que a descobre e é duplamente dele quando ele trabalha para levá-la até seu ninho. Este é o reconhecimento da lei.”
Aqui ele só dá exemplos de coisas “não-produzidas”, i.e., que não pertencem a ninguém. Não se pode roubar algo que não pertence a ninguém, então, obviamente não há furto.
  • Tu não matarás:
“Cascavéis recém-nascidas atacarão instantaneamente um estranho de qualquer outra espécie, mas nunca matam um de sua própria.”
Claro, é a evolução, estúpido!
  • Honrarás Pai e Mãe:
“Uma galinha faz para seus pintinhos um ninho. Um deles não se mantém perto de seu ‘cocoricó’ de convite e de comando e consequentemente ele se perde e morre.”
Não é honra; é a evolução de novo, estúpido!
  • Não cometerás adultério:
“Os promíscuos animais de hoje — o coelho-do-norte e as ratazanas — têm grande fecundidade, mas pouco desenvolvimento geral e são periodicamente atacados por pragas epidêmicas.”
Será que é por que eles são incapazes de criar métodos contraceptivos e antibióticos? Além disso, notem como ele escolhe exemplos negativos e confunde fertilidade com adultério.
  • Tu não levantarás falso testemunho:
“Muitas vezes um perdigueiro jovem cai na conclusão, pensamento ou esperança de que ele está na trilha certa, o que lhe permite ir em frente e gritar em linguagem de perdigueiro: ‘Trilha!’. Os outros perdigueiros seguem-no, mas se um exame cuidadoso mostrar que ele estava errado, (...) aquele indivíduo é inteiramente desacreditado.”
Primeiro, todo mundo pode se enganar. Segundo, o que os perdigueiros mais velhos fazem tem nome: ceticismo.
  • Tu não cobiçarás:
“Uma galinha fez um ninho em certo lugar e já estava ocupando-o. Depois, outra galinha, desejando o mesmo ninho, tomou posse dele diversas vezes, botando seus ovos durante a breve ausência da dona. O resultado foi um estado de guerra e os ovos de ambas as galinhas se perderam.”
De novo, evolução em ação. E este exemplo entra em contradição direta com o primeiro: a galinha invejosa rouba sim o ninho da galinha trabalhadora.

Thompson pára por aqui, por falta de matéria-prima. Nem mesmo ele foi capaz de se convencer de que animais adoram a deus sobre todas as coisas, não fazem imagens esculpidas, não tomam o nome de deus em vão e não trabalham em santos dias.

Num exemplo clássico de interpretação seletiva típica do pensamento religioso, Thompson conclui sua Natural History of Ten Commandments [História Natural dos Dez Mandamentos] dizendo que apenas o “homem está encarregado de todos” os mandamentos, mas “os animais apenas com os seis últimos.”

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