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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A carta da Martha

Em julho de 1833, George Harry Gray, sexto conde de Stamford e segundo conde de Herrington (1765-1845) recebeu uma carta que começava assim:

É com vergonha, com indescritível vergonha que eu presumo me dirigir a Vossa Senhoria com estas linhas. Mas, tendo conhecimento da pessoa de Vossa Senhoria desde minha infância e lembrando-me dos relatos do caráter empático e benevolente de Vossa Senhoria, eu estou prestes a confiar um assunto de grande infortúnio à honra e segredo de Vossa Senhoria.

Assinada por “Martha Turner”, a carta prosseguia, contando que ela havia abandonado sua mãe viúva no Natal por causa de um homem que lhe prometera se casar com ela [com “Martha”], mas que acabou abandonando-a, deixando-a “arruínada e perdida” (grifos originais). Ela, então, pedia “uma pequena assistência pecuniária”, implorando ao duplo conde para resgatá-la “da completa destruição” e de “uma morte miserável”.

Só que, da mesma maneira que o spammer nigeriano, Martha Turner simplesmente não existia. Seu apelo foi inteiramente inventado por Joseph Underwood, que era apenas mais um entre cerca de 250 missivistas impostores que enganavam as classes abastadas da Inglaterra dos anos 1830. Underwood escreveu a carta de Martha em uma letra (aparentemente) feminina. Para reforçar o golpe, ele também forjou mensagens do suposto sedutor da moça e de um clérigo que corroborava o relato trágico de Miss Turner.

Underwood chegou a ganhar quase mil libras por ano com o golpe da carta da Martha. Descoberto diversas vezes, o impostor passou por vários períodos de detenção. Em 1838, John Grant, outra vítima de Underwood, escreveu: 

Se a faculdade de criação é um dos principais atributos de [um] gênio, Underwood era um gênio de primeira magnitude. A força e a inspiração de seus fatos imaginativos eram notáveis. Tivesse ele voltado sua atenção à redação de romances, em vez da profissão de missivista impostor, não há o que dizer sobre quão alto estaria seu nome nesse momento na literatura corrente no país. 

Underwood, infelizmente, não deve ter visto esse conselho: ele faleceu na prisão de Coldbath Fields, em Clerkenwell, perto de Londres, naquele mesmo ano de 1838. 

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