Ame-o e Deixe-o
Ficar olhando para o passado não dá futuro pra ninguém. Ainda mais quando é um passado sombrio e vergonhoso.
A Alemanha, por exemplo. Após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), mesmo em meio às turbulências políticas e econômicas, os alemães poderiam olhar para o futuro e buscar um desenvolvimento pacífico. Mas não. Ficaram remoendo a derrota e nos deram a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o maior conflito de todos os tempos.
Após nova derrota, e mesmo dividida, a nação alemã aprendeu a lição: esqueceu o passado e passou a trabalhar de olho no futuro. Resultado: hoje a Alemanha está livre dos militares e é a terceira economia do planeta.
Será que nós precisaríamos de uma intervenção dos militares? Se ainda hoje vemos sem-terra e sem-tetos nos campos e nas ruas do Brasil é por que os militares intervieram para impedir as reformas de João Goulart. Aquele era o melhor momento para implantá-las. Pelo bem dos Estados Unidos — e financiados pelos norte-americanos — os militares decidiram intervir.
Não bastasse a intervenção, as Forças Armadas ainda perseguiram os opositores da “revolução” com torturas e mortes. Ninguém sabia disso por causa da censura, também imposta pelos militares. Tal censura também escondia verdadeiras farras com o dinheiro público. Como a inútil Transamazônica, por exemplo. E outras grandes rodovias também. Inúteis sim, por que a melhor forma de integrar países de dimensões continentais é através de ferrovias, não de rodovias. Vide os exemplos dos EUA, do Canadá, da Rússia e mesmo de um continente inteiro — a Europa.
Após tanta gastança, o resultado não podia ser outro. Nosso “milagre” econômico era sustentado por grandes empréstimos externos feitos antes do primeiro choque do petróleo (1973), quando os juros ainda eram baixos. Após aquela crise energética mundial, todos os preços subiram inclusive o dos empréstimos. Nosso crescimento não teve nada de milagroso, era um truque artificial que só nos trouxe a hiperinflação e uma desigualdade social cada vez mais gritante. Os únicos a ganhar com o regime militar foram os investidores estrangeiros.
Como se sabe, muitos investimentos foram feitos em infra-estrutura. Mas isso não foi garantia de um crescimento sustentado da economia brasileira. E a educação? Prioridade zero para os militares. Apenas como exemplo, cite-se o caso da Coréia do Sul. Há 50 anos, aquele país asiático estava arrasado por uma guerra ideológica causada pela intervenção estadunidense. Os sul-coreanos eram tão miseráveis quanto hoje ainda são seus irmãos do norte. Hoje a Coréia do Sul é um dos principais centros tecnológicos do mundo. Uma nação verdadeiramente desenvolvida e não uma pseudo-oitava-economia-mundial que não tem sequer uma indústria automobilística genuinamente nacional. Sem falar no uso, ainda relativamente comum no Brasil, de mão-de-obra em regime de semi-escravidão.
Felizmente, já estamos livres dos militares, mas nem tanto. Eles ainda se opõem fortemente à abertura dos arquivos referentes aos “anos de chumbo”. Eles têm medo do quê? Não agiram “apenas para botar ordem na casa”, segundo a opinião do “saudosista” Paulo Ferreira Costa Negraes (Comércio de 05/05/2007)?
Os militares insistem em manter o controle do tráfego aéreo e agora voamos de modo precário e caótico. Cadê a ordem militar. Se faltam recursos é por que os militares, em seus delírios, conseguiram convencer o Brasil de que era necessário enviar um membro da Aeronáutica pro espaço. Pagamos US$ 20 milhões por isso. Mas agora falta dinheiro para modernizar o sistema de controle do espaço aéreo. Será que vamos ter saudade disso também?
Eu também leio muito, mas sou jovem. E a leitura só nos é útil quando estamos abertos a novas idéias e não damos ouvidos a discursos reacionários que não apresentam nenhuma solução. Se somos o eterno país-do-futuro, é por que estamos presos ao passado.
Se você ama esse país, mas prefere os Estados Unidos, vá logo para a terra do Tio Sam!
Renato Pincelli
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quarta-feira, 9 de maio de 2007
Ame-o ou Deixe-o - Artigo publicado no Comércio do Jahu
Escrevi um texto na segunda e decidi enviá-lo ao jornal Comércio do Jahu. E para minha surpresa ele foi publicado hoje (09/05/2007). Se não fosse publicado estaria aqui no blog do mesmo jeito. Eis o texto integral:
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