O mais longo conflito da Idade Contemporânea, com quase 60 anos de períodos alternantes de “paz” e de guerra é muito mais político e territorial do que religioso. Logicamente, o fanatismo religioso tem um importante papel no conflito árabe-israelense, mas os grupos terroristas que governam ambas as nações são, essencialmente, organizações políticas que não estão dispostas a ceder um palmo de terra ao “inimigo”.
Assim sendo, será que a criação de um Estado palestino, e a manutenção de Israel, é algo praticável, quando nenhum dos dois lados está disposto a ceder e reconhecer o outro? Será que é possível a existência de dois países num território pequeno, porém populoso e que nunca foi dividido de forma justa?
A idéia de Israel – construir um muro separando os territórios – foi um retumbante fracasso. Isso por que o muro impedia que palestinos comuns, que vivem na fronteira e que dependiam economicamente dos israelenses, perdessem seu sustento econômico. Mas não impedia ataques terroristas.
É óbvio que isso geraria um desastre social. Sem empregados, a economia das cidades do lado israelense da fronteira ficou estagnada, o que gerou criticas da população local. Eles se davam bem com os palestinos até então, havia mútua dependência. Mas a relação de confiança e a relativa paz foram quebradas pelo muro e por suas consequências socioeconômicas.
Sem emprego e sem alternativas, alguns palestinos foram atraídos pelos grupos terroristas e passaram a atacar as pequenas cidades israelenses onde trabalhavam. Eles conseguiam chegar lá antes do muro e, depois dos ataques, os hebreus clamavam pelo muro ao qual se opunham até então. Pronto, o muro dividiu formalmente o território – com alguma vantagem para Israel – e fez ressurgir uma velha hostilidade que já não existia em muitas áreas da fronteira.
O exemplo do muro de Israel nos mostra também um outro fator que dificulta as relações entre os dois povos semitas: a dificuldade de ir e vir, que parte principalmente de Israel. Mesmo em áreas onde não há muro ou cerca, é difícil um palestino entrar no território de Israel, mas o oposto, um hebreu entrar em território árabe, é razoavelmente comum – tanto que há comunidades inteiras, pequenas vilas, só de israelenses, incrustadas em território palestino. Há muitos postos de controle e aduanas de Israel, mas poucos são os controlados pelos semitas árabes. Isso se deve ao fato de que Israel tem:
1) muito mais infra-estrutura que os territórios palestinos;
2) muito mais poder econômico e político, com um apoio escancarado do governo americano;
3) maior poderio militar: enquanto terroristas islâmicos usam bombas atadas ao próprio corpo, os israelenses já têm armas nucleares;
4) maior coesão interna: os palestinos, por sua vez, são muitos divididos entre si: há os que querem a via pacifica e o mútuo reconhecimento e os que querem a via bélica e a extinção de Israel.
Só o fato de Israel ter armas nucleares enquanto os palestinos não têm nenhum aliado político de peso na esfera internacional (especialmente no “Ocidente”) é algo no mínimo suspeito... Por que ninguém questiona o arsenal de Israel enquanto o suposto arsenal iraniano causa alvoroço? Ambos os lados são capazes de começar um conflito que pode pôr em risco toda a humanidade.
E tudo só por que o direito de ir e vir não é igualmente respeitado, só por causa de territorialismo... Ora, quem se mata por território são os animais irracionais. O que isso nos mostra sobre nossa situação evolutiva? Podemos nos considerar superiores? Só por que encontramos meios mais avançados (nacionalismo e bombas atômicas) para nos destruir?
A única solução razoável para um conflito tão estúpido não é a divisão, a criação de dois países, mas sim a criação de um só Estado na chamada “Terra Santa”. Todos, palestinos e israelenses seriam cidadãos de um só país. Assim, o direito de ir e vir seria respeitado. Um judeu poderia ir ao rio Jordão sem correr perigo e um árabe poderia visitar parentes no litoral sem ser humilhado pelos postos de controle que atualmente não impedem os ataques de grupos radicais. Com um regime plenamente democrático, regiões de maioria palestina, por exemplo, seriam governadas por maiorias igualmente palestinas. Nenhum grupo ficaria excluído das tomadas de decisão. O tão desejado poder seria simplesmente compartilhado. Nacionalmente, poderia haver um revezamento de poder entre grupos palestinos e israelenses a cada, digamos, quatro anos, sem direito à reeleição.
Mas nada disso foi feito até agora por que nós, humanos, ainda não aprendemos a agir de modo racional e compreensivo, a fim de facilitar — e não dificultar — nossas relações.
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