No início de setembro de 1924, no auge da Lei Seca norte-americana, houve rumores de que pessoas ricas estariam bebendo e se divertindo. Onde? Em um vapor de 17.000 toneladas ancorado a 15 milhas náuticas [27km] da costa de Nova York, literalmente fora dos limites da lei. “Uma orquestra de Jazz fornece a música para que milionários e melindrosas dancem em um piso encerado com o aroma da maresia em suas narinas”, escreveu Sanford Jarrell no New York Herald Tribune. Para escrever a matéria — sob a enorme manchete “New Yorkers Drink Sumptuously on 17,000-Ton Floating Cafe at Anchor Fifteen Miles off Fire Island” —, o repórter teria conseguido passar uma noite a bordo do misterioso navio.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjzIwoXKw6jRBpktK7OEifJRi0NswbAui97x4VQAeTLVTP7SVtlGQ3z4fnL2VHyc8mZS4Int0Ys0nqnTRqmM5nmo2OhCph-cOkGsW1dE5O3rzh_T883aTLD3kN7mXjqG8_h_cmK8WIEw70/s320/0914_boardwalk-empire.jpg) |
"Eu vou acabar com esse jornalista filho-da-puta!" — Nucky Thompson, ao saber da notícia |
Foi um verdadeiro furo. Outros jornais acreditaram na história, reproduziram-na e deram os devidos créditos a Jarrell e ao Herald Tribune. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas a concorrência também foi buscar suas versões dos fatos. Agentes da Alfândega começaram suas investigações quando perceberam o súbito interesse dos nova-iorquinos pela Fire Island. Até o governo federal acreditou e a Marinha mandou um cúter da Guarda Costeira para caçar o suposto navio-cabaré. Surpreendentemente, ninguém conseguiu confirmar o caso. Todos ficaram a ver navios.
Inicialmente, o NYHT defendeu Jarrell contra os que duvidavam da história. Mas diante da falta de provas, o jornal acabou admitindo que a história não era verdadeira. O episódio começou com uma dica de uma fonte respeitável. Jarrell investigou a história e, como todo mundo depois dele, não encontrou nada que pudesse ser confirmado e publicado. Ele só publicou sua matéria sobre o “sin ship” como uma brincadeira, mas a história era tão boa que acabou ganhando vida própria. Apesar de convincente e extremamente provável, tudo não passava de uma farsa.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTPLBx7wWXBpU_khLFJQlKBIhEvJRcenKRK3F3SZqv3GpM0wffxAhO1aHJoLj7qkrUa1cjp1T0ysl_XelTPO8VsQCRrcLZ-A4aQdnvl5Y_AVYZ8f5QNxF7SDJGQX1br2chxczQjboiUEY/s320/boardwalk-empire.jpg) |
"Nada como mandar algumas garrafas de uísque para todas as redações" |
Sabendo que isso bastava para acabar com a carreira de qualquer jornalista (ao menos em um país civilizado) e que seria punido, Sanford Jarrell escreveu uma carta ao editor do jornal um dia depois de o jornal admitir que estava errado. Na carta o jornalista, além de confessar seu crime, pedia demissão: “Em antecipação à pena natural pela minha contravenção, e reafirmando meu mais sincero arrependimento por todo esse caso, eu venho por meio desta pedir meu imediato desligamento como membro da equipe do Herald Tribune.”