
"Comunico que não aspirarei nem aceitarei; repito, não aspirarei e nem aceitarei, os cargos de presidente do Conselho de Estado e comandante-em-chefe". Com essas palavras, num artigo publicado hoje no Granma, o jornal oficial cubano, Fidel Castro (81 anos) renunciou à presidência de Cuba, depois de liderar o país durante 49 anos. Fidel foi, enfim, um perfeito caudilho. Tal como Bolívar e San Martín, Castro apareceu como libertador, mas uma vez no poder, tornou-se um ditador com sua própria doutrina, o castrismo.
É difícil definir, no momento, o legado de Fidel. Apesar da ditadura socialista que impôs ao povo cubano, houve grandes avanços sociais no país. Educação, saúde e esporte fizeram de Cuba uma referência, um exemplo a ser seguido pela América Latina. Por outro lado, o Estado autoritário e autocrático sediado em Havana é algo totalmente retrógrado. A economia da Ilha não teve grandes avanços, nem mesmo na época da Guerra Fria. Cuba nunca deixou de ser uma ex-colônia agro-exportadora. Com o embargo americano, a economia, que sempre teve forte dependência do turismo, parou nos anos 50. Boa saúde e boa educação formam bons cidadãos, mas se não há liberdade de pensamento e nem uma economia dinâmica, os avanços sociais por si só são insuficientes para a população. Este é o motivo pelo qual tantos cubanos têm se arriscado no mar do Caribe, durante esse meio século de revolução.
Quanto ao futuro de Cuba, porém, não deve haver mudanças a curto prazo. Há quase dois anos que Fidel adoeceu e deixou seu irmão, Raúl Castro, 76 anos, no poder. Agora, a tendência é que Raúl seja oficialmente eleito, embora hajam outros nomes possíveis, inclusive de uma geração mais jovem. Dentre os possíveis nomes estão: o comandante Juan Almeida, 81 anos; José Ramón Machado Ventura, um influente membro do Partido Comunista, 76 anos; o ministro do Interior, general Abelardo Colomé, 67 anos; Ramiro Valdés, 75, ministro das Comunicações. A "nova guarda" é representada apenas pelo vice-presidente Carlos Lage, 55 anos e pelo chanceler Felipe Pérez Roque, 41 anos.
Independente da geração que assumir, as reformas serão inevitáveis. Talvez sejam lentas e graduais, mas uma vitória democrata (Hillary ou Obama) nas eleições americanas em novembro pode levar a um relaxamento do embargo americano, o que aceleraria o clima de renovação. Se Fidel morrer em breve, o processo de democratização e abertura de Cuba pode ser ainda mais intenso.