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domingo, 13 de março de 2011

Black Bart, o assaltante-poeta

Para um fora-da-lei do Velho Oeste, Black Bart era um bocado sensível. Bart, também conhecido como Charles Bolton, foi veterano da Guerra Civil (1861-1865). Seu verdadeiro nome era Charles Earl Bowles (1829-1888?); ele nasceu em Norfolk, na Inglaterra e aos dois anos migrou para os Estados Unidos com a família (os pais e mais 3 irmãs e 7 irmãos).

Depois de se casar, ter quatro filhos, abandonar a família e tentar a vida como minerador durante a Febre do Ouro e participar da Guerra Civil, Bart passou a roubar milhares de dólares das diligências nos anos 1870 e 1880. Suas primeiras vítimas o descreviam por sua polidez — ele evitava palavras de baixo calão e pedia tranquilamente ao cocheiro: “Por favor, desça da boléia.” 

Como isso nem sempre convencia, Bowles partia para a trollagem mesmo: ele virava-se para os arbustos próximos, de onde pareciam sair rifles, e dizia: “Se ele ousar atirar, dêem uma bela saraivada, rapazes!”. O cocheiro então descia, sem reagir. Quando Black Bart sumia da vista, o sujeito percebia que o que pareciam ser rifles no meio dos arbustos eram apenas galhos.

Em pouco tempo, Bart elaborou seu modus operandi: passou a escrever poesias completas para deixar na cena de cada crime. Ele deixou estes versos após um assalto na Califórnia em 1877:

I’ve labored long and hard for bread,
For honor and for riches,
But on my corns too long you’ve tread
You fine-haired sons of bitches.

[Eu laborei muito, dei duro pelo pão,
Pela honra e pelas riquezas
Mas nos meus calos vocês deram muito pisão,
Seus almofadinhas filhos-da-mãe.]

O último verso não foi lá muito polido. Mas como ele precisava de uma rima para riches (e afinal era um ladrão), vamos dar uma licença poética. No ano seguinte, Bart quase pediu desculpas pelo que fez no Oregon:

Here I lay me down to sleep
To wait the coming morrow,
Perhaps success, perhaps defeat,
And everlasting sorrow.
Let come what will I’ll try it on,
My condition can’t be worse;
And if there’s money in that box
‘Tis munny in my purse.



[Aqui me deito para dormir
À espera da vindoura aurora:
Talvez sucesso, talvez derrota
E um sofrimento interminável.
Tentarei o que der e vier,
Minha condição não pode ser pior.
E se houver dinheiro naquela caixa
É dinheiro no meu bolso.]

Em 1883, Bowles foi ferido durante um assalto e, ao fugir, deixou seus óculos e um lenço com suas iniciais na cena do crime. Investigações do detetive James B. Hume (que, ironicamente, era parecidíssimo com Bart) acabaram resultando em sua prisão.

Quando Black Bart saiu da prisão em 1888, um repórter lhe perguntou se ele voltaria a roubar diligências. “Não, cavalheiro”, ele respondeu. “Eu abandonei o crime.” Outro repórter perguntou então se ele escreveria mais poesias. Bart apenas sorriu: “Meu filho, não me ouviste dizer que eu abandonei o crime?”

Entretanto, ninguém sabe ao certo que destino Charles Bowles tomou ao sair da cadeia. Seis meses depois de ser libertado, o corpo de um assaltante não-identificado foi encontrado perto de Virginia City, Nevada. Mas dado a fama que Black Bart alcançara, seu corpo teria sido reconhecido. Há quem diga que ele realmente se aposentou e mudou-se para Nova York, onde teria vivido em paz até morrer em 1917, aos 88 anos.

Mais informações no site-tributo a Black Bart [em inglês].

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