Como será o momento mais importante da História da Humanidade — O Contato? Muitos contos e romances de ficção científica já tentaram imaginar. Vez por outra, como agora, em Contatos Imediatos de 4º. Grau, Hollywood retoma o tema. Mas, geralmente, os filmes centram-se mais nos extraterrestres, nos efeitos especiais e em estereótipos: um disco voador, uma abdução, um “leve-me ao seu líder” ou uma invasão-e-destruição da raça humana ou até do planeta Terra.
Baseado no romance homônimo de Carl Sagan, Contato (Contact, EUA, 1997), apresenta um ponto de vista mais polêmico, mais científico e mais humano. Mesmo ofuscado pelo lançamento de MIB – Homens de Preto, Contato foi considerado um dos melhores filmes de FC de todos os tempos. O filme, dirigido por Robert Zemeckis (De Volta para o Futuro e Forrest Gump), inovou também no tratamento digital de imagens, na intertextualidade com a TV e com a “atuação” do presidente Bill Clinton. Ok, é claro que o presidente não atuou. Suas aparições são imagens digitalmente manipuladas.
No elenco pra valer, uma convincente Jodie Foster é Ellie Arroway, a cientista que faz o contato e Matthew McConaughey é Palmer Joss, um líder religioso descolado e um tanto irônico, que acaba virando conselheiro espiritual do presidente. A versão cinematográfica é bastante fiel ao livro, exceto talvez pelo final.
Ao longo do filme, que tem quase duas horas e meia de duração, algo pode frustrar os fãs de abduções e discos voadores: nada disso acontece, pelo menos a princípio. Contato começa com a infância de Arroway, volta para o presente, mostra o trabalho de uma radioastrônoma, ensaia um romance entre Ellie e Palmer Joss. O contato que dá título ao filme é feito e confirmado através de radiotelescópios e seguem-se todas as consequências e reações ao contato. Há intenso debate entre os descobridores, os céticos e os líderes religiosos, políticos e militares. Por fim, descobre-se que a mensagem recebida (com surpreendentes imagens de Hitler discursando) traz muitas informações ocultas, inclusive instruções para construir uma espécie de portal interplanetário.
No final do filme, porém, uma suposta viagem interplanetária termina com elementos bastante comuns aos já tradicionais contatos ufológicos: uma experiência intensa, quase espiritual — e difícil de comprovar. Como um bom filme, Contato é menos imediato e mais instigante. O espectador ganha o benefício da dúvida na escolha do final: houve ou não contato? Se sim, até que ponto o contato foi objetivo? Se não, o que aconteceu realmente? Uma fraude em escala planetária ou uma falha técnica causada por uma tecnologia alienígena e desconhecida?
O final é ambíguo e provocador graças ao autor. Carl Sagan, que ganhou fama mundial à frente dos Programas Viking e Voyager na NASA, era sobretudo um cientista cético, mas que não deixava de admitir possibilidades. Foi ele um dos primeiros a levar a sério o estudo dos fenômenos ufológicos. O filme não chega a ter bordões, mas uma frase recorrente sempre foi atribuída a Sagan: “Se não há vida lá fora, então o Universo é um tremendo desperdício de espaço.”
Há também uma história por trás do filme, que custou a sair. Na verdade, como havia feito na série de documentários Cosmos (PBS TV, 1980), Sagan pretendia fazer um filme e depois um livro. A ideia de Contato surgiu no começo dos anos 80, mas após comprar o roteiro a Warner fez muitas exigências: incluir o Papa como personagem, dar um filho a Ellie Arroway, inserir mais cenas de efeitos especiais. Sagan, porém, bateu o pé. Ele não queria um blockbuster. Com o roteiro que tinha, lançou Contato, o livro, em 1985. Quatro anos mais tarde, ele começou a trabalhar novamente na versão cinematográfica. Mas a Warner, que só retomou o projeto em 1993, teve dificuldades em arranjar diretores e elenco e o filme só saiu em 1997, seis meses após a morte de Sagan.
Trailer (em inglês):
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