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domingo, 12 de dezembro de 2010

A Voz de Shakespeare

Embora no começo do século XVII não existissem meios para gravar o áudio de peças de teatro, ainda hoje é possível ouvir as peças de Shakespeare tal e qual eram pronunciadas quando de sua estreia. A façanha é fruto de estudos do professor Paul Meier, da Universidade do Kansas, e seus alunos de artes cênicas.

Desde outubro, o Prof. Meier trabalha em parceria com o linguista David Crystal para reencenar as peças do bardo de Avon em OP (original pronounce, ou pronúncia original). Essa é a primeira montagem de Shakespeare em OP fora do Reino Unido.

A primeira vez que isso foi feito foi em Cambridge, nos anos 1950, em uma única e especial apresentação. Mais recentes são as duas montagens foram feitas pelo Globe Theather em Londres em 2005, também realizadas com consultoria de David Crystal, autor de Pronouncing Shakespeare.

A peça escolhida pelo professor Meier para ressuscitar o inglês seiscentista é A Midsummer’s Night Dream [Sonhos de uma noite de verão]. Um trecho da peça, em linguagem original e devidamente legendado em inglês, é apresentado no vídeo a seguir:



Como podem perceber, em OP as rimas de Shakespeare tornam-se claras. Mesmo quem pouco ouviu do inglês moderno nota a diferença na pronúncia. Notáveis são as mudanças em palavras simples como “my”, que passou de /mi/ para /mái/.

Também há mudanças mais sutis, como o –ear, de “bear” e “fear”, que era pronunciado como /ér/ e não /ir/. E em “ground” e “wound”, a vogal era /o/ em ambas e não /au/ na primeira e /ou/ na segunda.

Ah, sim, e para quem não sabe “thou” /tu/ e “thy” /tee/ são formas arcaicas de “you” e “yours” – um paralelo interessante com o português, onde também passamos de “tu” e “teu” para “você” e “seu”. De fato, thou e tu são cognatos e descendem da mesma raiz indo-europeia, *tu.

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PS: será que alguém já pensou em fazer a mesma coisa com as peças de Gil Vicente? Ou será que a diferença de pronúncia do português não é assim tão grande?

Achei o video no recém-descoberto Open Culture, que só apresenta bens culturais que não têm preço – tudo free.

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