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sábado, 27 de novembro de 2010

Espetáculo do crescimento

Suponha que em uma única noite todas as dimensões do universo tornem-se mil vezes maiores. O mundo vai continuar bastante similar a si mesmo, se nós dermos à palavra similar o sentido que ela tem no terceiro livro de Euclides. O que antes tinha um metro de comprimento, agora medirá um quilômetro, e o que tinha um milímetro terá um metro. A cama na qual eu dormi e meu próprio corpo terão crescido na mesma proporção. Quando eu acordar na manhã seguinte, qual será a minha expressão diante de tamanha transformação? Bem, eu não devo notar absolutamente nada. A mais exata medida será incapaz de revelar qualquer coisa dessa tremenda mudança, pois as fitas métricas que eu uso terão variado na mesma e exata proporção dos objetos que eu tentar medir.
— Henri Poincaré, Science and Method, 1908.
Agora imagine se isso aconteça todas as noites, ainda que a uma escala menor. De certa forma, acontece mesmo, já que o universo inteiro está se expandindo. A cada dia, crescendo à velocidade da luz, o universo se torna 25.920.000.000 de quilômetros maior. Só que como ele sempre cresce, essa diferença se torna sempre proporcionalmente menor. Assim, embora o universo cresça a cada dia, nós não percebemos nada por que, apesar de manter sempre o mesmo ritmo, ele cresce cada vez menos.

Agora o mistério é se o mesmo fenômeno ocorre em relação ao crescimento econômico. Se uma economia inteira cresce, como conseguimos avaliar tal crescimento mantendo sempre os mesmos parâmetros? Aliás, parece-me muito mais difícil medir objetivamente o crescimento econômico por que ele é sempre influenciado por vontades políticas e pela própria existência do(s) medidore(s).

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Faster-than-light

A pressa é inimiga da perfeição. O entusiasmo, também. Quando a velocidade da luz começou a ser medida, no fim do século XIX, não faltavam comentários entusiásticos nas jovens revistas de divulgação científica, como a francesa La Science Populaire:
A luz cruza o espaço com a prodigiosa velocidade de 6.000 léguas por segundo. (La Science Populaire, Abril de 1881)
Seis mil léguas luminosas? Isso dá cerca de 33.336 km/s, o que é pouco mais de 10% do valor atualmente aceito para a velocidade da luz (299.792 km/s). Obviamente, o erro não estava na velha légua e foi corrigido de maneira mais ou menos poética:
Um erro tipográfico caiu em nosso último número e é importante corrigi-lo: a velocidade da luz é de 76.000 léguas por hora — não 6.000. (LSP, Maio de 1881)
Opa! 76.000 léguas dá 422.256 quilômetros. Não, esse valor 40% acima do que conhecemos hoje não é um erro, por causa da falta de precisão dos equipamentos da época. Além disso, previa-se um valor de c maior do que se foi verificado realmente. Mas há outro erro na errata acima: dessa vez o valor foi apresentado corretamente, mas em léguas por hora!

Isso não passou despercebido e três meses depois, sem muito entusiasmo, a Le Science Populaire finalmente informou o valor correto da velocidade da luz:
Uma nota corrigindo um erro apareceu em nosso número 68 indicava que a velocidade da luz é de 76.000 léguas por hora. Nossos leitores corrigiram esse novo erro: a velocidade da luz é aproximadamente 76.000 léguas por segundo. (LSP, Junho de 1881)

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"O que eu digo não pode ser provado"


Suponha que esta afirmativa [acima] possa ser provada. Se pode ser provada, o que ela diz pode ser verdade. Mas ela diz que não pode ser provada. Se assumirmos que podemos provar a afirmação, nós provamos que ela não pode ser provada. Assim, nossa suposição de que ela era provável torna-se errada. Com essa alternativa fechada, vamos tentar a outra possível: vamos supor que a afirmação não pode ser provada. É exatamente isso o que ela diz e o que é verdade, afinal. E isto encerra nossa prova da afirmação acima!

– Gary Hayden and Michael Picard, This Book Does Not Exist [Este Livro Não Existe], 2009

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Em uma palavra [30]

Filosofúnculo
subst. masc. 1. um filósofo menor, insignificante ou desprezível. 2. modo depreciativo de se referir a um filósofo. [do latim philosophunculus]

sábado, 20 de novembro de 2010

Camelos no Velho-Oeste

Dizem que a necessidade é a mãe da invenção. Os americanos ainda estavam reconhecendo e ocupando os territórios desérticos que haviam acabado de ganhar do México após a Guerra de 1845 quando começaram a faltar cavalos e mulas.

Para resolver o problema, Jefferson Davis, então Secretário de Guerra (e futuro Presidente Confederado),  liberou uma verba de 30.000 dólares para a importação de... camelos e dromedários! Um navio da Marinha foi enviado à África do Norte e voltou em 1856, desembarcando 33 camelos em Indianola, no Texas.

Western alternativo: 'camelboys' e seus camelos.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ascensão e Queda de Baldonia

Em 1948, durante uma pescaria com seus amigos no sul da Nova Scotia, Canadá, o empresário americano Russell Arundel teve uma ideia ambiciosa: declarar a independência da pequena ilha conhecida como Outer Bald Tusket. Junto com os seus amigos, Arundel redigiu a Declaração de Independência do Principado de Outer Baldonia:
Os Pescadores são uma raça solitária. Pescadores são dotados dos seguintes direitos inalienáveis: O direito de mentir e ser acreditado. O direito de ser livre de questionamentos, perturbação, barbear-se, interrupção, mulheres, impostos, política, guerra, monólogos, tédio e inibição. O direito ao aplauso, à vanglória, ao elogio insincero, ao louvor e à auto-inflação. O direito de praguejar, mentir, beber, jogar e ficar em silêncio. O direito a ser barulhento, intempestivo, quieto, pensativo, expansivo e hilário. O direito de escolher companhia e de ficar só. O direito de dormir o dia inteiro e passar a noite em claro.
A moeda de Baldonia seria o tunar (trocadilho entre tuna, atum e dollar). Quem pescasse um atum de mais de 150 quilos seria declarado príncipe. A economia seria baseada não na pesca — o esporte nacional — mas na exportação de garrafas vazias de rum e cerveja. A entrada de mulheres em Baldonia foi proibida — exceto por uma visita da ex-secretária de Arundel, Florence McGinnis, declarada princesa.

A independência de Baldonia foi um sucesso imediato, sendo reconhecida por Washington — ou melhor, por uma lista telefônica de Washington. Mas parece que Arundel não tinha o mesmo senso de humor quando estava sóbrio: ele se cansou rapidamente da piada e vendeu a ilha à Nova Scotia Bird Society. Antes disso, porém, ele passou uma noite no "palácio real" e considerou o lugar como algo "ventoso, frio e miserável." Deve ter sido a ressaca.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Nem morta!

Devizes.market.cross

Na Praça do Mercado em Devizes, Wiltshire, Inglaterra, há a seguinte um monumento com a seguinte inscrição:
Na terça-feira, 25 de janeiro de 1753
RUTH PEARCE
de Potterne, neste Condado,
Fez um acordo com três outras mulheres para comprar um Saco de Trigo
no Mercado, cada qual pagando sua devida proporção    
pelo mesmo.
Uma dessas Mulheres, ao coletar as várias quotas    
de Dinheiro, descobriu uma deficiência e exigiu de
RUTH PEARCE a soma que faltava para 
completar o Montante.
RUTH PEARCE protestou que ela já pagara sua Parte,
e disse que gostaria de cair morta se não o
tivesse feito. — Ela imprudentemente repetiu esse terrível desejo; — quando, para a consternação e o terror da multidão
que a cercava, ela caiu instantaneamente e expirou,
com o dinheiro em questão em suas mãos.
Na época, John Clare, encarregado de investigar a morte de Ruth Pearce, acreditou na história e concluiu que ela “caiu morta pela vingança de Deus”. Não seria surpresa se, com a aproximação entre Católicos e Anglicanos, Ruth Pearce virasse a santa padroeira dos mão-de-vaca. Falando sério, Pearce pode ser apenas uma personagem folclórica, coisa que toda cidadezinha tem para atrair turistas.

Devizes é uma tradicional cidade-mercado e os mercadores sempre tiveram grande influência por lá. Assim, a história pode ter sido inventada para assustar os inadimplentes numa época em que não existiam serviços de proteção ao crédito (aka Serasa).

Mesmo que Ruth Pearce tenha sido uma personagem real, a morte dela não tem nada de sobrenatural. Ela simplesmente pode ter tido um enfarte ou uma morte súbita.

sábado, 13 de novembro de 2010

O Colombo do Sul

Em fevereiro de 1820, o caçador de focas norte-americano John Davis navegava a cerca de 50 quilômetros ao sul da Ilha Hoseason, nos Mares do Sul, quando encontrou uma península. Segundo o diário de Davis aquele dia:
Começa com tempo nublado e ventos leves. Às 10 A.M. apareceu uma grande massa de terra na direção SE, perto de nosso barco. Às 11 A.M. mandamos atracar nosso bote para buscar por focas. O bote retornou, mas não havia sinais de focas. Ao meio-dia nossa latitude era 64º01' Sul. A baía era larga e a terra era alta e inteiramente coberta de neve. (...) Eu acho que essa terra do sul deve ser um continente.
A diferença entre Davis e Colombo é que já se suspeitava há muito da existência de um grande continente austral. Quando a Austrália foi descoberta, pensava-se que ela era esse continente perdido ou parte dele.

Davis não foi o primeiro a ver a Antártica, mas foi o primeiro a pôr os pés lá e a reconhecê-la como um continente. Curiosamente, houve um outro John Davis, inglês que no século XVI também era um explorador polar, mas do Ártico.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Efeito Bourne

Em 14 de março de 1887, o norte-americano Ansel Bourne acordou em um quarto desconhecido. Para sua imensa surpresa (e a sua também, leitor), Bourne, que vivia em Rhode Island como pastor evangélico, descobriu que estava em Norristown, Pensilvânia. Lá, ele havia se estabelecido dois meses antes, apresentando-se como A. J. Brown, e abriu uma loja de confecção.

Mister Bourne/Brown foi encontrado por seu sobrinho, que ajudou-o a voltar para Providence, capital de Rhode Island. Psicólogos diagnosticaram nele um dos primeiros casos de fuga dissociativa, múltipla personalidade e amnésia.

Não foi a primeira vez que Bourne perdeu sua identidade (não, não foi o RG). Em 1857-58, ele, que até então era carpinteiro, tornou-se subitamente obcecado com a ideia de visitar uma capela. Depois desse episódio, ele tornou-se o pastor Bourne.

Quase um século depois, em 1980, Robert Ludlum foi inspirado pela história e deu o sobrenome do carpinteiro/pastor/comerciante ao personagem principal de sua trilogia mais bem-sucedida — A Identidade Bourne, A Supremacia Bourne (1986) e O Ultimato Bourne (1990).

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Revisão pelos pares

horácio_FAIL
Tem algum erro tipográfico por aí. 50 libras pra quem encontrar.


Não importa o quanto você se dedique a um trabalho perfeito, sempre vai passar algum erro. Os irmãos Foulie que o digam:
Os célebres [irmãos Robert e Andrew] Foulie, [tipógrafos da Universidade] de Glasgow, tentaram publicar uma obra que deveria ser um perfeito exemplar de precisão tipográfica. Todas as precauções foram tomadas para assegurar o resultado desejado. Seis experientes revisores foram empregados e devotavam horas à leitura de cada página. Depois que se pensou que tudo estava perfeito, a obra foi exposta no hall da Universidade, com um aviso de que um prêmio de 50 libras seria pago a qualquer pessoa que descobrisse um erro. Cada página ficou exposta por duas semanas antes de ser impressa e os impressores pensaram ter atingido o objetivo pelo qual lutaram. Quando a obra foi publicada, descobriu-se que vários erros haviam sido cometidos, um dos quais já na primeira linha da primeira página.
– William Keddie, Cyclopædia of Literary and Scientific Anecdote [Enciclopédia de Anedotas Científicas e Literárias], 1854
O livro "imaculado" tão desejada pelos irmãos Foulie era a edição de 1744 das Obras de Horácio — em latim. Apesar do esforço (e de uma forma primitiva de crowdsourcing) foram encontrados pelo menos seis erros tipográficos. Hoje o Horácio dos Foulie é uma verdadeira relíquia.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Em uma palavra [29]

Presenteísmo
subst. masc. Qualidade ou estado de estar presente, especialmente no trabalho. Oposto de absenteísmo, a partir do qual a palavra foi formada.

Eu acho que uma outra interpretação é possível. Presenteísmo também pode ser a fusão entre presente (tempo) e teísmo, para indicar a atual deificação do tempo presente.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Pré-requisito

CoD

domingo, 7 de novembro de 2010

O Menor Parque do Mundo

Fica em Portland, no Oregon:
MEP
Mill Ends Park: mais uma criação de um jornalista entediado... Ô raça!

Com apenas 0,61 cm de diâmetro e 0,29 metro quadrado de área, o Mill Ends Park é 60 milhões de vezes menor que seu vizinho, o Forest Park. O miniparque surgiu no dia de São Patrício de 1948, quando o jornalista Dick Fagan, do Oregon Journal, notou um buraco perto de seu escritório, no meio da South West Front Street.

Fagan dizia que o parque começou depois que ele olhou pela janela de seu escritório e viu um leprechaun cavando um buraco. Ele correu até lá e pegou o leprechaun, o que lhe fez ganhar um pedido. O jornalista disse que queria um parque só para ele. Mas como não disse de que tamanho seria o parque, acabou ganhando o buraco do leprechaun, que se chamava Patrick O’Toole. Dick decidiu plantar flores no buraco e passou a escrever uma coluna semanal sobre o parquinho, que ele descrevia como a “única colônia de leprechauns a oeste da Irlanda.”

Depois da morte de Fagan, em 1969, a população adotou o jardinzinho. Em 1971, o Guiness Book o reconheceu como o menor parque do mundo e a prefeitura oficializou-o como parque municipal em 1976. Desde então, além de ser o lar dos leprechauns, o Mill Ends Park já teve uma piscina para borboletas, uma réplica do prédio do jornal e hoje sedia a corrida anual de caramujos.

sábado, 6 de novembro de 2010

Conflitos Esquecidos [7] — A Guerra do Sal


Também conhecida como Guerra de Ferrara, foi um conflito iniciado em 1482, envolvendo Ercole I d'Este, duque de Ferrara e as forças pontifícias lideradas pelo arqui-inimigo de Ercole, o Papa Sisto (às vezes Sixto) IV, aliado aos venezianos. Embora não tenha chegado aos campos de batalha (e não sofresse de hipertensão), Sisto IV acabou morrendo por causa da guerra.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Hino Multiuso


Os americanos pensam que a tradicional canção My Country, 'Tis of Thee, a.k.a. America, é um hino patriótico (embora não seja o oficial). Ironicamente, diversos países pensam da mesma forma. A mesma melodia serve como hino nacional (e oficial) da Dinamarca, Suécia, Suíça, Noruega, Liechtenstein — e até para a Rússia! Todos esses países "roubaram" a melodia que os britânicos conhecem como God save the Queen. Para piorar, diversas ex-colônias britânicas mantém a melodia como hino real: Belize, Bahamas, Barbados, Canadá (onde também tem versos em francês), Nova Zelândia, Jamaica...

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Menor Maior

O New York Times de 18 de setembro de 1972 informava que um homem chamado Minor W. Major havia participado de uma conferência sobre História em Tarrytown, Nova York. Perguntado sobre a origem de seu nome, Mr. Major contou sua história: 

“Antes da Guerra Civil, uma jovem moça chamada Minor se casou com um jovem moço chamado Major e se tornou Mrs. Major. Ele era um agente confederado e afundou diversas cargas da União no Mississipi. Ele teve um uniforme Ianque para usar em certas épocas e nessas circunstâncias Minor Major, agente confederado, se tornava Major Minor, oficial da União. Eu sou um bisneto do Major que se casou com Miss Minor.”

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Em uma palavra [28]

Vaticídio
subst. masc. assassinato de profeta(s). [do latim, vates, profeta, visionário ou poeta] Vaticida, adj.

Dada a etimologia, há quem diga que vaticídio também deveria indicar o assassinato de poeta(s). Eu acho que nesse caso poderíamos usar vatecídio e vatecida. Ou usar derivados de Bardo: Bardocídio e bardocida (não confundir com "Bar do Cido" ou "Bar da Cida").

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