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domingo, 31 de julho de 2011

Patentes Patéticas (nº. 18)




Se esta invenção fosse registrada hoje, provavelmente iria atrair a ira do PETA se fosse aprovada. Mas La Fayete Wilson Page, de Shrevenport, Louisiana, conseguiu o registro de um “anexo para locomotivas” em 29 de janeiro de 1884. Sua ideia de um aparelho para remover o gado dos trilhos pode ter tido boas intenções, mas mesmo para os animais que pretendia proteger, a engenhoca era perigosa. Ferventemente perigosa. 

No texto da patente norte-americana nº. 292.504, Page explica que 
[...] esta invenção trata-se de um anexo para locomotivas a ser usado para fins de assustar e expulsar cavalos e gado para fora dos trilhos [...] Através da biela I a torneira F pode ser aberta, permitindo assim que a água escape da caldeira através da saída D, sendo empurrada com grande grau de força e a considerável distância de modo a ser empregada para assustar cavalos e expulsar o gado dos trilhos.
Em suma: o que Mr. Page inventou era um lançador de água fervente para assustar animais e impedir atropelamentos ferroviários.

É difícil saber, porém, se o sistema chegou a ser implantado ou testado em alguma locomotiva ou impediu algum acidente do tipo. Sobre isso, a patente não diz nada. Também não há qualquer menção a um meio para impedir o acionamento acidental do lança-vapor. 

O mais provável é que, se houve algum teste desse invento, o animal tenha sido não apenas assustado, mas ferido, caindo sobre os trilhos e sendo atropelado de qualquer maneira. Usar o apito e os freios seria muito mais fácil — e barato, já que eram equipamentos presentes na maioria das marias-fumaça.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A anomalia da foto C-S11-32W071-03


Em 1976, uma foto de satélite da NASA, de número C-S11-32W071-03, revelou algo bastante incomum na densa floresta do sudeste do Peru: objetos piramidescos, alinhados em duas fileiras quase perfeitas. Seria aquele o esconderijo de incas-venusianos?

Aquilo, fosse o que fosse, tinha que ser nomeado. Afinal, não seria muito prático ficar usando “anomalia da foto C-S11-32W071-03” nas discussões.  Os entusiastas dos mistérios sul-americanos chamaram-nas de pirâmides de Paratoari (ou pirâmides de Pantiacolla; os crentes, para variar, discordavam sobre os detalhes). Os céticos simplesmente se referiam àquilo como os “pontos”. Entretanto, como quase todas as febres dos anos 1970, esse mistério da selva peruana acabou esquecido por um bom tempo.

Foi somente em 1996 que Gregory Deyermenjian, explorador e psicólogo norte-americano decidiu montar uma expedição e descobrir de uma vez por todas o que eram (ou não eram) as “pirâmides”. Acompanhado dos peruanos Paulino Mamani, Dante Núñez del Prado, Fernando Neuenschwander, Ignacio Mamani e dois índios, Deyermenjian se embrenhou na selva peruana. Foram os primeiros a chegar naquele local. O americano já era um experiente explorador e encontrou diversas evidências de ocupação inca na área: petroglifos, estradas pavimentadas (a.k.a. peabirus) e plataformas. Mas nada das “pirâmides”.

Porém, em uma investigação mais minuciosa, Deyermenjian encontrou algo e percebeu que aquilo não poderia ter sido feito por mãos humanas (muito menos incas-venusianas). O que ele encontrou era nada menos que uma formação geológica natural, as serras de cume truncado de arenito (em inglês, sandstone truncated spur). São apenas falhas de origem glacial ou tectônica com a surpreendente e ilusória forma de uma pirâmide.

Mesmo com o mito das pirâmides de Paratoari detonado, o interesse sobre a área e uma possível cidade perdida ressurgiu em 2001. Naquele ano, o arqueólogo italiano Mario Polia alegou ter encontrado documentos nos arquivos dos jesuítas em Roma. Segundo Polia, um missionário relatava a existência de uma cidade inca conhecida como Paititi naquela área. Faltava apenas descobrir as evidências físicas. Um “forte” chegou a ser descoberto em 2007 mas, como as pirâmides, também não passava de uma extravagância geológica feita de arenito.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Vingança à Indiana

Na Índia, os macacos são mais ou menos objetos de reverência supersticiosa e são, consequentemente, pouco ou raramente destruídos. Em alguns lugares eles são até mesmo alimentados e encorajados a viver nos telhados das casas. Se um homem deseja vingar-se de qualquer injúria, ele precisa tão-somente espalhar um pouco de arroz ou milho no teto da casa ou do celeiro de seu inimigo pouco antes da chuva cair. Os macacos vão se reunir ali, comer tudo o que puderem do lado de fora e depois levantam as telhas em busca dos grãos que caíram pelas fendas. Isso, obviamente, abre caminho para as torrentes que caem naquele país e as casas, a mobília e os alimentos [do inimigo] são todos arruinados. — Edmund Fillingham King, Ten Thousand Wonderful Things [Dez Mil Maravilhas], 1860

quarta-feira, 27 de julho de 2011

O futuro, segundo uma cabeça falante (1987)


A matéria de capa da OMNI Magazine — então uma importante revista americana de ciência e ficção científica — no distante mês de janeiro de 1987 era um tanto clichê: “14 great minds predict the future” [14 grandes mentes preveem o futuro]. A OMNI perguntou a pessoas que então eram importantes, nos mais diferentes campos, o que a humanidade podia aguardar para 2007. Houve, previsivelmente, previsões sobre um pouco de tudo: da paz no Oriente Médio à TV em 3D.

Hoje, uma das mais interessantes, por seu tom pessimista e por seu tremendo equívoco tecnológico é a que foi feita por David Byrne. Ao olhar para sua bola de cristal e escrever sobre o futuro da arte, da televisão e do pop, o vocalista e compositor do Talking Heads viu um futuro um tanto conservador, no qual os computadores nunca seriam capazes de auxiliar artistas em seu processo criativo. Um excerto da sua previsão para a OMNI é o que segue:

terça-feira, 26 de julho de 2011

Em uma palavra [63]

vacimulgência
subst. fem. ato ou efeito de retirar leite da vaca; ordenha. “— Ô, dotô, vamo logo! Ma’ o que é que ’ocê tá fazen’o aí? — Estou fazendo a vacimulgência para você.” Vacimulgenciar, verbo.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

De Dase a Lemaire

Quais os maiores números que você já multiplicou de cabeça? Certa vez o jovem alemão Johann Martin Zacharias Dase (1824-1861) teria multiplicado dois números de 100 dígitos. De cabeça. Ele levou 8 horas e 45 minutos para terminar a operação. Entretanto, outro prodígio matemático, Gauss (1777-1855), estimou que um matemático hábil, usando apenas papel e lápis, levaria só metade daquele tempo para cumprir a mesma tarefa de Dase. Mas Zacharias não era um matemático e mal aprendeu o básico de teoria matemática quando tentaram lhe ensinar. 

Zacharias Dase: “Eu não preciso de lápis e papel. Beijos.”
Ele simplesmente contava, com uma rapidez incrível. Aliás, ele talvez nem contasse. Segundo Douglas Hofstadter em Gödel, Escher, Bach, “[...] ele tinha um senso de quantidade sisnistro. Isso é, ele podia apenas ‘dizer’, sem contar, quantas ovelhas ovelhas havia num campo ou quantas palavras em uma sentença e assim por diante [...]”

domingo, 24 de julho de 2011

Um museu vivo dos refrigerantes


Nesta era de globalização, quando os longos — e, vamos admitir, deliciosos — tentáculos da Coca-Cola ou da Pepsi alcançam até os lugares mais remotos do mundo, a Galco Soda Pop Stop é um lugar único. Nesse mercadinho cabe uma imensa variedade de marcas de refrigerante artesanais ou vintage, vindos de todos os cantos dos Estados Unidos e de lugares tão distantes quanto a Romênia. 

sábado, 23 de julho de 2011

Patentes Patéticas (nº. 17)


Cuidado! Frágil!
Mumificação é algo tão 4.000 a.C., tão mainstream... Mas graças a Joseph Karwowski, agora você pode morrer de modo muito mais moderno, com estilo e, diferentemente das múmias, ficar lindo por toda a eternidade*. Em 1903, Karwowski patenteou um “método de preservação dos mortos” brilhante. Como a criogenia, o método é caro e lento, mas indolor. Trata-se de revestir e isolar hermeticamente o falecido em um bloco de vidro transparente. 

Perfeito para quem tem medo não apenas de morrer, mas de ser enterrado, cremado (e ter suas cinzas cheiradas por alguém) ou congelado num caixão criogênico. Não tem muito espaço para dividir com um cadáver envidraçado? Sem problemas, segundo a patente: “Na Fig. 3, eu apresentei apenas a cabeça do corpo inserida no interior do bloco de vidro transparente. É evidente que apenas a cabeça pode ser preservada dessa maneira, se assim for preferido.” 

Pelo menos serve como um bom peso de papel. Pois crânios são tão mainstream como pesos de papel...


________________________
*A eternidade do produto/serviço só é garantida até aquele seu distante e desastrado descendente de 10 anos encontrar alguma forma de quebrar seu sarcófago cristalino. Não se esqueça de deserdá-lo por isso.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Trollagem Psicológica

Em uma universidade feminina, um psicólogo pediu aos membros de sua classe para cumprimentar qualquer garota vestida de vermelho. Em uma semana, a cafeteria ardia de tanto vermelho. Embora tenham notado que a atmosfera estava mais amigável, nenhuma das meninas sabia estar sendo influenciada. Diz-se que uma turma na Universidade de Minnesota teria condicionado seu professor de psicologia uma semana após ele ensinar sobre aprendizagem subconsciente. Toda vez que ele movia-se para o lado direito da sala, os alunos prestavam mais atenção e riam mais ruidosamente de suas piadas — e condicionaram-no tanto a ir para a direita que chegaram a fazê-lo sair da sala. — W. Lambert Gardiner, Psychology: a Story of a Search [Psicologia: relato de uma pesquisa], 1970
Fica a dica para os estudantes universitários trolls.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Civlização FDP



Isso explica por que o terrorismo, o sexismo e a mútua intolerância religiosa grassam nesses tempos de “politicamente correto” de merda, quando não se pode dizer porra nenhuma com um palavrão. Nem pra se aliviar, caralho! Puta falta de sacanagem civilidade!!! #prontofalei

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Da arca do velho

Os animais embarcam na arca, gravura do holandês Maerten van Heemskerck, c. 1560

As primeiras edições da Encyclopedia Britannica estavam tão certas da realidade da Arca de Noé que, dentro do respectivo verbete, chegavam ao ponto de especular como os animais poderiam ter sido alimentados e acomodados em tal embarcação:
[O] Bispo Wilkins calcula que todos os animais carnívoros equivalem, em termos de volume de seus corpos e à sua alimentação, a 27 lobos; e todos os que restam a 280 cabeças de gado. Para aqueles, ele provê 1825 ovelhas e para estas, 109.500 cúbitos de feno. Tudo isso poderia ser facilmente contido nos dois primeiros andares e ainda haveria bastante espaço livre.
Essa especulação — não muito diferente das abordagens “sob condições ideais de temperatura e pressão” de certos problemas de Física do Ensino Médio — é encontrada na edição de 1797 da Britannica. Nos anos 1860, quando se deram conta de que uma arca não seria capaz de acomodar todas as espécies do mundo, os editores passaram a sugerir que o dilúvio não teria sido assim tão universal: apenas as partes da Terra sob ocupação do homem teriam sido inundadas. 

Na edição de 1911, a história de Noé já era integralmente apresentada como um mito. Ironicamente, meio século mais tarde, a enciclopédia inglesa relatava até as “muitas engenhosas e curiosas teorias” que haviam sido publicadas a favor da Arca de Noé ao longo dos séculos.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Estou cego dos óculos

O pior é que antes de usar óculos (e aprender ótica), eu também pensava que todo mundo que usava fosse um quase-cego. #meaculpa

Em uma palavra [62]

Como autor desta série, eu era um glossador (de tipo 2) e não sabia!
glossador
s.m. 1. aquele faz glosas; um comentarista; especificamente, é o comentarista medieval de textos de Direito Civil ou Canônico. 2. aquele que escreve glossários; dicionarista; vocabularista. [do latim glossare, glosar, apor glosa]

segunda-feira, 18 de julho de 2011

J.J. Sylvester, o matemático-poeta

James Joseph Sylvester (1814-1897) era um brilhante matemático inglês mas, de acordo com diversas fontes, também foi um poeta de pé quebrado. O Dictionary of American Biography [Dicionário de Biografia Americana] informa delicadamente que “a maioria dos versos originais de Sylvester mostravam mais ingenuidade que senso poético.”

O que lhe faltava mesmo era variedade. Um livro de poesias de Sylvester, Spring's Debut: a Town Idyll, contém 113 versos — todos eles rimando com in. Felizmente, tal livro foi impresso apenas para seu autor. Pior ainda foi considerado “Rosalind”, um poema de 400 versos no qual todos rimam com o nome da personagem-título. 

Em Teaching and History of Mathematics in the United States [Ensino e História da Matemática nos Estados Unidos], Florian Cajori conta que certa vez Sylvester foi convidado a recitar “Rosalind” no Instituto Peabody, em Baltimore, onde o matemático poeta trabalhava como professor no começo dos anos 1880.

Entretanto, J.J. começou lendo todas as notas de rodapé explicativas — para não ter que interromper o ritmo do poema — e percebeu, tarde demais, que apenas essa introdução havia lhe tomado uma hora e meia. “Depois,” conclui Cajori, “ele leu o poema em si para o que sobrara da sua audiência.”

domingo, 17 de julho de 2011

A última canção

Enquanto está sendo desativado (ou morto) em 2001: Uma Odisseia no Espaço, o computador HAL começa a cantar “Daisy Bell”. É uma cena clássica:


A letra da música é singela:
Daisy, Daisy, give me your answer do,
I’m half crazy, all for the love of you.
It won’t be a stylish marriage–
I can’t afford a carriage–
But you’ll look sweet upon the seat
Of a bicycle built for two.

De certo modo, isso é uma ironia poética. Durante uma visita ao Bell Labs em 1961, o autor de ficção científica Arthur C. Clarke (1917-2008) havia testemunhado uma apresentação do primeiro computador a cantar. O físico John Kelly (1923-1965) havia programado um IBM 704 para cantar através de um sintetizador de voz. O nome da canção era “Daisy Bell”.

sábado, 16 de julho de 2011

Patentes patéticas (nº. 16)

Frustrado com os intertítulos irritantemente intermitentes usados para apresentar as falas nos filmes do cinema mudo, Charles Pidgin teve um sopro de inspiração em 1917. Seria muito melhor se, durante a atuação, os atores inflassem balões nos quais suas falas estariam impressas. “O ato de soprar ou inflar os balões pelos vários personagens de uma foto-peça [sic] irá adicionar palavras que parecem sair da boca dos atores ao realismo da imagem”, justificava Pidgin. 
Soprando o texto: A: “Você já fez isso antes”; B: “Eu nunca a amei”; C: “Oh! A fraude”

Mais que isso: “o tamanho do discurso pode ser desenvolvido com o desenvolvimento [sic] das emoções mostradas na tela.” Também havia outros prós: o sistema seria barato e os atores não precisariam mais decorar os textos (mas talvez precisassem ter mais fôlego). Se tivesse conhecido a ideia, é provável que o próprio Thomas Edison a aprovasse. 

Seria um estouro.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Oração do Lobisomem


Segundo Sabine Baring-Gould, em seu Book of Werewolfes [Livro dos Licantropos] (1865), os versos que seguem são, segundo o folclore russo, uma invocação de lobisomens:
Aquele que deseja se tornar um oboroten, deve procurar na floresta uma árvore cortada. Deve apunhalá-la com uma pequena faca de cobre e andar ao redor da árvore, repetindo o seguinte encantamento:

No mar, no oceano, na ilha, em Bujan,
No pasto vazio cintila a lua, sobre um rebanho
que repousa em um verde bosque, em um obscuro vale
Em direção ao rebanho desvia-se um lobo desgrenhado
Os cornos do gado procuram suas brancas e afiadas presas
Mas o lobo não se volta para a floresta
Nem desce ao sobrio vale
Lua, lua, lua de chifres de ouro
Cega o voo das balas, parte as facas dos caçadores
Quebra a clava do pastor
Lança um medo pânico sobre todo o gado
Sobre os homens, todas as coisas mais aterrorizantes
Que eles não possam capturar o lobo cinza,
Que eles não possam rasgar sua pele quente!
Minha palavra é irresistível, mais irresistível que o sono,
Mais comprometedora que a promessa de um herói!

Então ele pula três vezes sobre a árvore e corre para a floresta, transformado em um lobo.
Pensando bem, isso mais parece uma oração, não é mesmo? Pagã, talvez, mas ainda tem uma estrutura muito similar à uma oração: começa com um relato, aparece um problema e clama-se a uma divindade (nesse caso, a “lua de chifres de ouro”) uma proteção invencível e uma transformação mágica em troca de uma fidelidade igualmente invencível (“mais comprometedora que a promessa de um herói”). Amém.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Tretretretre

Em 1658, o almirante francês Etienne de Flacourt (1607-1660) relatou uma curiosa lenda que descobrira entre os nativos de Madagascar. Eles contavam histórias sobre uma criatura estranha, do tamanho de um bezerro de dois anos, com uma cabeça redonda, pés de macaco, uma cauda curta, muito peluda e orelhas e face que pareciam humanas. Os madagascarenhos malgaxes a chamavam tretretretre.

Como o animal descrito nos contos dos nativos não se parecia com nada existente na fauna de Madagascar, os europeus consideraram o tretretretre como mais uma exótica crendice local. Porém, muito tempo depois, foram descobertos diversos fósseis do que seria uma explicação para o mito. 

Megaladapis m., em uma reconstituição de 1902:
um lêmure de 1,5m e 50kg
Palaeopropithecus ingens: menor, mas com uma face
 mais “humana”
Com um nome científico bem mais fácil de pronunciar, o Megaladapis madagascariensis foi descoberto em 1894. Era uma espécie de lêmure gigante que estaria extinto há milhares de anos. Mas agora os zoologistas pensam que o megalêmure teria vivido pelo menos até meados do século VI, quando os humanos ocuparam a ilha e extinguiram sua megafauna.

Outros, porém, afirmam que o Palaeopropithecus ingens, descoberto em 1899, seria a inspiração por trás da lenda. O Palaeopropithecus era um lêmure um pouco menor que o Megaladapis e com uma face mais “humana”.

Seja como for, tanto o Megaladapis quanto o Palaeopropithecus ainda existiam quando um deles ou ambos passaram ao folclore malgaxe como tretretretre. Há até quem diga que alguns poucos desses animais teriam sobrevivido até meados do século XVI ou XVII, o que faria de Flacourt testemunha (involuntária) do fim de uma espécie e do início de uma lenda.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Em uma palavra [61]

agatocacológico
adj., neolog. aquilo que é composto simultaneamente do bem e do mal. “Não há ninguém acima do bem e do mal; somos todos agatocacológicos.” [do grego agathos = bem + kakos = ruim, mau + lógico

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Yacht Point


Como você já sabe, Henrietta é uma bela donzela e quer um iate. Mas seus pais ainda acham que ela é donzela demais para isso e a desafiam para uma pequena disputa tenística. 

Para ganhar seu pequeno mimo flutuante, que série a moça deveria escolher?

domingo, 10 de julho de 2011

O Conselho dos Deuses de Seattle

Em 1962, o Hospital Sueco de Seattle começou a abrir seu programa de diálise para pacientes. Como havia apenas 17 vagas para um programa pioneiro, o hospital montou um “comitê de políticas de admissão” formado por pessoas bastante comuns: um pastor, um advogado, uma dona-de-casa, um líder sindicalista, um funcionário público, um banqueiro e um cirurgião.

Na peneira para escolher os candidatos, o comitê considerava se o paciente: (a) era empregado; (b) tinha filhos; (c) era educado; (d) tinha um histórico de realizações pessoais e (e) tinha potencial para ajudar outras pessoas. Em suas deliberações, o conselho ainda avaliava a personalidade do candidato, seus méritos pessoais e as forças e fraquezas de sua família. 

“O candidato preferido” — relataram os sociologistas Renée Fox e Judith Swazey — “era uma pessoa que havia demonstrado realizações através de trabalho duro e sucesso profissional, alguém que ia para a igreja, participava de grupos e estava ativamente envolvida em assuntos da comunidade.” Pode parecer um processo seletivo bastante isento e objetivo vindo de pessoas tão comuns.

No entanto, quando a atuação do “comitê de políticas de admissão” foi divulgada pela imprensa, observadores passaram a questionar a ética de sua atuação e a qualificação de seus membros, majoritariamente leigos em questões médicas. Nenhum dos critérios usados levava em conta o estado da doença ou a expectativa de vida do paciente durante o tratamento.

Na primavera de 1963, o Seattle Times apresentou uma foto de nove candidatos à diálise em sua capa e perguntava: “Essas pessoas vão ter que morrer?” Um membro da comissão se defendeu: “Nós estamos escolhendo cobaias para fins experimentais. Não estamos negando a cura aos outros.” Hoje a ”Experiência de Seattle” é lembrada como um marco na formação da bioética.

sábado, 9 de julho de 2011

Patentes Patéticas (nº. 15)


Esta parece ser o cúmulo do sedentarismo, da nerdice ou da automação (fica à sua escolha, caro leitor). Trata-se de um sistema de controle remoto para cavalos inventado por Lem Maddem em 1980. O “cavaleiro” opera um transmissor eletrônico e o cavalo leva na sela um receptor que controla as rédeas. Opcionalmente, o receptor pode ser equipado com um bastão para tocar o animal e um alto-falante para dar comandos de voz.

Mas, se a necessidade é a mãe da invenção quem precisaria de tal invenção? “Uma pessoa idosa”, esclarece o texto da patente, “pode ser fisicamente incapaz de montar e manter o controle de um cavalo sozinha” ainda que prescise dele para fazer certas tarefas. E ainda “há aqueles que desejam domar e treinar os animais, mas que não podem fazê-lo por causa dos riscos envovidos em tais operações.” Aí sim!

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Peixes-siameses


A ilustração em anexo representa um par de peixes-gato (da espécie Silurus? L.) que foi encontrado vivo em uma rede de camarões na boca do rio Cape Fear, perto de Fort Johnson, Carolina do Norte, em agosto de 1833. Um deles tem três polegadas e meia [8,9 cm] e o outro, duas e meia [6,35 cm] de comprimento, incluindo a cauda. O menor tem uma aparência frágil e doentia. Eles estão ligados pela pele do peito, à maneira dos gêmeos siameses. Essa pele é marcada por uma escura raia na linha de união. Exceto por isso, a pele é igual à da barriga em cor e textura. A boca, as vísceras, &c. estavam perfeitas e intactas em cada peixe [...] Quando esses peixes ganharam vida, é provável que fossem quase do mesmo tamanho e força, mas um, o que “nasceu virado para a Lua” — ou o mais engenhoso — tornou-se o dominante, o que ampliou a disparidade. [Assim, o maior] pôde extender sua boca antes do outro, alcançando e capturando primeiro a melhor comida. Ainda que ele provavelmente odiasse seu companheiro e desejasse o desenlace, o maior acabou protegendo sua “metade mais frágil” e não poderia comê-lo sem engolir a si próprio. — American Journal of Science and Arts [Jornal Americano de Artes e Ciências], Julho de 1834

[Enigma] Yacht Point

Henrietta tem 17 anos e quer um iate, mas seus pais acham que ela é muito jovem. Como todas as pessoas rycas e phinas, sua família resolve suas desavenças jogando uma competição de tênis.

O desafio é simples: Henrietta deve jogar uma melhor-de-três com seus pais. Se ela ganhar dois jogos, poderá ter o seu iate. Só que a mãe dela joga melhor que o pai. E muito melhor que Henrietta também.

Assim, como ela deveria jogar? Ela deve escolher a série mãe-pai-mãe ou pai-mãe-pai?

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Na esquina do mundo

A caminho da Austrália, o capitão do navio canadense S.S. Warrimoo percebeu que teria uma oportunidade realmente única em sua viagem. À meia-noite do dia 30 de dezembro de 1899, ele parou o navio exatamente no ponto onde se encontram a Linha do Equador e a Linha Internacional da Data (ponto A no mapa abaixo).


Naquele breve momento, o navio estava ali na esquina do mundo, flutuando entre dois hemisférios, dias, meses, anos, estações e séculos diferentes — tudo ao mesmo tempo. Ao passear entre a proa e a popa, os passageiros poderiam trocar o inverno pelo verão, o Norte pelo Sul e o Século XIX pelo Século XX (ou vice-versa). 

Mas espere... Isso não deveria ter sido na noite de 31 de dezembro de 1899? Não, e por um pequeno detalhe: graças à sua posição, o Warrimoo simplesmente “pulou” o último dia do século XIX. Como bônus, todo mundo a bordo acabou a viagem praticamente um dia mais jovem.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Em uma palavra [60]

derracinar
v. arrancar ou puxar uma planta com a raiz. “O hortelão derracinava com raiva os legumes estragados pela geada.” [do latim disracine]

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O caso Belle Gunness

Em 1902, Belle Gunness, uma imigrante norueguesa de 42 anos comprou uma fazenda em LaPorte, Indiana, com os 8.500 dólares que recebeu do seguro após a morte de seu marido e dois de seus filhos. Não demorou muito e Mrs. Gunness casou-se novamente. Nove meses depois, seu segundo marido também morreu.
Belle Gunness e seus filhos. O olhar dessa senhora já revela tudo.
Durante os seis anos seguintes, diversos pretendentes — muitos deles prósperos —, visitaram a fazenda da viúva norueguesa e jamais voltaram. Se você é leitor de romances policiais, já deve ter sacado que a perda de dois maridos em questão de meses e diversos pretendentes ao longo dos anos não foram meras fatalidades ou acidentes.

domingo, 3 de julho de 2011

O homem do pudim de ameixas

Em 1805, o então futuro poeta romântico francês Émile Deschamps (1791-1871) recebeu um pudim de ameixas de um estranho, o Monsieur de Fontgibu.

Dez anos depois, Deschamps pediu um pudim de ameixas em um restaurante de Paris. Polidamente, o garçom lhe explicou que o último pudim já havia sido servido para outro freguês — ninguém menos que o M. de Fontgibu.

Dezessete anos mais tarde, em 1832, Deschamps novamente recebeu um pudim de ameixas de presente. Ele havia começado a contar aos seus amigos sobre estranhas coincidências que o prato lhe trazia quando, por engano, um homem entrou na sala onde estava... Sim, senhoras e senhores, era ele mesmo: M. de Fontgibu!

“Três vezes na minha vida eu comi pudim de ameixas e nas três vezes eu vi o M. de Fontgibu!”, exclamou Deschamps, irado (e esquecendo-se de que não comeu o segundo pudim). “Na quarta vez eu seria capaz de fazer qualquer coisa! ou de não fazer nada...”

Até hoje, ninguém sabe ao certo quem foi M. de Fontgibu. Mas a história já rendeu pelo menos um curta-metragem (rodado em inglês e holandês):

M. de Fontgibu & the plum pudding from Prosper de Roos on Vimeo.

sábado, 2 de julho de 2011

Patentes Patéticas (nº 14)

Você já deve ter ouvido falar em colchão de ar. Mas espere: e se você encher um colchão com hélio?


A má notícia é que William Calderwood já teve esse insight em 1989. A boa é que a ideia não é tão patética quanto parece à primeira vista. Se você encher seu colchão de ar com hélio, pode guardar sua cama no teto do quarto — e sem nenhum esforço, por que ela vai flutuar naturalmente. Isso, percebeu Calderwood, é excelente quando se tem um quarto pequeno ou se vive um uma quitinete. 

Quando você acorda de manhã, a cama simplesmente bóia até o teto e pode-se fazer o que for possível debaixo dela. À noite basta puxá-la por uma cordinha (item nº. 36, no desenho da patente) e deitar-se novamente. Mas o melhor de tudo é que você nunca mais vai precisar fazer a cama — pois ninguém vai vê-la desarrumada. A única precaução necessária é manter a janela fechada durante o dia. Afinal seria extremamente desagradável chegar em casa e perceber que sua cama saiu voando pela janela.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Fé e Obra

Não sabia que a Igreja Católica aceita o cumprimento de promessas “por procuração”...
Catarina de Médicis (rainha da França) fez um voto de que se algumas de suas preocupações terminassem bem-sucedidas, ela enviaria um peregrino a Jerusalém. Ele iria a pé até lá e, a cada três passos para frente, ele voltaria um passo para trás. Havia dúvidas se poderia ser encontrado um homem suficientemente forte para ir a pé e suficientemente paciente para retroceder um passo a cada três. Um cidadão de Verberie se apresentou e prometeu pagar o voto da rainha do modo mais escrupuloso possível. A rainha aceitou sua proposta e prometeu-lhe uma recompensa adequada. Diz-se que ele cumpriu sua promessa com grande exatidão e que a rainha foi constantemente informada por relatórios. — William Granger, The New Wonderful Museum, and Extraordinary Magazine [Revista do Novo Museu do Maravilhoso e Extraordinário], 1804

Católica de origem italiana, Catarina de Médicis (1519-1589) foi rainha consorte e regente da França em diversas ocasiões durante a Reforma e Contra-Reforma. Entre outras “preocupações”, ela foi responsável pelo Massacre da Noite de São Bartolomeu, em 24 de agosto de 1572. Para alegria do Vaticano, mais de 30 mil protestantes franceses foram mortos numa única noite. Afinal, “a fé sem obras é morta”.

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