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sábado, 30 de abril de 2011

Patentes Patéticas (nº 05)


Aloha! Quer surfar em terra firme, mas acha skate too mainstream? O “aparato gerador de ondas” patenteado por Rick Hilgert em 1995 é a solução dos seus problemas, brother

Uma centrífuga horizontal gigante — oito metros de diâmetro — cria “uma simulação contínua de onda do tipo oceânico que permitirá a prática de body-surfing, boogie-boarding e/ou surfboarding.” É issaí: tu literalmente entra num tubo perfeito a qualquer hora do dia e sem sair do quarto! (tubarões não inclusos)

Depois que tu enjoar do teu secret point — como aconteceu com aquela bicicleta ergonômica aí do lado —, sua mãe ainda pode usar o mesmo equipamento para ganhar uma grana lavando a roupa da vizinhança inteira... Não é um barato?

On-Board Empire

No início de setembro de 1924, no auge da Lei Seca norte-americana, houve rumores de que pessoas ricas estariam bebendo e se divertindo. Onde? Em um vapor de 17.000 toneladas ancorado a 15 milhas náuticas [27km] da costa de Nova York, literalmente fora dos limites da lei. “Uma orquestra de Jazz fornece a música para que milionários e melindrosas dancem em um piso encerado com o aroma da maresia em suas narinas”, escreveu Sanford Jarrell no New York Herald Tribune. Para escrever a matéria — sob a enorme manchete “New Yorkers Drink Sumptuously on 17,000-Ton Floating Cafe at Anchor Fifteen Miles off Fire Island” —, o repórter teria conseguido passar uma noite a bordo do misterioso navio.

"Eu vou acabar com esse jornalista filho-da-puta!" — Nucky Thompson, ao saber da notícia
Foi um verdadeiro furo. Outros jornais acreditaram na história, reproduziram-na e deram os devidos créditos a Jarrell e ao Herald Tribune. Tudo muito bom, tudo muito bem, mas a concorrência também foi buscar suas versões dos fatos. Agentes da Alfândega começaram suas investigações quando perceberam o súbito interesse dos nova-iorquinos pela Fire Island. Até o governo federal acreditou e a Marinha mandou um cúter da Guarda Costeira para caçar o suposto navio-cabaré. Surpreendentemente, ninguém conseguiu confirmar o caso. Todos ficaram a ver navios.

Inicialmente, o NYHT defendeu Jarrell contra os que duvidavam da história. Mas diante da falta de provas, o jornal acabou admitindo que a história não era verdadeira. O episódio começou com uma dica de uma fonte respeitável. Jarrell investigou a história e, como todo mundo depois dele, não encontrou nada que pudesse ser confirmado e publicado. Ele só publicou sua matéria sobre o “sin ship” como uma brincadeira, mas a história era tão boa que acabou ganhando vida própria. Apesar de convincente e extremamente provável, tudo não passava de uma farsa.

"Nada como mandar algumas garrafas de uísque para todas as redações"

Sabendo que isso bastava para acabar com a carreira de qualquer jornalista (ao menos em um país civilizado) e que seria punido, Sanford Jarrell escreveu uma carta ao editor do jornal um dia depois de o jornal admitir que estava errado. Na carta o jornalista, além de confessar seu crime, pedia demissão: “Em antecipação à pena natural pela minha contravenção, e reafirmando meu mais sincero arrependimento por todo esse caso, eu venho por meio desta pedir meu imediato desligamento como membro da equipe do Herald Tribune.”

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Sarah Bernhardt como Funérea


Sarah Bernhardt dorme em um caixão. Não, não é onde ela está agora. Ela fazia isso antes mesmo de morrer. “Eu acho bastante natural” — disse ela, conhecida pela protagonista de A Dama das Camélias — “dormir toda noite nessa pequena cama de seda branca que será meu último leito.” Quando uma irmã de Sarah morreu, houve um caso irônico de humor negro:

Quando os homens da funerária entraram no quarto para levar o corpo dela [da irmã], eles se depararam com dois caixões. Perplexo, o mestre de cerimônias chamou um segundo rabecão. Naquele momento, eu estava na casa de minha mãe, que havia desmaiado, mas consegui voltar a tempo de impedir que os homens de preto levassem meu caixão.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

4 anos em 4-D


Eu realmente não queria deixar passar em branco uma data tão quadrática. Quatro anos em 4-D não se repetem. No entanto, eu não tenho muito a dizer (não precisam fugir, eu não sou como o Fidel Castro quando uso essa frase). 

Sinto-me muito feliz por enfim poder saber não apenas que tenho leitores mas por poder conhecê-los. Apesar de já ter aparecido em grandes agregadores de conteúdo, como Ocioso e Uêba, não me importo muito com o número do leitores. O que me importa são os que ficam e acompanham ou os que, mesmo de passagem deixam algum comentário, qualquer que seja. No momento em que escrevo, a página do hypercubic no Facebook conta com 50 fãs e 4 me acompanham através do Google. Eu gostaria de dizer que vocês são muito importantes mesmo pra mim. São motivos para eu continuar aprofundando cada vez mais as dimensões deste espaço.

Ooops, parece que já estou me alongando... #fidelfeelings

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Gatuno de biblioteca


Entre agosto de 2000 e maio de 2002, mas de 1100 livros antigos sumiram do monastério de Mont Saint-Odile, na França. Não havia qualquer sinal de arrombamento na biblioteca. Os monges trocaram todas as fechaduras do mosteiro e reforçaram a vigilância. Mas os livros continuaram a desaparecer — o ladrão até mesmo deixara uma rosa no lugar de um deles. #umbertoecofeelings

Já que orações e vigílias não funcionaram, o mosteiro foi forçado a se converter à tecnologia e instalou uma câmera para pegar o gatuno. Dias depois, Stanislas Gosse, um professor de engenharia de Estrasburgo, foi pego no flagra ao entrar através de um armário na biblioteca durante a noite.

Após ser capturado e levado a uma delegacia, ele confessou que havia encontrado um mapa perdido nos arquivos públicos e através dele descobriu uma entrada secreta. O professor universitário subia pelos muros do mosteiro, entrava pelo sótão, descia por uma estreita escadaria e acionava um mecanismo para abrir o fundo falso do armário. Depois disso, ele “navegava” pela biblioteca à luz de uma vela.

“Eu temo que minha paixão inflamada tenha sobrepujado minha consciência”, justificou-se o professor Gosse. “Pode aparecer egoísmo, mas eu sentia que os livros haviam sido abandonados. Eles estavam cobertos de poeira e com fezes de pombos e me pareceu que ninguém mais os consultava.” Gosse foi condenado por furto qualificado e invasão de propriedade particular. Ele pagou a fiança e foi liberado, mas teve que prestar serviços comunitários ajudando a catalogar os livros da própria biblioteca de Sain-Odile.

Dado que os livros estavam num mosteiro, tal estado de abandono não surpreende. Não havia, portanto, qualquer intenção criminal. Stanislas Gosse agiu como um herói literário — e dos românticos: “Também havia a emoção da aventura — eu tinha medo de ser encontrado.”

terça-feira, 26 de abril de 2011

Em uma palavra [50]

Para comemorar o jubileu desta série e o aniversário deste blogue, uma edição especial dois-em-um:
cumático
adj. exatamente da cor do mar; azul-marinho; ondino. [do grego kumát, onda]
flucticolor
adj. da cor das ondas do mar. [do latim flucticolor, idem]

Nunca se arrisque a dizer que uma menina tem olhos cumáticos ou flucticolores. Por mais belos que sejam, aqueles olhinhos podem não te entender — a não ser que eles conheçam cultura clássica. Ou leiam isto aqui.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Peso do Nome: Einstein (parte 2)


Separado da mãe de seus filhos não apenas por um segundo casamento, mas pelo clima cada vez mais sinistro da Alemanha entre-guerras, Albert Einstein partiu definitivamente para os Estados Unidos em 1933. Antes, porém, ele teve que resolver sua vida na Alemanha — e, atendendo a pedidos de Mileva —, na Suíça. Após recolher tudo o que precisava para partir e proferir algumas palestras nas principais universidades européias, Einstein visitou o filho e a ex-mulher em Zurique. Mesmo que não tenha sido um bom pai, deve ter sido um momento difícil na vida do maior gênio do século XX.

Desafio Tipográfico

tipografoEsse problema é incrivelmente mais simples do que parece. Basta ter paciência para testá-lo empiricamente com o bom e velho Bloco de Notas:

domingo, 24 de abril de 2011

O Peso do Nome: Einstein (parte 1)

Eduard Einstein
Eduard Einstein, a.k.a. “Tede”
Nascido em 1910, Eduard Einstein era o filho caçula de Mileva Maric com o físico — e que físico! — Albert Einstein. Apelidado de “Tede” pela mãe, Eduard parecia ter um futuro brilhante e sempre se destacou na escola. Ele se dava bem com ambos os pais (seu irmão seis anos mais velho, Hans Albert, vivia às turras com o pai). Apesar disso, a vida da família Einstein nunca foi um mar de rosas.

Casados em 1903, Mileva sonhava em formar com Albert em casal de cientistas tão bem-sucedido quanto Marie e Pierre Currie, os descobridores da radioatividade. Pouco depois do casamento, eles tiveram uma filha Lieserl. Embora os biógrafos contem que a menina tenha morrido de febre escarlatina, não há certeza sobre seu destino, já que não há qualquer atestado de óbito. Há quem afirme que a Lieserl teria sido dada para adoção, mas essa é outra história.

sábado, 23 de abril de 2011

Dia do Livro: É proibido proibir

Para que esse dia (ou noite) não passe em branco:

Alguns dos autores listados no Index Librorum Prohibitorum da Igreja Católica: Galileu Galilei, Copérnico, Kepler, Montaigne, Descartes, Voltaire, Jean-Jacques Russeau, Sade, Victor Hugo, Dumas, Rebelais, Balzac, Zola, Anatole France, Jean-Paul Sartre, Laurence Sterne, Comte, Graham Greene, Maquiavel, Jonathan Swift, além da Encyclopedie e do Grand Dictionaire Universel Larousse

Entretanto, Karl Marx e Adolph Hitler jamais foram censurados pelo Vaticano.

Pegue o pombo! Pegue o Pombo!



Em 17 de agosto de 1921, um pombo-correio pousou aos pés de um policial no Columbus Circle em Nova York. Presa à sua pata, vinha a seguinte mensagem:

Notificar Dan Singer, no Belleclaire Hotel. Estou perdido nas Montanhas Hoodoo, Parque de Yellowstone. Mande socorro, provisões e mulas para transporte. HELLER. 8-13-21.

Ao chegar ao Belleclaire Hotel, o policial não tardou a encontrar Daniel J. Singer, um corretor de seguros. Singer reconheceu o pombo e identificou o tal HELLER como Edmund H. Heller, um naturalista veterano que, junto com Theodore Rooselvelt, o havia acompanhado em uma viagem à África em 1909. Heller havia viajado recentemente para Yellowstone a fim de reunir material para uma série de palestras que apresentaria.

A história parecia tão dramática quanto piscosa (de pescador). Se o pássaro partiu do Wyoming no dia 13, então ele voou 3.000 quilômetros em cinco dias, o que seria extraordinário. Quando os repórteres souberam do caso e contataram o superintendente do Parque de Yellowstone, ele declarou: “Edmund Heller está aqui. Mas não há qualquer fundamento na afirmação de que ele está ou estaria perdido.”

Aparentemente, alguém falsificou a assinatura de Heller na nota, montando uma farsa para atrair publicidade para as palestras do naturalista. Uma investigação foi aberta por um mal-humorado delegado do distrito, que não viu graça nenhuma no caso. Ninguém foi preso, porém. O New York Times também fez suas investigações, mas divulgou que “No Belleclaire fomos informados de que Singer estava fora da cidade, mas havia negado qualquer responsabilidade e insistia que alguma pessoa do hotel perpetrou o golpe.”

Patentes Patéticas (nº 04)

Eu acho que vi um gatilho... Eu vi! Eu vi um gatilho!
Pra quê usar uma ratoeira e desperdiçar umas iscas de queijo quando se tem um revólver sobrando em casa? Como era de se esperar, a ratoeira-revólver registrada em 1882 é invenção americana. James Williams precisava de um meio para exterminar pragas animais que desse um alarme após ser acionado. Assim, ele poderia aumentar a eficiência rearmando o sistema imediatamente. Nada poderia ser mais perfeito para isso do que uma arma de fogo. Bang!

Segundo o texto da patente, “esta invenção também pode ser usada em conexão com uma porta ou uma janela, de modo a matar qualquer pessoa ou coisa que abra a porta ou janela”. Pelo visto, ratos não eram as únicas pragas na casa de Mr. Williams.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Moderna Páscoa Judaica

Mudam-se os tempos, mas as sérias restrições alimentares do judaísmo continuam firmes e fortes:


Não ria se você for cristão — especialmente se for católico. Afinal você também não pode comer nem um Big Mac durante a quaresma. Ou não deveria.

Desafio Tipográfico

tipografo
Um tipógrafo [que coisa antiga!] compõe uma sentença em uma fonte monoespaçada. Após o ponto final, ele acrescenta um espaço e repete a mesma sentença vez após vez até encher uma página inteira com um longo parágrafo. A frase em questão é menor que uma linha e nenhuma palavra é hifenizada.

Prove que uma página composta dessa forma sempre vai ter uma coluna formada por espaços em branco.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Humilde Requisição de Dispensa Temporária

Se você acha difícil pedir uma folga ao chefe, lembre-se de que você poderia ter sido um indiano empregado de um inglês há pouco mais de um século. Aí sim seria difícil:

Ao Mais Excelso Sir,

É com a mais habitual expressão devota de meu sensível respeito que eu dirijo-me à clemência de Vossa Senhoria. Imbuído da mais profunda auto-depreciação e ainda esquecido de minha própria segurança presumo que estaria pedindo imperdoáveis doações se eu afirmasse que desejo um breve retiro de minhas obrigações. Trata-se apenas de uma noite de folga, pois estou sofrendo de três freimões. Com o honorável prazer de servir à sua elevada veneração, subscrevo-me,

— Jonabol Panjamjaub
(Citado por William Shepard Walsh em Handy-Book of Literary Curiosities [Manual de Curiosidades Literárias], 1892) 

Walsh ainda acrescenta o seguinte comentário: “Em adição ao regalamento auditivo provocado pelo estilo charmoso de sua comunicação, a visão é gratificada por uma tosca porém intensa ilustração dos três freimões [furúnculos].”

O que não deixa de ser uma ofensa sutil ao Sir. É como se depois de tudo aquilo o pobre indiano dissesse: “se não entendeu, eu desenho.”

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Antonio Magliabechi, o sabe-tudo

Antonio Magliabechi (1633-1714) era conhecido em sua Florença natal como um glutão litarário. Sua casa vivia atulhada com 40.000 livros e 10.000 manuscritos. Mesmo assim, ele não abria mão de uma visita diária à Biblioteca dos Medici, onde passava várias horas estudando. Até por que, era lá que ele trabalhava.

Magliabechi: certamente, o pintor
 não foi muito fiel nesse retrato. Aliás, o único.
Magliabechi era tão negligente que teria esquecido de sacar seu salário durante um ano inteiro. Ele achava que trocar de roupa antes de dormir era uma perda de tempo e muitas vezes vestia a mesma peça até ficar esfarrapado. Mas sua cabeça não era nada ruim. Au contraire, ela era “um index universal, tanto de títulos quanto de assuntos.” Quando o duque de Florença lhe procurou pedindo por um certo livro, ele respondeu: “Signore, há apenas um exemplar desse livro no mundo. Ele está na Biblioteca do Grão-Turco em Constantinopla; é o décimo-primeiro livro na segunda prateleira à direita de quem entra.” Dele, dizia-se que absorvia como uma esponja e memorizava como mármore.

Com uma memória tão fantástica, Magliabechi era praticamente um sistema de busca — o Google — de seu tempo. Em Curiosities of Human Nature [Curiosidades da Natureza Humana], Samuel Goodrich relata outro causo do grande bibliófilo florentino. Certa vez um padre procurou Magliabechi e lhe perguntou sobre um panegírico de um santo. “Ele era capaz de dizer imediatamente qualquer coisa sobre aquele santo, quem havia escrito sobre aquele santo, e em que partes de suas obras. Às vezes, eram centenas de autores [...] Tudo isso ele fazia com grande exatidão, nomeando cada autor, cada livro, as palavras e até mesmo o número da página na qual cada passagem citada se encontrava.”

Sempre cercado por livros, Antonio Magliabechi viveu até os 81 anos. Em seu testamento, legou sua fortuna aos pobres e pediu que seu acervo fosse transformado em uma biblioteca pública. A Magliabechiana é hoje conhecida como Biblioteca Nazionale Centrale Firenze.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Em uma palavra [49]

pogonotrofia
s.f. o crescimento da barba. pogonotrófico, adj. [do grego pogono = barba + trophé = nutrição]

O oposto é pogonostomia [pogono = barba + tomos = cortar, fatiar], isto é barbear-se.

Já que é pra inventar mesmo, eu sofro de pogonostomofobia, isto é, eu detesto fazer a barba.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Uma dívida no bolso e uma enguia na cabeça

Em dezembro de 1964, o fotógrafo francês Robert Le Serrec, sua esposa e um amigo australiano chamado Henk de Jong estavam passeando de barco na Baía Stonehaven, na Ilha de Hook em Queensland. De repente apareceu uma criatura enguiesca (adjetivo ad hoc), que passou pelo barco deles. Mergulhados na água (onde mais?), Le Serrec e de Jong haviam acabado de começar a filmagem submarina quando a coisa abriu a boca, assustando-os. O bicho tinha mais de 20 metros de comprimento.

Essa foi a história publicada por Le Serrec na edição de março de 1965 da revista Everyone. Mas isso não é tudo. A verdade é que Le Serrec não era um simples turista sortudo. Ele estava fugindo de seus credores franceses quando teve a brilhante ideia de fotografar um monstro marinho. As dívidas seriam pagas com o dinheiro das fotos vendidas para a imprensa. A ideia, porém, morreu na praia: o francês conseguiu publicar as fotos, mas não recebeu nada depois que seus verdadeiros planos foram descobertos.

domingo, 17 de abril de 2011

50 Anos-Lesma

yuriearth_iss_900
A ausência do homem no espaço é sinal de que desperdiçamos uma chance enorme de evoluir. Garantir a autodestruição é sempre mais fácil, seguro e barato do que adaptar-se aos novos tempos.
Há meio século, Yuri Gagarin foi o primeiro a chegar aonde nenhum homem jamais estivera — o Espaço Sideral. Parecia ser o início de uma nova era, há muito imaginada pelos autores de ficção científica. Essa seria a nova Era das Grandes Navegações, que agora se desenrolariam no vasto profundo Oceano Cósmico. Mas ao contrário do louvor camoniano, “se mais espaço houvera, lá não chegara.”

Pois cinquenta anos depois do primeiro homem no espaço, colônias de férias na Lua, cidades em Marte e mineradores no Cinturão de Asteróides ainda são fantasias distantes da realidade. Viagens espaciais são hoje algo tão excepcional que ainda nos lembramos do nome do primeiro viajante (compare com as viagens de trem, por exemplo. Alguém ainda se lembra do primeiro passageiro?)

sábado, 16 de abril de 2011

Patentes Patéticas (nº 03)

Continuando com nossa série de loucuras patenteadas, que tal facilitar a vida de quem tem um pneu furado? 

Pneus Fatiados

Em vez de brigar com uma roda inteira, tudo o que você vai precisar fazer é mover o carro alguns centímetros, até que a seção murcha esteja por cima. Aí, você poderá fazer uma troca de pneu com apenas um pedaço novo — teoricamente. Mas e quanto a toda a fricção entre as “fatias da torta”? — Modern Mechanix, Janeiro de 1929

A ideia, em si, não chega a ser totalmente absurda. Pelo contrário, ela parece ser a solução para dois clássicos problemas automobilísticos: a complicada troca de pneus e o espaço roubado pelo estepe. Seria realmente prático se pudéssemos trocar apenas a parte furada. Mas se não é assim tão difícil perder uma roda inteira, quem garante que todos os pedaços (que, pelo visto são presos por parafusos) não vão sair pelo caminho?

Grande parte do problema já foi resolvido — e sem fatias! Hoje nós temos não apenas pneus sem câmara de ar (que murcham menos) mas também pneus que não furam (ou que resistem por mais algumas dezenas de quilômetros, o suficiente para se alcançar uma borracharia).

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O primeiro fumante

O hábito de fumar tabaco nem sempre existiu — na verdade, nem é tão antigo: data do século XVI —, então é possível saber quem foi o primeiro fumante.

O tabaco foi levado à Europa em 1518 (ou 1523) pelos espanhóis que o descobriram na América. Por volta de 1559, o embaixador da França em Portugal, Jean Nicot (donde nicotina), enviou as primeiras amostras do que considerava uma planta medicinal para Paris. De lá, o fumo se espalhou pelo continente, mas era mascado ou moído e cheirado (rapé). Copiando os índios norte-americanos, Sir Walter Raleigh foi o primeiro a fumar tabaco em um cachimbo. Evidentemente, ele não foi muito compreendido:


O tabaco foi introduzido na Inglaterra por Sir Walter Raleigh. Por cuidado, ele manteve às escondidas o hábito de fumar, pois não pretendia ser copiado. Mas certo dia, durante profunda meditação e com um cachimbo na boca, ele chamou seu empregado, pedindo-lhe uma pequena caneca de cerveja. O servo, ao entrar em seu quarto, jogou toda a bebida na face de seu mestre e saiu correndo pelas escadas, gritando: “Fogo! Socorro! Sir Walter estudou até incediar sua cabeça! Ele solta fumaça pela boca e pelo nariz!”

— William Keddie [editor], Cyclopaedia of Literary and Scientific Anecdote, 1854

Em tempo: por incrível que pareça, o fumo chegou ao Japão antes de alcançar a França. Marinheiros portugueses levaram a planta para a terra do sol nascente em 1542.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Silogismos de Carroll


Os silogismos a seguir são parte de um livro-texto de Lewis Carroll sobre lógica. Como Carroll era um cara à frente de seu tempo, eles mais se parecem com peças de arte surrealista do que exemplos sérios de lógica.

1. Bebês são ilógicos;
2. Quem é desprezado não pode controlar um crocodilo;
3. Pessoas ilógicas são desprezadas.
Portanto, Bebês não podem controlar crocodilos.

Na verdade, o que Carroll queria mesmo era demonstrar o ponto fraco da lógica aristotélica: dadas quaisquer premissas, a conclusão será igualmente aleatória.

1. Nenhum poema interessante é impopular entre pessoas de bom-gosto;
2. Nenhuma poesia moderna é livre de afetações;
3. Todos os seus poemas são sobre bolhas de sabão;
4. Nenhuma poesia afetada é popular entre pessoas de bom-gosto;
5. Apenas um poema moderno poderia tratar de bolhas de sabão.
Portanto, todos os seus poemas são desinteressantes.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Não se esqueça da escova de dentes!

Violet_jessopPara a enfermeira irlandesa-argentina Violet Jessop, o azar foi triplo. Aparentemente, a moça atraía navios para seu local de trabalho. O problema é que ela sempre trabalhou em navios.

Em 1911, ela estava trabalhando no RMS Olympic quando ele colidiu com um navio de guerra britânico perto da Ilha Wight.

Alguns meses mais tarde, ela passou a atuar no navio-irmão do Olympic. Esse navio era o Titanic, que afundou após chocar-se contra um iceberg em 1912. Violet Jessop sobreviveu e foi resgatada pelo Carpathia.

É claro que o Carpathia não afundou após resgatá-la. Mas quatro anos mais tarde ela era enfermeira no navio-hospital Britannic. Ele afundou após atingir uma mina submarina no Mar Egeu. A essa altura, Miss Jessop já estava mais do que precavida. Embora o Britannic tenha afundado em menos de 50 minutos, ela conseguiu resgatar a sua própria escova de dente. Porque ela fez isso?

“Por que sempre houve muita diversão às minhas custas após o Titanic, quando eu reclamei de minha inabilidade de conseguir uma escova de dentes no Carpathia. Eu lembrei do conselho humorístico de meu irmão: ‘Nunca saia para outro desastre sem levar sua escova de dentes.’”

Depois disso, a má sorte de Miss Jessop parece ter se esgotado. Ela viveu sem qualquer incidente por mais 55 anos e morreu de parada cardíaca em 1971.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Kepler vs. Galileu

Em 1610, Galileu mirou sua luneta em Saturno e pensou ter descoberto algo diferente em volta daquele planeta. Então, ele compôs a seguinte mensagem em latim:

ALTISSIMUM PLANETAM TERGEMINUM OBSERVAVI [Eu observei que o mais distante planeta tem uma forma tripla].

e, antes de enviá-la para Kepler, criptografou-a da seguinte maneira:

SMAISMRMILMEPOETALEUMIBUNENUGTTAUIRAS

Incrivelmente, Kepler interpretou a cifra como uma descoberta não sobre Saturno, mas sobre Marte:

SALVE UMBISTENEUM GEMINATUM MARTIA PROLES [Salve os companheiros gêmeos, filhos de Marte]

O astrônomo alemão havia predito que o Planeta Vermelho teria duas luas, e pensou que Galileu lhe escrevera confirmando sua teoria.

Ironicamente, a interpretação errônea de Kepler revelou-se a mais correta. Marte tem mesmo duas luas: Phobos e Deimos. 

A “tripla forma” referida por Galileu nada mais era do que os aneis saturnianos, que não poderiam ser bem identificados em seu telescópio de baixa resolução.

Em uma palavra [48]

hebefrenia
s.f. Psico. conjunto de transtornos mentais que surgem pouco depois da puberdade, caracterizados por depressão, ilusões, alucinações, perda gradual das faculdades mentais, etc. [do grego hebe = mocidade + phrén = inteligência + -ia]
Reparem no primeiro radical grego. Isso explica por que a primeira loira da TV tem vida eterna.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A anatomia de um tuíte

Se você pensa que um tuíte tem só 140 caracteres, é melhor tirar o passarinho azul da chuva:
Clique para ampliar esse arco-íris de códigos (ui!)

Presente Aberto



E então, como é possível mandar um colar de presente através do correio se nem você nem seu amor têm a chave da caixa?

domingo, 10 de abril de 2011

Patentes Patéticas (nº. 02)

musiquinha

Muito se fala sobre o controle de natalidade, mas pouco tem sido feito. Talvez tenha sido pensando nisso que Paul Lyons apresentou a camisinha musical em 1991. No texto da patente, Lyons afirma que ela é divertida, incomum e “capaz de produzir um efeito surpreendente”. Quanto à parte musical:
A música ou mensagem de voz pode ser tocada apenas uma vez (por exemplo, a abertura de uma melodia pode ser executada por cerca de 20 segundos) ou pode ser repetida continuamente por vários minutos para coincidir com a duração do coito.
O que tocar em um momento tão íntimo? O próprio inventor recomenda um repertório clássico: Abertura de 1812, “Ode à Alegria” da Nona Sinfonia de Beethoven, “The Aniversary Waltz” e até mesmo “Happy Birthday to You”.

Vinte anos depois, os dispositivos de memória cresceram tanto em armazenamento quanto diminuíram em tamanho. Qual seria o seu repertório?

Uma coincidência “estranha demais para se acreditar”

Sendo o mundo um lugar tão vasto e tão cheio de gente diferente, deve ser um tanto assustador encontrar alguém em uma situação tão dramática e idêntica quanto um ponto decisivo de sua vida. Foi o que aconteceu com Augustus Hare:

No aniversário de minha adoção, todos fomos até Mannheim. Jantamos no mesmo hotel onde, dezessete anos antes eu, aos 14 meses de idade, fui entregue à minha tia. Ela também era minha madrinha, e eu iria viver com ela para sempre, como se fosse seu próprio filho. Nunca mais vi meus pais. Eu insisto nisso por que uma das mais estranhas coincidências da minha vida — quase estranha demais para se acreditar — aconteceu nesse dia em Mannheim.
Ao anoitecer, quando chegamos à estação, esperamos por bastante tempo até o trem chegar. Na plataforma havia uma pobre mulher, chorando amargamente, com uma criança pequena em seus braços. Emmie Penrhyn, que era moça de bom coração, foi até lá e perguntou se a mulher estava em grande problema. “Sim”, disse a mulher. “É sobre minha pequena criança. Meu pequeno filho, que só tem 14 meses, está indo embora de mim para sempre no trem que vai chegar. Ele vai ser adotado por sua tia, que também é madrinha dele. E eu nunca, nunca mais irei vê-lo novamente.” Era uma adoção sob as mesmíssimas circunstâncias daquela que nos levara de volta a Mannheim após dezessete anos! — Agustus Hare, The Story of My Life, vol. I, pp. 303-304, 1896

Augustus John Cuthbert Hare (1834-1903) foi um escritor e folclorista inglês. Nascido em Roma, ele realmente foi adotado por uma tia que o levou para Oxford, Inglaterra. Sua autobiografia é monumental: são seis volumes publicados entre 1896 e 1900 e cada um tem mais de 400 páginas!

sábado, 9 de abril de 2011

O dinheiro fala

1 tahler de 1814
Se você for um rei que acaba de conquistar um novo território, pense duas vezes antes de lançar uma nova moeda comemorativa.  O povo recém-conquistado pode até aceitar seu dinheiro, mas isso não significa que sua imagem vá melhorar:
Durante a Paz Geral de 1814, quando a Prússia absorveu uma parte da Saxônia, o rei [da Prússia, Frederico Guilherme III] cunhou uma nova moeda de nome EIN REICHSTAHLER [Um Tahler-do-Reino]. Os saxões, dividindo a segunda palavra obtiveram EIN REICH STAHLER, que significa “Ele roubou um reino!” — William T. Dobson, Poetical Ingenuities and Eccentricities [Engenhosidades e Excentricidades Poéticas], 1882 
Em tempo: pouca gente sabe, mas o Dólar norte-americano foi inspirado no Tahler alemão, mais precisamente no prussiano, que era de prata. Quando a Alemanha foi unificada pela primeira vez, ficou convencionado que 1 Tahler valeria 3 Marcos. O último Tahler foi cunhado em 1872, mas foi válido até 1908. Mesmo assim, o termo Tahler continuou sendo usado como sinônimo de “três Marcos” por mais duas décadas — mais ou menos como o nosso antigo mil-réis (ou mil pratas).

"Tá na mesa, pessoal!!"

Lord [Francis Henry] Egerton [1756-1829] é um homem de poucos amigos e desses, poucos foram os que chegaram a entrar em sua sala de jantar. Entretanto, sua mesa está sempre posta com uma dúzia de pratos. Quem, então, são seus privilegiados convivas? Nada menos que uma dúzia de seus cães favoritos, que, sentados gravemente em suas cadeiras, cada um com um gurdanapo à volta do pescoço, tomam parte diariamente do jantar do lorde, com um servo pronto a atender as vontades do senhor.
— John Timbs, English Eccentrics and Eccentricities [Excêntricos e Excentricidades Ingleses], 1875
Eu juro que lembrei da TV Colosso quando encontrei isso... #anos90

sexta-feira, 8 de abril de 2011

[Enigma] Presente Trancado


Você quer (ou precisa) mandar um colar de presente para sua esposa/namorada/ficante pelo correio. Mas você sabe que qualquer coisa enviada pelo correio pode ser roubada, a não ser que esteja em uma caixa com cadeado. A caixa que você precisa pode ter qualquer número de cadeados, mas nem você nem sua companheira têm a mesmo chave. 

Como você pode mandar seu presente de forma segura através do correio?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Um Paradoxo-trollagem: o Quadro-negro de Smullyan

Todo paradoxo não deixa de ser uma trollagem lógica. Mas este é simplesmente sensacional por que pode ser feito na prática. O matemático, pianista, lógico e filósofo norte-americano Raymond Smullyan propõe uma cena na qual dois homens debatem uma proposição diante de um quadro-negro. Na lousa está escrita a seguinte frase:

terça-feira, 5 de abril de 2011

Em uma palavra [47]

Imparlibidinidade
s. f. estado no qual a libido de duas pessoas se desencontra. Imparlibidinoso, adj. [formados a partir do latim impar, desequilibrado, ímpar e de libido, desejo, anseio]

Em outras palavras, é a tradicional “dor-de-cabeça”...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Fono-Gato

Não é de hoje que gatos são geeks. Muito antes dos computadores aparecerem, os bichanos já dormiam em gadgets que, na época, eram sofisticados.


Esse gato gosta mesmo é de um gramofone. Ele adora entrar na trompa para dormir e não sai nem mesmo quando um disco é posto para tocar! — Strand, Agosto de 1906

domingo, 3 de abril de 2011

Kamikases tropicais


Em fevereiro de 1945, o 14º. Exército Britânico havia cercado um exército japonês perto de um mangue na Ilha de Ramree, no sul da Birmânia. No pântano havia milhares de crocodilos-de-água-salgada, cada um com mais de 4,5 m de comprimento. Então, na noite do dia 19, entre render-se ou lançar-se ao pântano infestado de crocodilos, os japoneses escolheram escolheram a última opção:

Foi a noite mais terrível que qualquer membro da tropa [de fuzileiros navais] jamais experimentou. Os sons de tiros de rifle no breu do pântano, que eram pontuados pelos gritos de homens feridos e esmagados pelas mandíbulas dos grandes répteis, e o horrível ruído dos crocodilos agonizantes formavam uma cacofonia infernal, que raramente se repetiria na Terra. Ao amanhecer, os urubus chegaram para limpar o que os crocodilos deixaram. [...] Dos cerca de 1.000 soldados japoneses que entraram nos pântanos de Ramree, apenas uns 20 foram encontrados vivos.

Esse é o relato do naturalista Bruce Wright. Se ele for verdadeiro, o massacre dos japoneses teria sido o pior ataque de crocodilos da História — quiçá o mais mortífero ataque de animais selvagens já registrado.  

sábado, 2 de abril de 2011

Patentes Patéticas (nº 01)

Uma das características mais importantes no registro de uma patente é o critério de originalidade. Infelizmente, esse requisito parece ter mais peso que o critério de praticidade. O resultado? Milhões de patentes estapafúrdias, que te obrigam a pagar royalties mesmo por uma ideia mesmo que ela seja completamente idiota. Tipo isso:

Para-quedas Anti-incêndio
Fé, esperança, caridade [sic] e uma mandíbula reforçada paracem ser os pré-requisitos para o camarada que tentar usar o extraordinário para-quedas mostrado abaixo [acima]. A ideia é que o aparelho seja preso pela cabeça quando alguém vai dormir — de modo que em caso de incêndio noturno no edifício, o usuário possa pular por uma janela do décimo andar e cair tão suavemente quanto gotas de orvalho pela manhã. Um par de pantufas com grossas solas de borracha deve ser usado para amortecer o choque da aterrissagem. — Modern Mechanix, Julho de 1929

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Moedas Infográficas

Mesmo com tamanhos (e até cores) diferentes, as moedas continuam sendo uma das formas mais inconvenientes de ter dinheiro. Elas são fáceis de perder e, em muitos casos, difíceis de juntar.

Mas o designer japonês Mac Funamizu parece teve uma ideia no mínimo interessante para facilitar a vida de quem lida com moedas. Em lugar de variações no tamanho, no material, na textura ou na cor, ele propõe o uso de moedas com formas diferentes. Mas não são formas aleatórias: o formato teria relação com o valor de cada moeda.

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