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segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Jornalismo FAIL!

Numa recente edição do Balanço Geral capixaba tudo ia muito bem na matéria – um tanto sensacionalista e talvez tendenciosa –sobre a apreensão de usuários de drogas numa festa rave… Mas a partir do momento 1:36 do vídeo, o apresentador resolveu se exibir da pior forma possível , jogou a credibilidade pro alto e deu nisso:

Se esse cara tem diploma, só pode ser comprado!

sábado, 29 de agosto de 2009

Fica a Dica (2) - Revolução Suína

Cansados da exploração humana, os animais da Granja Solar, na Inglaterra, resolvem se rebelar. Mas a revolução dos bichos, como todas as grandes revoluções históricas, não é um movimento libertário. Os bichos explorados, tal como os humanos explorados, são usados como massa de manobra por um grupo ambicioso e com sede de poder.

No caso da Granja Solar, esse grupo é formado pelos porcos. E uma vez no poder, os porcos deixam de ser revolucionários, e “endireitam-se”:  fazem de tudo para calar opositores e vivem fazendo um constante revisionismo histórico para justificar os privilégios que se acumulam – mas apenas para a nova classe dirigente. Ao fim e ao cabo, fica quase impossível distinguir os ex-revolucionários dos humanos, os  velhos donos do poder. Este é o pano de fundo d’A Revolução dos Bichos (Animal Farm no original em inglês; eis um dos poucos casos em que o título traduzido é melhor que o original), obra-prima do escritor indo-britânico Eric Arthur Blair (1903-1950), mundialmente conhecido sob o pseudônimo George Orwell.

GeoreOrwell George Orwell é pseudônimo de Eric Arthur Blair (1903-1950)

Orwell nunca escondeu o fato de que a revolução retratada na obra era uma sátira à Revolução Russa (1917-1921) e ao regime soviético que se seguiu, especialmente ao período stalinista (1924-1953). A Revolução dos Bichos foi escrita entre 1937 e 1943 – muito antes de se falar em ecologia ou direito dos animais, como muitos pensam sobre este livro.

Foi, portanto, durante um período bastante conturbado numa Europa cercada por duas grandes guerras sangrentas e motivadas por razões ideológicas: a Guerra Civil Espanhola (1936-1939) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

OS DOIS LADOS DA HISTÓRIA

O escritor indo-britânico participou dos dois conflitos, mas de formas distintas – diametralmente opostas, para falar a verdade. Durante o conflito espanhol, ele lutou como voluntário ao lado dos trotskistas e foi perseguido com apoio dos grupos esquerdistas espanhóis orientados pelos soviéticos. Quase acabou preso e assassinado. Evidentemente, ele perdeu a ilusão soviética.

Na mesma época (1936-1937), Josef Stálin promovia os grandes expurgos na URSS e seus principais opositores, liderados por Leon Trotsky, fundador do poderoso Exército Vermelho, foram duramente perseguidos, torturados, exilados e executados. Tudo em nome da segurança da revolução.

Apesar de tudo –  e por causa da Grande Depressão que se abateu sobre o mundo capitalista ocidental a partir de 1929 –, a imagem externa da União Soviética era a melhor possível. Evidentemente pouco se falava – se é que se podia falar – sobre a tirania autocrática reinante em Moscou.

Stálin era, de fato, um czar vermelho e agia à moda dos últimos imperadores da dinastia Romanov que ele mesmo ajudara a derrubar em 1917. A manutenção da segurança da revolução era, enfim, a manutenção do novo status quo da burocracia soviética que substituíra a aristocracia russa.

Já na Segunda Guerra Mundial, George Orwell vive o conflito do ponto de vista de um cidadão britânico comum, numa Inglaterra que, ameaçada pelos ataques aéreos e as bombas-voadoras da Alemanha Nazista, forma uma aliança política e ideologicamente inusitada com a União Soviética de Stálin.

Orwell nota, então, um fenômeno contraditório: embora a liberdade de imprensa tenha sido mantida pelo governo de Londres durante todo o conflito, era praticamente impossível lançar na imprensa críticas à realidade economicamente miserável da URSS e do governo ditatorial de Stálin.

Churchill e o governo inglês, porém, poderiam ser aberta e até duramente criticados, mesmo que isso colocasse em risco a segurança nacional do Reino Unido. E o motivo para tal é muito simples: o medo de perder um aliado de peso como a União Soviética era forte demais.

Tão forte que  fica muito fácil ver que a Inglaterra, outrora toda-poderosa senhora do mundo, curvava-se diante do poder militar do país dos sovietes. Mesmo sendo esquerdista, isso era inaceitável para Orwell, que, afinal, apoiara o imperialismo inglês durante a juventude trabalhando para o exército na distante Birmânia.

UMA FÁBULA ATUAL

Diante de tudo isso, e após conhecer a realidade por trás da cortina de ferro através dos relatos da oposição trotskista, Orwell se sentiu impelido a contar a verdadeira história da Revolução Russa através de uma fábula de simples entendimento e fácil de traduzir para várias línguas. Começava a nascer A Revolução dos Bichos.

Como toda fábula, nela os animais, dotados de fala e inteligência, representam personagens humanos. No caso d’A Revolução dos Bichos, isso é claramente visível para o leitor dotado de conhecimentos históricos. A ideologia do Animalismo é o equivalente animal do Socialismo e é lançada muito antes da Revolução pelo velho e moribundo porco Major, representante de Karl Marx.

A revolução que derruba o Sr. Jones, czar dono da Granja Solar, é liderada por outros dois porcos, Bola-de-Neve (um Trotsky de quatro patas) e Napoleão (um Stálin suíno e não aquele porquinho simpático dos filmes da sessão da tarde). O simplório, porém forte, cavalo Sansão e sua companheira Quitéria atuam como os camponeses russos e são sempre facilmente ludibriado pelos porcos, como Garganta (um líder socialista animalista puxa-saco de Stálin, ops, Napoleão). Sansão é muito trabalhador – seu lema: “Trabalharei ainda mais” – e é admirado por toda a Granja dos Bichos (a Granja Solar muda de nome, tal qual o Império Russo, que  passa a ser chamado de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).

napoleãoporcoCartaz do Camarada Líder Napoleão 

O lema fundamental da Granja dos Bichos é “Quatro pernas bom, duas pernas ruim”, repetido incessantemente e em todas as situações pelas ovelhas doutrinadas (operariado propagandista). As aves tem um papel à parte nesta fábula. Moisés, o corvo domesticado do Sr. Jones, é uma espécie de líder religioso, que vive pregando um mundo melhor e uma vida após a morte na mágica Montanha de Açúcar-Cande (paraíso judaico-cristão). Ele foge após a revolução.

bichosPombo doutrinado 

Os pombos também são doutrinados pelos porcos e atuam como agentes e diplomatas do animalismo nas granjas vizinhas. Apesar de todos os esforços, eles jamais conseguem replicar a revolução dos bichos e subverter a ordem das outras fazendas.

As galinhas vivem descontentes após a revolução e são os primeiros animais a se rebelar e a esboçar uma oposição. Como recompensa, são executadas ou condenadas aos trabalhos forçados (qualquer semelhança com os prisioneiros dos gulags siberianos não é mera coincidência). O Exército Vermelho e a temida KGB são magistralmente representados por um bando de cachorros ferozes, criado em segredo pelos porcos (sovietes). O resto é história…

UM LIVRO CENSURADO ATÉ NO “MUNDO LIVRE”

Dado o seu tom de crítica aberta e franca à União Soviética, então aliada da Inglaterra e dos Estados Unidos na Segunda Guerra, A Revolução dos Bichos foi recusada por quatro editores, tanto americanos quanto britânicos, entre 1943 e 1945. As justificativas eram as mais estapafúrdias.

Um editor americano chegou a afirmar que não haveria mercado nos EUA para uma história estrelada por animais – isso em plena terra de Mickey Mouse e sua turma. Outro editor, inglês, considerou a obra “inoportuna” e achou que retratar as classes dirigentes como porcos seria potencialmente ofensivo aos então aliados soviéticos.

Mal a Guerra – e a aliança – acabou, A Revolução dos Bichos foi prontamente publicada em 1945 e tornou-se um verdadeiro instrumento ideológico nas mãos do mesmo “mundo livre” que se recusara a publicá-lo apenas alguns anos – ou mesmo meses – antes. Os ingleses financiaram a edição de várias traduções clandestinas para a Europa Oriental – obviamente o livro foi proscrito por Moscou e jamais pôde ir além da Cortina de Ferro. Em 1947, o próprio Orwell foi convidado a escrever um prefácio especial para a edição ucraniana.

Até hoje,  A Revolução dos Bichos continua proibido em todos os países que passaram por processos revolucionários, sejam eles de esquerda ou de direita: a China, a Coréia do Norte e Cuba comunistas; o Irã dos aiatolás e boa parte do mundo árabe conservador; o miserável Zimbábue, feudo africano de Robert Mugabe (a maior inflação do mundo) .

Pois o que se aprende com o livro é que todas as revoluções se degeneram – muitas vezes rapidamente – num processo contra-revolucionário que não admite qualquer oposição e acaba por criar e justificar novos privilégios para os novos líderes. As revoluções, portanto, não existem; são uma ilusão criada pelos ditos revolucionários. Eis por que eles, os “revolucionários” desprezam tanto a imprensa livre e a democracia –  e, assim, as revoluções nunca serão televisionadas. Afinal, como se afirma no livro,

“todos os bichos são iguais [têm os mesmos direitos], mas alguns bichos [os que detém o poder] são mais iguais [têm mais direitos] que os outros”.

revolucao

BIBLIOGRAFIA:

ORWELL, George. A Revolução dos Bichos: um conto de fadas. Tradução de Heitor Aquino Ferreira; posfácio de Christopher Hitchens. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. 147 páginas.

(edição eletrônica)

SUGESTÃO DE TRILHA SONORA:

Incubus - “Talk Shows on Mute”

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O Grande Reino do Petabyte e o Twitter

Clique para ampliar: o que é  quanto é  um petabyte?

Como se vê, espaço é o que não vai faltar, mas tem gente que prefere usar só 140 caracteres (minúsculos 20 KB). Perdoem-me os twitteiros, mas isso, pra mim, é de um pão-durismo mesquinho. Além, é claro, de ser sinal de preguiça de ler e escrever.

Para os twitteiros, vou tentar dar uma idéia de quanto é 1 Terabyte em termos de tuitadas.

Quem quiser, pode acompanhar as contas com uma calculadora simples. Como cada mensagem de 140 caracteres tem 20 KB, umas 50 tuitadas ainda somariam apenas 1 Megabyte (MB) – caberiam num disquete. Para acumular 1 Giga de mensagens no twitter, seriam necessários 50 000 tweets. Multiplique isso por 1000 – 50 000 000 – e ainda dá apenas1 Terabyte. Estima-se que a quantidade de informação processada pelo cérebro de uma pessoa que morre após 80 anos de vida é da ordem de 80 Terabytes. Ou 4 bilhões de tuitadas.  Para alcançar um Petabyte, seria necessário tuitar…. 50 000 000 000 (50 BILHÕES) de vezes. É humanamente impossível tuitar tanto – a não ser que você tenha vida eterna.

Supondo uma média de 4 tuitadas por dia (podem ser mais, dependendo do vício), seriam necessários 12,5 bilhões de dias para acumular tamanha quantidade de informação. Isso equivale a pouco menos de 34,25 milhões anos. Só para se ter uma idéia, os mais antigos ancestrais dos seres humanos apareceram há uns 6 milhões de anos.

Assim, a estimativa de armazenar toda a história escrita da humanidade –  acumulada em meros 6.000 anos de trabalho – em “apenas” 50 Terabytes não parece tão absurda. Mas para armazenar todos os conhecimentos humanos, deveríamos considerar também todas as pinturas, todas as músicas, todas as fotografias, todos os filmes e todas as animações feitas em todas as culturas de todas as épocas. E, se não nos autodestruirmos em breve, numa guerra nuclear, numa catástrofe climática ou num desastroso choque com um asteróide de grandes proporções, ainda teremos centenas de milhões (bilhões?) de anos pela frente para criar e produzir. Qual será o tamanho da herança cultural humana? Impossível estimar, mas o cofre, possivelmente, parecerá pequeno.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

PT: Perda Total

Por que o Partido dos Trabalhadores, um dos pioneiros da redemocratização e outrora o partido da ética política, foi transformado num feudo lulista que envergonha até seus próprios parlamentares?

(a) pelas desconhecidas tendências autoritárias do ex-líder sindical;

(b) pelas más companhias que ele (re)encontrou após subir a rampa do Planalto: Fernando “Parlapatão” Collor, José “Bigodão” Sarney (e família Ltda..) e Renan Calheiros, o encalhado no lamaçal;

(c) pela expulsão e/ou demissão das figuras mais fiéis aos valores da ética política que sempre guiaram o partido;

(d) todas as anteriores.

Quem respondeu a alternativa…

(d) está correto e atento à realidade política atual. Se o PT é um partido tão importante e popular, por que precisaria cortejar o apoio de um PMDB apodrecido a ponto de abrigar até o Sarney, que vivia batendo continência para os militares? O PMDB pode ser o maior partido do país em número de filiados (que se mantém por inércia política) e de cargos (puro oportunismo), mas quantidade nunca foi sinônimo de qualidade.

Há muito que o PMDB deixou de ser o “Partidão” íntegro de oposição aos milicos para se converter num refúgio das oligarquias que ficaram órfãs com a queda da “Redentora”: Quércia em São Paulo, Sarney no Maranhão... E o Lula acha isso muito bonito, muito natural. Claro, é muito natural que o maior partido do Brasil tenha virado a casaca e tenha se vendido em troca de cargos e mais cargos em todos os escalões possíveis e imagináveis. Os infindáveis parentes  e aderentes do “Bigodão” que o digam!

sujô-çarnei

O presidente-molusco está fazendo de tudo para peemebedizar o PT. E, com o apoio daquelas más companhias, daquelas velhas raposas nordestinas, que perdem a dignidade mas não largam o osso, ele está conseguindo. Já no começo de seu governo a chamada “ala radical”, capitaneada por Heloísa Helena foi sumariamente expurgada à la Trotsky e teve que se exilar num partido próprio, o PSOL.

Não demorou muito e Marina Silva, uma das poucas pessoas respeitáveis dentro do atual governo, também foi expulsa do Ministério do Meio-Ambiente. Ela não concorda com esse crescimento econômico movido por um impiedoso desmatamento que avança sobre a Amazônia financiado pelas motosserras dos grandes produtores de gado e soja. Até gente do MST começa a chamar Lula de traidor. Aí, para mostrar serviço, a Dilma teve a brilhante ideia do PAC (por que o Lula não sabe pensar), mas ninguém se lembrou dos impactos ambientais da aceleração de tantas obras pelo país (parece que a Dilma também não sabe pensar tão bem).

piruk

Dilminha ficou irritada com os atrasos na liberação ambiental de suas obras, e, temendo ser prejudicada numa corrida presidencial que ainda nem começou, pediu pra Marina sair. Como a acreana é fiel aos seus princípios e não ao cargo – ao contrário de todos os outros petistas – ela se demitiu e voltou ao Senado. Finalmente, ela acaba de sair corajosamente do PT e agora tem boas chances de ser a primeira presidenciável – pelo PV de Gabeira.

O que era pra ser uma eleição meramente plebiscitária, polarizada, numa democracia bem ao gosto dos militares do passado, acabou se tornando uma eleição viva e florescente. Graças aos “aloprados” do governo.  Até mesmo o Ciro Gomes, que levou a sogra pra passear na Europa, ressuscitou e está empatado com Dilma.

Aliás, é muito estranho que mesmo quando tinha uma Marina Silva no seu partido e no seu governo, Lula tenha escolhido uma figura tão controversa e sem-graça quanto a Dilma para tentar sucedê-lo. Ela tem curso superior – aparentemente falsificado, sabe-se agora –, coisa que ele sempre teve orgulho de não ter. Ela foi uma guerrilheira, uma terrorista para os mais idosos. Uma candidata desse nível – que ainda por cima não tem carisma e pode ter uma saúde frágil – é simplesmente incapaz de agradar a flamenguistas e corintianos.

sarney-chefao

O fato é que Dilma era uma poderosa Ministra de Minas e Energia, um setor que – tal como o Maranhão e o inventado estado do Amapá – está há muito tempo  sob influência de Sarney e família. Isso sim explica tudo. Quem escolheu Dilma, tanto como ministra quanto como candidata foi o clã do Bigodão. E dane-se o PT, que elegeu Lula,  e deveria ser o principal partido do governo.

corrupcao

Agora não é mais “Partido dos Trabalhadores”. É Partido dos Traidores. O PT deu Perda Total mesmo.

Hapax Legomenon

Hapax Legomenon não é nenhuma espécie de legume nem de animal. Tampouco é o nome de alguma banda desconhecida.

Hapax Legomenon vem do grego “ἅπαξ λεγόμενον” e significa “algo dito apenas uma única vez”. Assim, esse é o nome de um fenômeno linguístico bastante curioso: as palavras que fazem uma aparição única numa determinada obra, numa língua e, também, são aquelas palavrinhas que são usadas uma única vez por certo autor. Eis alguns exemplos:

  • NORTELRYE (inglês) – o mesmo que “educação”; usado apenas uma vez por um único autor, Geoffrey Chaucer, poeta medieval e considerado por alguns como Pai da Literatura Inglesa.
  • AUTOGUOS [αυτογυος]  (grego arcaico) – possivelmente refere-se a algum tipo de aragem; aparece apenas uma vez na obra de Hesíodo. Ainda há dúvidas quanto ao significado exato.
  • SLÆPWERIGNE (inglês arcaico) – aparece apenas no Livro de Exeter, um dos mais antigos da língua inglesa, escrito em 960 ou em 990. O significado exato  da palavra não é conhecido. Há quem diga que é algo como “cansado e com sono”.
  • FLOTHER (inglês) – aparece apenas num manuscrito de origem obscura, datado do fim do século XIII. É o mesmo que “floco de neve”.
  • PANAORIOS [παναωριος] (grego arcaico) – Significa “muito fora de época” ou “muito fora de tempo”. Um dos muitos Hapax Legomena (esse é o plural) da Ilíada.
  • HONORIFICABILITUDINITATIBUS (inglês via latim) – Parece um palavrão, não é mesmo? Originária do latim, é a mais longa palavra inglesa com alternância de consonantes e vogais. É o plural ablativo de honorificabilitudinitas, que pode ser traduzido como “o estado de ser capaz de alcançar honras”. É uma Hapax Legomenon em inglês pois foi usada apenas por Shakespeare na seguinte estrofe de Trabalhos de Amores Perdidos, uma das primeiras comédias do Bardo de Avon:

“O, they have lived long on the alms-basket of words.
I marvel thy master hath not eaten thee for a word;
for thou art not so long by the head as
honorificabilitudinitatibus: thou art easier
swallowed than a flap-dragon.”

Costardo, Trabalho de Amores Perdidos, Cena 1 do 5º Ato.

  • SUMMERSETS (inglês) – é usada uma única vez em toda a obra dos Beatles. Aparece na música "Being for the benefit of Mr Kite", do famoso Sergeant Pepper's Lonely Hearts Club Band.
    É uma variante vitoriana de "somersaults" e teria sido encontrada por John Lennon num cartaz amarelado de um velho circo. Significa “dar um salto mortal” e tem origem francesa. Vem de sombresault, que, por sua vez é uma variação de sobresault. Assim, também pode ser traduzido como “sobressaltar”.

Hapax Legomena são muito comuns em textos bíblicos e, obviamente, em escritas que ainda não foram inteiramente decifradas, como é o caso dos hieróglifos maias, a única linguagem escrita da América Pré-Colombiana. A ocorrência constante de Hapax Legomena nesses casos dificulta ainda mais os trabalhos de decifração e tradução. Eis alguns curiosos exemplos bíblicos (esses você pode encontrar em casa!):

  • LILITH (לילית) – a única ocorrência no Velho Testamento está em Isaías 34:14. Em português, traduz-se por “animais noturnos”. Em inglês usa-se “corujas”.
    Mas, segundo a Cabala judaica,  Lilith é um dos mais obscuros personagens bíblicos, e teria sido a primeira mulher de Adão, antes mesmo de Eva. Para as antigas lendas hebraicas, Lilith teria se rebelado contra o sistema patriarcal pois se negava a deitar-se debaixo de Adão. Hoje, alguns a consideram como a primeira feminista. 
    Para manter o establishment, Deus teria enviado ao Éden dois anjos: Eva e Samael. Este teria tentado Lilith, sem obter sucesso. Mas Eva teria sido bem-sucedida ao seduzir Adão e ter filhos com ele.
    Enfurecida, Lilith passou a tentar destruir a humanidade recém-formada. Assim, ela – e não o diabo –  seria a serpente que tentou Adão e Eva e causou a expulsão da humanidade do Jardim do Éden.
  • GVINA (גבינה) – também ocorre apenas no Velho Testamento, em Jó 10:10. Normalmente é traduzido como “queijo”. Apesar de se referir a algo comum, essa palavra não existe no hebreu moderno e por isso é uma Hapax Legomenon.
  • GOPHER ou GOFER (גפר) – é parte da expressão madeira de Gofer,  material com o qual a Arca de Noé teria sido feita (segundo Gênesis 6:14). Há muita controvérisias sobre o que seria Gofer.
    Há quem defenda que seria uma espécie de árvore já extinta (obviamente, extinta durante o Dilúvio). Outros dizem que Gofer quer dizer simplesmente “cipreste” e não teria sido entendida corretamente pelos vários tradutores da bíblia.
    De fato, a Septuaginta Grega do século III a.C.  traduz o termo como  xylon tetragonon ou “madeira quadrada”.
    Mais tarde, a Vulgata Latina do século V  fala em lignis levigatis (ou lævigatis), que é algo como “madeira macia e aplainada”.
    Estudiosos judeus acreditam que Gopher é uma tradução para o hebraico de gushure i erini (“grãos de cedro” em Babilônio) ou de giparu (“junco” em Assírio).
    Outras sugestões de tradução:  “pinho”, “junípero”, “acácia”, “ébano” e até “piche”, o que faria “madeira de Gofer” transformar-se em “madeira com piche”.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Pandemia de Pânico

Tá todo mundo em pânico! E só por causa de uma gripe. Uma gripe nova, claro, mas nada além de uma gripe. A gripe comum já mata cerca de meio milhão de pessoas por ano e niguérm se desespera por isso. Talvez por que já haja vacinas prontas. Ou talvez por que a maior parte dos mortos pela “velha” gripe sejam pessoas idosas que ainda se recusam a se vacinar.

A taxa de letalidade da Gripe H1N1 é apenas um pouco maior que a comum. E ela é capaz de afetar – e matar - pessoas jovens por que ainda se trata de um vírus (quase) desconhecido, contra o qual as gerações mais jovens não têm defesa. O H1N1 é basicamente o mesmo vírus que causou a maior epidemia desde a Peste Negra: a Gripe Espanhola, que matou 50 milhões de pessoas em 1918-1919.

h1n1-1918 Gripe Espanhola: Condições precárias foram a causa de tantas mortes.

RELATO DOS FATOS ANTECEDENTES

Porém, é preciso levar em conta o contexto histórico daquela época, pois essa é a verdadeira explicação para tantos mortos. A Europa estava arrasada pelo Primeira Guerra Mundial – cada vez menos lembrada que a Segunda. Os europeus já tinham que lidar com sérios problemas, como o grande número de mortos, o declínio econômico, a agitação social e a consequente instabilidade política. Dentro desse contexto, embora já fosse possível produzir vacinas, isso era ainda mais complicado. Até porque, obviamente,  se sabia muito menos sobre gripe e outras doencças virais do que sabemos hoje. Os vírus estavam sendo descobertos e começavam a ser estudados mais ou menos nessa época. Como é que, então, iam diferenciar o vírus mais comum da nova variante letal, se nem existiam microscópios eletrônicos ou exames genéticos? O DNA só foi descoberto 44 anos depois.

Portanto, a Gripe Espanhola só foi assim tão mortífera porque aconteceu no momento errado e começou a se manifestar no lugar errado. Outras epidemias de gripe do século passado foram bem mais amenas, como a Gripe de Hong Kong em 1968 e a Gripe Russa de 1976-77. Ao contrário do que aconteceu com a economia, que sempre se esquece de suas crises, os epidemiologistas puderam evitar o pior nas epidemias mais recentes por que já sabiam o que tinha dado errado com a Gripe Espanhola. Há, ainda o fator evolutivo por trás de cada epidemia de gripe.

Embora não sejam propriamente seres vivos, os vírus estão sujeitos aos mecanismos da evolução. Afinal, são apenas fragmentos replicantes de código genético. Assim, podem passar por mutações que favoreçam ou dificultem sua reprodução. No começo desta década, tivemos o surto de Gripe Aviária, causada pelo vírus H5N1. Muitos analistas – ou seriam sensaciolistas – previram uma nova catástrofe comparável à Gripe Espanhola.

Talvez fosse até pior. A Gripe das aves surgira no continente asiático, o mais populoso do mundo. Aves migratórias poderiam levar a doença para a América e a Europa. E os novos meios de transporte poderiam atuar como eficientes vetores da nova doença para o mundo todo.

Só que se esqueceram de algo muito simples: aquela gripe tinha um ciclo de infecção sustentável e alta taxa de letalidade apenas entre as aves. Foram registrados poucos casos de contágio de pessoa para pessoa. Menos casos ainda foram registrados fora da Ásia. Pouco mais de 250 pessoas morreram. O cenário apocalíptico foi uma grande decepção para os crentes na proximidade do fim do mundo.

A Gripe Asiática foi um tremendo fiasco justamente por ser muito letal. Tão letal que o H5N1 não teve tempo de “aprender” a se espalhar de pessoa pra pessoa e acabou morrendo junto com seus infectados. É, até os vírus podem agir de forma idiota – aparentemente idiota,  pois não contam com qualquer tipo de consciência.

swineflu “Olá, eu sou o H1N1!”

APOCALIPSE NOW!

Mas tanto os “cavaleiros do apocalipse” quanto os sensacionalistas – boa parte da mídia incluída – se animam quando uma nova epidemia de uma gripe totalmente nova surge no México. Quando a doença cruza a fronteira com os EUA, parece que o fim do mundo está próximo! Os antiamericanistas se rejubilam – silenciosamente, é claro.

Cerca de 2.000 pessoas morrem, e a chamada gripe suína chega ao Brasil via Argentina. Aqui, são cerca de 1.586 infectados e apenas 192 mortes. [fonte]. Mas os constantes esclarecimentos e os dados divulgados pelo governo não podem ser verdade. Eles devem estar escondendo alguma coisa além dos atos secretos. E começam a surgir e a circular e-mails e videos conspiracionistas que prestam um verdadeiro desserviço ao divulgar infomações falsas com o simples propósito de espalhar pânico e medo. 

Com que resultado? Aulas são suspensas, festas são evitadas, viagens são canceladas. Máscaras cirúrgicas –que deveriam ser utilizadas apenas pelos portadores de casos confirmados – se tornam item obrigatório na coleção outono-inverno. Lavar as mãos se torna uma rotina paranóica. As pessoas correm às farmácias em busca de antivirais. Onde foi parar a nossa racionalidade? Por que é tão difícil parar e pensar um pouco durante uma epidemia, seja ela qual for?

A AIDS tem 25 milhões de contaminados e milhões de mortos em 25 anos e as pessoas, principalmente os homens, ainda se recusam a usar preservativo. Mas quando surge uma gripe desconhecida ninguém recusa uma máscara, né? Ano após ano a dengue , doença incurável e sem vacina, que afeta a vida de milhões de brasileiros e até mata alguns milhares, mas ninguém quer se responsabilizar por previni-la, apesar das insistentes campanhas educativas em todas as mídias e nas escolas. Mas é só aparecer uma doença nova – porém facilmente curável – que todo mundo se recobre com os maiores cuidados.

HIGIENE MA NON TROPPO

Não se pode reclamar da higiene do mundo moderno. Felizmente, até as pessoas mais humildes e menos instruídas sabem que sujeira é fonte de doenças. Mas será assim tão seguro lavar as mãos o tempo todo. Se não tivermos contato com um vírus ou um pedaço de vírus que seja, mesmo morto, como vamos desenvolver resistência a eles? Vamos esperar as vacinas ficar prontas? Vamos correr às farmácias ao menor sinal de gripe? E depois, quando surgirem vírus resistentes, o que faremos?

Nova Gripe, Gripe A(H1N1), Gripe Suína, Gripe Mexicana. Qualquer que seja o nome, ela não é nada mais que uma gripe. E como toda a gripe, não vai causar o fim do mundo, vai simplesmente passar. Mantenha as mãos limpas, mas nem tanto. Porque se sujar faz bem. Mantenha-se hidratado, mas nem tanto. Espirre à vontade (Aaaaatchooôuuumm!!!), mas nem tanto. Por que o que mata mesmo são os excessos. E vivemos num mundo cheio de excessos – a começar pelo excesso de pânico.

LEITURAS RECOMENDADAS

domingo, 16 de agosto de 2009

A Fé remove montanhas…

dahorablogigrejauniversrz3

…de dinheiro! E, milagrosamente, transforma centenas de  milhões de reais em mansões em Campos do Jordão, Miami, Redes de Rádio e Televisão (Rádio e TV Record, Rede Mulher Record News, Record Internacional) , carros importados e jatinhos.

Se tudo isso pertence à Igreja Universal do Reino de Deus, e não aos seus líderes, qual a necessidade de acumular tantos bens? Pra onde foi a tão falada abnegação cristã? Ah, sim, claro, todo o dinheiro vai para obras de caridade ou para a construção de templos (que milagrosamente não desabam)… Sei. Mas essas mansões são usadas para dar abrigo aos mendigos e  aos desabrigados?  Ou para dar amparo aos desempregados que não conseguem pagar o aluguel (tipo o Seu Madruga)?

Pra quem ainda não sabe como é humilde o lar de Edir Macedo, eis algumas fotos:

mansão edir macedo

desabrigado na lareira Algum sem-teto diante da lareira?

jantar mendigosCadê a ceia especial para os mendigos famintos? E os mendigos? 

crianças sem banhoCrianças de rua tomando banho? Aqui?? 

Esses carros importados servem para transportar gratuitamente doentes e inválidos até os hospitais? Transportam os bóias-fria até a roça? E os jatinhos? Trazem os miseráveis migrantes nordestinos para  São Paulo? Levam os aposentados abandonados pela família para o exterior, em busca da cura de um câncer ou de um tratamento para o Mal de Alzheimer?

As redes de rádio e TV, inclusive internacionais, servem como espaço de expressão dos pobres, dos favelados e dos oprimidos? Dão voz e espaço aos famintos africanos ou às mulheres muçulmanas?  Ou são apenas mais uma fonte de lucro para os bispos que dirigem a Rede Record e suas afiliadas?

Porque a Record não mostra o vídeo acima?

Aliás, se esse império midiático é independente como afirma ser, porque tomou as dores da IURD e, ao invés de noticiar os fatos tal qual são, ataca a concorrência de forma ruidosa e indiscriminada?

Eles afirmam, por exemplo, que a Rede Globo está por trás de todas essas acusações – que ainda seriam falsas – só por que está desesperada diante do crescimento da concorrência. Mas quem parece mais desesperado? Quem está fugindo da realidade com acusações falsas? Se todas as acusações contra a quadrilha de Edir Macedo fossem realmente inventadas, por que os principais jornais e revistas do Brasil e do exterior publicaram-na? Porque o Ministério Público acreditou nelas?

Aqueles que acreditam no “conspiracionismo global” são, no mínimo, muito ingênuos. Por que pode até ser que a Globo seja capaz de impor seu ponto de vista sobre um ou outro meio de comunicação. Mas será que isso seria possível até mesmo em meios de comunicação rivais, como o SBT? Ou até do exterior (a quem realmente não interessaria nada ver a Record ameaçada)?

A Globo pode ter muito poder, mas não é nem deus nem o diabo – coisas que, aliás, não existem no mundo real. Mas os ingênuos acreditam – e insistem em acreditar orgulhosamente – nisso tudo. E, além de abrir mão do senso crítico e do pensamento próprio, também perdem os próprios recursos, muitas vezes os parcos recursos, em nome da fé.

bispo-edir-macedo

O que é pior: manipular as crenças das pessoas e ainda cobrar por isso ou esconder fatos nebulosos sobre o passado?

Para quem (ainda) não sabe, a Globo também tem problemas – tão sérios quanto os da Record. Acusa-se a “Vênus Platinada” de ter sido financiada por um grupo norte-americano – o Time-Life – durante os seus primeiros anos, no fim da década de 60. É o chamado Caso Time-Life, que deu até CPI, em plena ditadura militar. Ora, a participação de grupos estrangeiros em empresas de comunicação braseiras era – e ainda é – expressamente proibida. Assim, a Globo teria “nascido” de forma ilegal. E mesmo sendo “bastarda” ainda teria sido amplamente beneficiada pelo governo militar (1964-1985). É fato que a Globo nada fala sobre isso. Mas também é fato que ninguém tem o direito de criar provas contra si mesmo. Isso seria estupidez, e ninguém na Globo é estúpido (com exceção dos BBB’s).

A Globo está apenas na defensiva, não na ofensiva. E, embora tenha conseguido proibir a veiculação televisiva do documentário inglês “Muito Além do Cidadão Kane”, hoje ele é facilmente disponível através da internet, até mesmo para download. E, ao contrário da Daniela Cicarelli, a Globo não mandou deletá-lo – pelo menos por enquanto, diriam alguns.

Certamente, se Globo mandasse deletá-lo, o assunto que ela esconde tão zelosamente poderia voltar à tona através de muita publicidade negativa. Por que todo mundo iria perguntar o que a Globo não quer mostrar. E, de uma forma ou de outra, o vídeo acabaria voltando pra internet, da mesma forma que aconteceu com a trepada da Cicarelli na praia.

Cectic 29 – Carpe Diem

Depois de um longo período fora do ar, essa série que mistura humor e ceticismo está de volta!

então viva!

Clique para ampliar.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Conflitos Esquecidos - Guerra Elétrica

Entre o fim do século 19 e o começo do século 20, há pouco mais de 100 anos, a eletricidade ainda era uma novidade e havia muito debate sobre como ela deveria ser gerada e distribuída. Quanto à distribuição, por exemplo, não havia dúvidas em usar correntes de alta tensão. Mas havia, especialmente nos Estados Unidos, uma grande controvérsia sobre o tipo de corrente mais adequado à transmissão de energia por longas distâncias.

GÊNIOS EM PÉ DE GUERRA

Há dois tipos de corrente elétrica: a corrente alternada (AC, em inglês) e a corrente contínua (DC, ou corrente direta, em inglês). Os debates nos Estados Unidos envolveram gente grande e foram muito acalorados. Thomas Edison era um ferrenho defensor da corrente contínua. No outro lado do ringue, lutando pela corrente alternada,  estava o seu descobridor – Nikola Tesla – apoiado pela primeira grande companhia elétrica do mundo – a Westinghouse.

Thomas_Edison N.Tesla

Edison (à esq.) vivia em pé de guerra com Tesla (à dir.), que saiu de sua companhia, a General Electric, para trabalhar com seu arqui-inimigo, Westinghouse.

Hoje pode parecer uma disputa bastante inofensiva, mas a coisa foi mais feia do que se pode imaginar. Edison acreditava que a AC era perigosa demais para estar à disposição do público. Para conquistar corações e mentes para a corrente contínua, o Gênio da Lâmpada Elétrica eletrocutava cães e gatos de rua usando corrente alternada. Depois das demonstrações, ele dizia que os animais tinham sido “Westinghoused” (algo como “westinghousados”).

Além disso, em 1890, Edison financiou – secretamente – a primeira cadeira elétrica, que funcionava em AC. Os técnicos responsáveis pela primeira execução não acertaram a voltagem da primeira corrente e o condenado sofreu graves ferimentos, mas sobreviveu. Em seguida ele foi morto numa nova tentativa, desta vez “bem sucedida”. Segundo uma testemunha da primeira execução elétrica, aquilo “foi um espetáculo terrível, muito pior que o enforcamento.”

UMA ELEFANTA SEM SORTE

Mais ou menos na mesma época havia um grande e famoso  parque de diversões em Coney Island, na cidade de Nova York. Uma das maiores – literalmente – atrações de lá era uma elefanta do circo local. Entretanto, Topsy (esse era o nome dela) estava no lugar errado e na hora errada. E fazendo coisas erradas também. Depois de matar três homens em três anos seguidos, Topsy foi condenada à morte. Por razões óbvias, o enforcamento estava fora de questão.

Thomas Edison sugeriu que fosse aplicada uma corrente – alternada, é claro – de 6.600 volts pela condenada. Então, em 4 de janeiro de 1903, cerca de 1500 pessoas compareceram ao parque de diversões para acompanhar a execução. Primeiro, Topsy recebeu sua última refeição: cenouras com 460 gramas de cianeto de potássio (para facilitar a passagem da corrente pela pobre paquiderme). Em seguida ela foi “westinghousada”. Topsy morreu rapidamente e Edison filmou todo o espetáculo. O curta “Eletrocutando um Elefante” foi exibido por Edison através de toda a América.

Os esforços de Edison e o sacrifício de Topsy foram inúteis, porém. Ele perdeu sua guerra pela corrente contínua. Pelo menos houve certa justiça nessa derrota.

O Império da Beleza e o Fim da Infância

A revista Super Interessante desse mês tem uma excelente matéria sobre a história da infância. A infância, enquanto fase da vida em que se protege e ensina, surgiu na Era Moderna da História, junto com a ascensão da burguesia. Hoje, porém, mais de um século depois da proibição do trabalho infantil, as crianças continuam a ser exploradas – e não só nos semáforos.

As crianças pobres são tão exploradas por seus pais que já se tornam até invisíveis. Mas as crianças ricas também sofrem nas mãos de seus próprios pais. A diferença está no cenário. Meninas ricas, por exemplo, sofrem nas passarelas de concursos de beleza infantil. Só nos Estados Unidos, esse tipo de evento movimenta US$ 1 bilhão [fonte]. Esses eventos se tornam cada  vez mais comuns em todo o mundo, inclusive no Brasil.

Isso tudo pra mim não deixa de ser uma forma mais sutil de pedofilia - e mesmo um incentivo indireto a essa prática nojenta e hedionda. Mas só por ser sutil, isso não significa que seja um atentado menos grave contra as crianças.

Esse Império da Beleza (e da Magreza) em que vivemos hoje se parece muito com uma religião "moderna" que busca incutir desde cedo nas crianças valores moralmente perigosos como beleza física, frivolidade ("Barbie-Girls"), ignorância ("ignorance is bliss"), indiferença, individualismo, consumismo e - por que não - desumanidade.

De que vai nos adiantar ter, em breve, a mais bela geração humana de todos os tempos se as futuras beldades forem pessoas infelizes, deprimidas, consumistas e arrogantes? Não vai ser nossa beleza - ou a de nossos filhos - que vai nos salvar do aquecimento global ou que vai garantir a "paz mundial" (bordão vazio dos discursos de misses que nem sabem do que falam).

Para piorar, sempre se explora cada vez mais cedo a beleza feminina. As mulheres conseguiram conquistar importantes posições no mercado de trabalho e até mesmo alcançar cargos importantes em governos de muitos países.

Ironicamente, porém, parece que elas ainda não se livraram completamente da cultura machista na qual foram criadas e educadas - e contra a qual lutaram há poucas décadas. Tenho certeza que entre as mães (ou talvez até avós) dessas meninas deve haver alguém que queimou sutiãs nos anos 60.

Agora as (ex-)feministas exploram aquilo que tanto criticavam - a beleza da mulher-objeto. Ou melhor, das meninas-objeto.

Quanto aos meninos, não deixa de ser notável a exploração cada vez maior nas áreas esportiva ou musical - Michael Jackson que o diga. Jogadores de futebol - cada vez mais jovens - são vendidos como se fossem mercadorias. Eles podem até receber salários depois, mas isso não deixa de ser uma forma velada e "socialmente aceitável" de escravidão e de tráfico de seres humanos.

Não há nada mais triste do que uma criança sem espontaneidade e alegria. É uma verdadeira castração psicológica de comportamentos absolutamente naturais. Uma criança séria e cobrada o tempo todo não é uma criança. Mais tarde, quando crescer, certamente vai tentar voltar à infância perdida, com resultados que podem ser tão bizarros quanto esses concursos de beleza infantil.

E tudo isso é feito em nome de fama e fortuna ou como forma de projetar nas crianças as frustações da infância dos pais, tudo aquilo que eles queriam e não tiveram (ou não puderam ter porque também foram explorados pelos seus pais). Essas crianças-sem-infância vão passar o quê para seus filhos?

As crianças já são seres frágeis por não ter condição de expressar adequadamente suas vontades próprias. Elas não conhecem o mundo, não sabem o que é exploração. Não são capazes de diferenciar fantasia de realidade. São ingênuas, enfim. Mas um dia a fantasia acaba e o final pode ser trágico.

E mesmo com uma expectativa de vida cada vez maior, a infância não está se alongando. Mas faz-se de tudo para alongar a adolescência, até mesmo rouba-se espaço da infância. Passa-se cada vez mais cedo para uma tal de "pré-adolescência", como se a infância fosse a fase mais vergonhosa da vida humana.

Somente quando criança o ser humano é verdadeiramente livre - livre de dogmas, de preconceitos, de obrigações econômicas e políticas. Livre, enfim, para ser como verdadeiramente é e para ser como todos são. Por que cada um de nós é único, mas também somos todos iguais. Ou pelo menos é assim que as coisas deveriam ser.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Fica a Dica (1) - Dicas para aprender inglês (quase) sozinho

Falar – e escrever –, comunicar-se em inglês hoje é quase fundamental. Entretanto aprender uma segunda língua não é fácil. Mas é uma experiência útil que pode se tornar até mesmo um prazer. Tudo depende, é claro, da maneira como se aprende e do interesse que se tem.

Antes de começar a passar as minhas dicas, vou escrever um pouco sobre minhas experiências com o aprendizado de inglês.

Se você quer aprender inglês só para conseguir boas notas no colégio, provavelmente jamais vai compreender bem as estruturas e os meandros da lingua franca do mundo contemporâneo. Não importa se você estuda em escola pública ou privada.

Em ambos os casos, o ensino de inglês é, no mínimo, deficiente – e por diversos motivos. Digo isso por que conheci os dois sistemas. Em escolas públicas são comuns os casos de professores com formação deficiente ou inadequada.

Não é raro encontrar por aí professores que dão aula de inglês mas são formados apenas em pedagogia, letras (apenas “letras portuguesas”) ou até mesmo cursos totalmente distintos  como artes, por exemplo. Tais professores tendem a ser extremamente ruins pois lidam com algo que claramente não conhecem bem e podem até ser profissionais infelizes. Isso, por si só, já pode desanimar a maioria dos alunos.

Em escolas particulares, é muito comum encontrar professores com boa formação, que fizeram até intercâmbio e falam inglês for sure. O problema, entretanto, pode estar em métodos de ensino ineficientes e pouco estimulantes, além do perigo de se prender apenas àquilo que as apostilas tratam.

Em ambos os sistemas de ensino há um erro em comum: procura-se ensinar a ler, tenta-se ensinar a escrever, mas raramente há esforços no sentido de ensinar e praticar o inglês falado (e ouvido). Foi após uma aula inteiramente dada em inglês que eu me dei conta que não poderia mais resistir ao aprendizado daquela língua estrangeira.

Até então eu odiava o inglês,  por razões ideológicas e por pura ignorância, além de um certo desprezo. Mas eu percebi que se as aulas inteiramente dadas em inglês se repetissem – e se repetiram, às vezes – eu acabaria perdido se não me interessasse de verdade. Assim, deixo desde já uma dica a quem ensina inglês: tentem praticar e estimular a conversação desde o começo. Isso é bom por dois motivos:

  1. estimula a curiosidade e chama a atenção dos alunos ao mostrar que o inglês não é uma língua apenas praticável, mas extremamente prática e mais simples do que pode parecer; e como todos sabem, a prática leva à perfeição.
  2. o que o mercado de trabalho exige de verdade é o inglês falado – fluentemente falado; as entrevistas em inglês não são feitas por escrito.

As dicas que vou passar abaixo são frutos de minhas próprias experiências e reflexões como um estudante autodidata que odiava a língua inglesa, mas se apaixonou pela língua de Shakespeare à medida que a compreendia.

Ressalto que não sou um professor – muito menos um profissional - e que as técnicas que eu adotei podem ter resultados muito variáveis, pois dependem muito do esforço próprio, do interesse pessoal e da dedicação.

1) Conheça a sua Própria Língua

Se você já não fala português corretamente, não escreve direito e não gosta de ler, dificilmente vai ser capaz de aprender uma segunda língua, qualquer que seja ela. Isso pode ser corrigido com boas e múltiplas leituras, para ampliar o vocabulário, aprender a escrever e a falar em bom português.

Se você não gosta de ler, o ideal é começar lendo algo que te interesse. Se não tem um interesse definido, defina-se! Se não conhecer nenhum livro ou revista interessante, peça dicas a amigos ou professores que gostem de ler.

Mas é preciso ter cuidado para não prender a leitura a apenas um assunto ou a um tipo de mídia. Leia de tudo um muito, de enciclopédias a bulas de remédio e rótulos de shampoo, passando por gibis, jornais, livros e revistas, além de sites e blogs (orkut e fotologs não valem).

Se você não tem condição de comprar livros novos, leia o que estiver à mão, mesmo que sejam poucos livros. Com o tempo, você vai ter que ler tudo de novo por falta de material. Isso pode parecer chato e até mesmo idiota, mas depois de algumas releituras você acaba, pelo menos, desenvolvendo uma boa memória, pois vai se lembrar das histórias.

Outra opção é comprar livros e revistas usados em sebos ou baixar e-books na internet. Os e-books, porém, ainda apresentam o sério desconforto da falta de portabilidade, pois você precisa de um computador (e eletricidade) para lê-los.

2) Aprofunde-se

Não se contente com o que aprendeu na escola. Tome por base o que aprendeu na sala-de-aula para mergulhar de cabeça na cultura inglesa (ou de qualquer outro idioma). Procure aprender expressões idiomáticas, provérbios e ditados populares, gírias e até mesmo palavrões. Tudo isso é muito útil, mas raramente é ensinado nas escolas por um certo “pundonor excessivo” ou por pura falta de tempo.

Para aprofundar-se, vai ser preciso, pelo menos, saber ler e compreender o inglês escrito, pois é recomendável o acesso a sites gringos. Mas tudo fica mais fácil – e mais agradável - se você usar músicas e/ou filmes para começar a aprender.

Procure conhecer as letras das suas músicas estrangeiras preferidas. Diversifique o seu repertório: quanto mais diverso forem os sons que você ouve, mais você vai aprender a notar diferentes rimas e pronúncias – o inglês, como todas as línguas, também tem seus sotaques.

Uma dica que recebi de um professor de química (!!) foi assistir a filmes legendados várias vezes. Na primeira vez, você pode se concentrar nas legendas para acompanhar a história. Na segunda, pode tentar ouvir as falas e, só em caso de dúvida, recorrer à legenda. Se for um DVD e tiver opções de legendas e áudio, pode-se assistir o filme mais uma vez, agora com legendas e áudio em inglês. É sempre interessante descobrir a verdadeira voz dos atores – às vezes é até desanimador comparar as vozes originais com versões dubladas totalmente diferentes.

3) Leia, Traduza e Escreva

Não se desanime diante de um texto em inglês, qualquer que seja o tipo de texto. Leia-o quantas vezes for necessário para entendê-lo. Se for preciso, tenha um dicionário à mão. Leia os dicionários também. Tal como em português, mantenha a leitura diversificada. Leia sobre tudo o que puder. Explore a internet. A imensa maioria dos sites e blogs é escrita em inglês. Tente também aprender algo útil com instruções em inglês – de programar o DVD até desenhar.

Após estar familiarizado com o inglês escrito, comece a traduzir. Mas não seja preguiçoso. Não use tradutores eletrônicos como o Google ou o Babylon. Eles ainda são muito ineficientes pois se baseiam em poucas definições entre línguas diferentes, o que resulta em traduções muito pobres que acabam ficando sem sentido.

O ideal é começar a treinar a tradução pelas letras de música, que normalmente são curtas e têm vocabulário bastante diversificado (afinal, músicas repetitivas são um saco). Mas tenha o cuidado de não tentar forçar a tradução de músicas (ou poesias). As rimas inevitavelmente se perderão e o ritmo acabará sendo diferente, mesmo que você já tenha um amplo vocabulário tanto em português quanto em inglês.

Você também pode encontrar muitas surpresas. Músicas que parecem alegres podem ter letras tristes ou músicas que soam inofensivas podem ter letras pesadas. Procure ouvir não só o ritmo que você gosta, preste a atenção às letras, especialmente às que trazem mensagens positivas ou que sejam divertidas. Da próxima vez que tentar cantar, você vai saber o que a música quer dizer – além, é claro, de aprender a cantar sem embromation.

Procure escrever algo em inglês. No começo é difícil, especialmente quando ainda não se domina bem as estruturas verbais e o vocabulário que se tem é restrito. Tente, pelo menos. Não se desanime com seus erros. É normal, pois foi assim que você começou a escrever em português também (lembra-se dos garranchos das primeiras séries?).

Outro ponto importante na hora da escrita é a ortografia. O inglês tem uma ortografia muito diferente da pronúncia. Letras mudas são comuns. Letras com som de outra, mais ainda. Resista à tentação de escrever como se fala. Desse jeito você pode até fixar a pronúncia, mas nunca vai ser capaz de escrever em inglês. Respeite também as regras gramaticais. O inglês tem menos tempos verbais que o português e muitas vezes a ordem das palavras é diferente. Uma simples troca na ordem das palavras pode mudar completamente o sentido da frase. Assim, jamais tente montar uma frase em inglês com a estrutura gramatical portuguesa.

4) Ponha o seu Inglês (e seu Cérebro) para Funcionar

Mesmo que você tenha aprendido a ler e até a escrever em inglês, todos os seus estudos e esforços serão inúteis se você não aprender a falar e a ouvir inglês. Algumas pessoas aprendem primeiro a ler e a escrever em inglês, outras já começam logo a falar e a compreender a língua falada. Assim, procure estudar com alguém, para poder praticar a conversação quando se sentir seguro. Se puder ser alguém com um  ritmo ou modo de aprendizado diferente, é melhor. Se for alguém do sexo oposto será melhor ainda – a não ser, é claro, que você seja gay.

Um passo fundamental e talvez indispensável para comunicar-se em inglês é aprender a pensar em inglês. Por que pensar em uma língua para falar em outra é um processo muito complicado, que pode causar muitos erros e mal-entendidos. Tente começar a pensar com sentenças curtas. Tente expressar sentimentos ou evocar memórias em inglês. Faça traduções mentais do português para o inglês dos textos que lê ou das falas que ouve. Imagine algum ídolo brasileiro falando inglês. Tente imitá-lo. Só não vá imitar o Joel Santana, por favor.

5) Links Úteis

Newseum | Today’s Front Pages | Map ViewSite que mostra as primeiras páginas dos principais jornais do mundo. Útil não só para quem quer aprender inglês.

Mygazines.com - upload. share. archive. – Site de compartilhamento de revistas em diversos idiomas.

Drawspace.com - Drawing lessons – Lições de desenho e fóruns grátis para usuários cadastrados (em inglês)

livemocha.comOferece cursos gratuitos de inglês e várias outras línguas.

Letras de músicas - Letras.mus.br Bom lugar para procurar letras de música (D’oh!). Tome cuidado com as traduções disponíveis neste site, pois muitas são duvidosas ou até mesmo incompletas.

StumbleUpon: Personalized Recommendations to Help You Discover the Best of the Web Ou seja: Recomendações Personalizadas para te Ajudar a Descobrir o Melhor da Web. Plug-in para Firefox e Internet Explorer que seleciona sites aleatoriamente de acordo com suas áreas de interesse e suas opções de língua. Altamente recomendável.

Espero apenas que estas dicas, apesar de não serem tão curtas, sejam claras e úteis para alguém. Se tiverem mais dicas para aprender inglês ou mesmo outra língua, por favor, colaborem e deixem um comentário.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Meio Bastardo

De acordo com o matemático Eugene Northrop, entre 1907 e 1921, na Inglaterra, um homem poderia legalmente casar-se com a irmã de sua falecida esposa, mas era ilegal o casamento entre uma mulher e o irmão do falecido marido.

Agora suponha que dois irmãos gêmeos se casem com duas gêmeas. Um marido e uma esposa morrem e, após um intervalo decente, o homem e a mulher que sobreviveram se casam. Para o homem, tal casamento é legal; para a mulher é ilegal. Assim, se eles tiverem um filho, ele será legítimo para o pai e ilegítimo para a mãe.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O mais triste filme d'O Gordo e o Magro

O vídeo a seguir, feito em 1956, mostra as últimas imagens de Stan Laurel, o "Magro" e Oliver Hardy, o "Gordo" - a famosa dupla que fazia os personagens dos clássicos esquetes cômicos.


Mesmo se tratando de um filme caseiro, eu ainda pensei que seria cômico. Mas a idade chegou para os dois - e as cores também. Parece-me que quem fez comédias mudas e em preto-e-branco perde toda a graça em filmes coloridos e com som.

É preciso ter em mente que o que vemos aqui não são “O Gordo e o Magro" e sim os melhores amigos em momentos agradáveis - os homens simples por trás dos personagens geniais.

Ver o "Gordo" assim tão magro e aparentemente saudável numa época em que não havia tanta preocupação com a saúde e também não existiam nem dietas milagrosas vendidas pela TV nem lipoaspiração é bastante irônico. Mais irônico ainda é saber que mesmo assim ele morreu de derrame um ano depois. Outra ironia é que o "Magro", embora tenha vivido mais, morreu de infarto, coisa mais comum entre os gordos.

O mais imperdoável para mim é que, apesar da fama e do sucesso, eles jamais foram devidamente recompensados em vida - eles não se tornaram milionários pois, curiosamente, não detinham os direitos sobre os curtas que fizeram.

Se bem que, pelo visto, eles foram capazes de manter-se felizes e unidos até o fim, mesmo sem as glórias e as riquezas de Hollywood. Uma verdadeira lição nestes tempos de hoje, em que todos querem ser celebridades sem muito esforço e esbanjar riquezas que se evaporam rapidamente.

Vi vídeo no Saber é bom demais, que o achou no Metamorfose Digital.

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